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Vitor Rocha
Publicado em 17 de novembro de 2024 às 19:45
Rafaela Silva, de 21 anos, viveu momentos dramáticos após perder cerca de R$ 500 mil em apostas no Aviator, conhecido como “jogo do aviãozinho”. A jovem enfrentou crises de abstinência e comportamentos agressivos em meio à luta contra o vício no cassino online, que opera por meio de rodadas de apostas.
Em entrevista à revista Marie Claire, Rafaela, natural de Limeira, São Paulo, contou que começou a jogar em 2021, logo após atingir a maioridade. Na época, ela se mudou para Minas Gerais e passou a trabalhar com conteúdo adulto, gerando uma renda média de R$ 6 mil por noite. Foi nesse período que notou propagandas do Aviator na plataforma Privacy, onde publicava seu trabalho, e decidiu experimentar o jogo.
No início, Rafaela chegou a faturar entre R$ 1 mil e R$ 2 mil por semana com o cassino online. No entanto, com o tempo, a paulista passou a ter prejuízo, e relutava em reconhecer o vício. Após deixar o segmento de conteúdo adulto, ela viu no jogo uma chance de sustento. Em dois meses, acumulou R$ 35 mil, mas perdeu tudo, o que a levou a retornar para a casa dos pais.
Em 2022, ela ganhou R$ 100 mil em uma noite, mas, mesmo com os apelos da mãe, optou por não sacar o valor. Pouco depois, perdeu tudo novamente. “Entrei em estado de choque, fiquei uma semana na cama, sem comer, muito mal. Cheguei a pesar 32 kg”, contou.
Problemas de saque
Tentando ajudar a filha, o pai de Rafaela emprestou R$ 4 mil, mas o dinheiro foi rapidamente usado no jogo. “Comecei a jogar no mesmo dia e só me restaram R$ 50. Mas consegui reverter a situação durante o fim de semana e alcancei R$ 500 mil. No domingo à noite, solicitei o saque”, relatou.
A retirada do valor revelou outro problema: a empresa reteve parte do dinheiro e exigiu documentos que antes não eram solicitados. “Eles começaram a sumir com meu dinheiro do nada, falavam que nunca tinha transitado na minha conta. Infelizmente a gente é só mais um nas casas de apostas”, disse. Ainda assim, Rafaela conseguiu sacar R$100 mil ao longo de dois meses.
No auge do vício, em novembro de 2023, Rafaela retornou ao estado de Minas Gerais, onde começou a extorquir pessoas próximas, incluindo os próprios pais, para alimentar as apostas. “Tomava clonazepam (medicamento ansiolítico) para dormir o dia todo, acordava e queria só jogar. Assim foi num ciclo que durou um mês”, disse.
Recuperação
A virada aconteceu quando sua mãe a levou de volta para São Paulo. Rafaela iniciou um processo de recuperação, embora tenha enfrentado recaídas e momentos de descontrole, incluindo uma tentativa de matar os pais. “Fiquei internada depois disso, mas graças a Deus a minha mãe e meu pai não desistiram. Lutaram muito e lutam até hoje por mim”, declarou.
Longe das apostas há cerca de um ano, Rafaela ainda lida com os sintomas da abstinência. “Parece brincadeira, mas não é. Às vezes meu corpo ‘formiga’, chega a tremer. É uma sensação horrível. Durante a abstinência também já tive dor de barriga, de cabeça, queimação no estômago, entre outras coisas horríveis”, revelou.
Atualmente, Rafaela comemora a mudança de vida. “Me deixa feliz saber que as minhas contas estão em dia, que amanhã vou acordar e não vou perder o dinheiro que suei o mês todo para ganhar. É uma sensação incrível, o meu maior prazer hoje é ter mudado de vida”, concluiu.