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Carol Neves
Publicado em 7 de abril de 2025 às 11:20
O juiz Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, atualmente acusado pelo Ministério Público de São Paulo de usar identidade falsa por quatro décadas, havia se manifestado em diversas sentenças sobre a vulnerabilidade dos documentos de identificação brasileiros. Seis decisões mostram que o magistrado, cujo nome verdadeiro seria José Eduardo Franco dos Reis, frequentemente destacava a "notória facilidade de se fraudar documento de identidade, dada a fragilidade dos mecanismos de segurança". As informações foram divulgadas pelo colunista Rogério Gentile, do Uol. >
Os comentários foram feitos em processos envolvendo vítimas de falsificação de identidade. Em 2013, ao julgar ação de uma dona de casa contra o Santander, o juiz determinou que o banco pagasse R$ 13.560 por danos morais após a instituição alegar ter sido enganada por documentos falsificados. "Cabia ao réu cercar-se de cuidados para perfeita identificação daquele que se apresenta como postulante ao crédito", escreveu na sentença. Padrão semelhante se repetiu em casos contra TIM, Eletropaulo, Lojas Cem, Claro e Atlântico Investimentos. >
A ironia das decisões ganha novo significado diante da acusação do MP-SP. Segundo a denúncia de fevereiro, Reis teria criado a identidade de "Edward" em 1980, aos 22 anos, usando o RG fraudulento para ingressar na Faculdade de Direito da USP e posteriormente (em 1995) passar no concurso para magistrado, cargo que exerceu até a aposentadoria em 2018. >
Questionado pela polícia, Reis apresentou versão inusitada: afirmou que Edward seria seu irmão gêmeo doado pelo pai ao nascer e que só o conheceu quando o suposto irmão veio da Inglaterra nos anos 1980. Disse ainda que o homônimo teria retornado à Europa após a aposentadoria. O Ministério Público rejeitou a explicação. "De forma ardilosa, por mais de 40 anos, ele enganou quase a totalidade das instituições públicas e traiu jurisdicionados", afirmou o promotor Maurício Salvadori na denúncia. >