Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 22 de março de 2024 às 18:35
Neste sábado (23), o projeto Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo, em parceria com a Iniciativa Negra, lança uma análise qualitativa da pesquisa Chacinas e a Politização das Mortes no Brasil: estudo de casos.
De acordo com o sociólogo e coordenador do projeto Reconexão Periferias, Paulo Ramos, o objetivo da pesquisa é discutir como as mortes causadas por chacinas fazem parte de movimentações estratégicas de grupos que disputam territórios e outros recursos econômicos e simbólicos em todo o Brasil. "É por isso que são mortes que possuem autorias que muitas vezes são reivindicadas e assinadas. As chacinas fazem parte de um repertório de ação coletiva desses grupos, são práticas aprendidas e repassadas historicamente pelos seus membros", diz.
Segundo o levantamento apresentado no boletim, foram noticiados 42 casos de chacina com motivação de feminicídio, cerca de 111 mulheres vitimadas em razão de serem mulheres. Em chacinas com outras motivações, foram 405 mulheres vitimadas no período de dez anos, entre 2011 e 2020.
As pesquisadoras afirmam que os números sobre chacinas relacionadas ao feminicídio estavam ocultos em meio a outras motivações para homicídios, tais como disputas por território e confrontos com agentes de segurança, chacinas praticadas por grupos de extermínio e milícias, massacres ocorridos em presídios, entre outros.
A coordenadora da pesquisa e responsável pelo eixo de violência do Reconexão Periferias, Sofia Toledo, relata que no início do levantamento, em 2018, havia casos de feminicídio praticados por pessoas próximas e conhecidas, mas também muitas mulheres sendo mortas de forma violenta em operações policiais, em contextos de disputa agrária, por meio da atuação de grupos armados.
“Em muitos desses casos, a execução foi marcada por violência sexual. A pesquisa demonstra que a violência a que estão submetidas as mulheres negras e os diversos contextos em que são assassinadas não podem ser compreendidos apenas como um problema de gênero, mas como parte intrínseca da violência racial em curso”, afirma.
Sobre o recorte racial dos dados, o relatório conclui que o risco de uma mulher negra ser vítima de feminicídio e homicídio é duas vezes maior do que o de uma mulher não negra. Em 2021, foram 2.601 mulheres negras vítimas de homicídio, o que representa 67,4% das mulheres assassinadas no período, uma taxa de 4,3 mulheres negras mortas por 100 mil. Essa taxa é quase 45% maior do que a registrada para mulheres não negras, que foi de 2,4 a cada 100 mil.
Após a análise quantitativa, as pesquisadoras se debruçaram sobre dois casos de grande repercussão na imprensa: o Massacre de Realengo ocorrido em 2011, quando um ex-aluno entrou em salas da Escola Municipal Tasso da Silveira, atirando e matou dez meninas e dois meninos, e a Chacina de Campinas em 2017, quando um ex-marido invadiu a festa de fim de ano da família da ex-esposa. A tiros, matou dois homens, nove mulheres, entre elas a ex-mulher, além do próprio filho, garoto de oito anos. Os dois assassinatos evidenciam teorias masculinistas e o ódio ao gênero feminino, como justificativas para a execução das vítimas.
Durante o processo de produção do relatório, foram analisados relatos segundo os quais os atiradores participavam de grupos masculinistas, grupos estes que, on-line, atuam de forma organizada com uma comunidade internacional, chegando a incentivar os crimes.