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Da Redação
Publicado em 4 de junho de 2020 às 21:17
- Atualizado há 2 anos
A CPMI das Fake News divulgou um novo relatório na noite desta quinta-feira (4) no qual reconhece como equivocada a inclusão do jornal Gazeta do Povo em uma relação de sites que divulgam notícias falsas. "Concluímos que a inclusão do jornal Gazeta do Povo na categoria 'canais com comportamento desinformativo' foi equivocada. Nos retratamos, portanto, de ter atribuído essa classificação no anexo da informação e promoveremos a sua retirada", afirma o documento, assinado pelos consultores legislativos Cristiano Aguiar Lopes e Daniel Chamorro Petersen.
O jornal paranaense havia sido mencionada, ao lado de outros 47 veículos, em uma versão inicial do relatório, tornada pública na terça-feira (2).
Segundo o próprio veículo, o documento elaborado pela CPMI analisou sites, canais do Youtube e aplicativos para celular que haviam veiculado propagandas do governo federal e que, na análise da comissão, eram "impróprios" para tal.
A comissão qualificava como impróprios os meios que publicam notícias falsas, conteúdos inadequados, fora do público-alvo da publicidade governamental ou com violação de direitos autorais.
O relatório havia sido produzido a pedido da relatora da CPMI, a deputada baiana Lídice da Mata (PSB).
Revisão de critérios Os consultores haviam estabelecido como critério para definir um site como de "fake news" a presença de três ou mais notícias "desinformativas" publicadas no período entre 6 de junho a 13 de julho de 2019. Para que uma matéria fosse qualificada como desinformativa, deveria receber essa chancela por uma das seguintes agências verificadoras de informações: Lupa, Aos Fatos, E-Farsas, Boatos.org, Comprova e Estadão Verifica. Procuradas pela reportagem, as agências negaram terem sido consultadas.
O analista Gilmar Lopes, responsável pelo E-Farsas, destacou que nas vezes em que a Gazeta do Povo foi mencionada em seu site, foi na condição de fonte, como base para a prestação de esclarecimentos e correção de outros conteúdos. "A Gazeta é uma referência para nós", disse.
Segundo os consultores, três conteúdos publicados pela Gazeta do Povo se enquadrariam como desinformativos. Para se ter uma dimensão de volume, a Gazeta do Povo publica mais de três mil textos por mês. Porém, dois deles não corresponderiam aos critérios estabelecidos pela própria comissão.
Um é de um blog hospedado no jornal. E o outro é um artigo publicado em 7 de maio de 2020 – fora, portanto, do intervalo de tempo definido pela CPI. Os dois casos, é bom ressaltar, não poderiam ser enquadrados como notícias falsas.
No relatório, os consultores afirmam ainda que a publicação do documento inicial, que lista a Gazeta do Povo, motivou uma reprogramação dos rótulos estabelecidos pela comissão para categorizar os sites. "Percebemos a necessidade de aperfeiçoar a conceituação de 'comportamento desinformativo'. Ficou evidente a necessidade de diferenciação entre o que é eventual erro ou equívoco, natural em toda e qualquer atividade profissional, e um comportamento voltando para falsear a verdade", cita o texto.
O novo parâmetro adotado pela comissão é o de identificar como site de "comportamento desinformativo” apenas os que não detenham mecanismos de correção de seus conteúdos, não possuam canais para recebimento de reclamações e revisões de informações publicadas e que não sejam formalizados como órgão de imprensa.
Reações A qualificação da Gazeta, fundada em 1919, como veículo de fake news motivou reações de entidades jornalísticas e de políticos de diferentes partidos. Foram lembradas as realizações da Gazeta nos mais de 100 anos de atividade e os prêmios conquistados pelo jornal.
O presidente da Associação Nacional de Jornais, Marcelo Rech, classificou de "lamentável e absolutamente surpreendente" a inclusão da Gazeta na lista. "Como um membro tradicional e de destaque na Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Gazeta tem sido, ao contrário, uma adversária permanente da desinformação e um veículo de ponta na defesa da pluralidade e do jornalismo profissional", disse.
Na mesma linha, o presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Marcelo Träsel, colocou: "por sorte, se trata apenas da opinião de consultores legislativos, não de uma sentença judicial. Esperamos que o caso sirva de alerta para os congressistas que pretendem aprovar a toque de caixa, em meio a uma crise sanitária e econômica, leis sobre o tema, sem discussão ampla e tranquila com os jornalistas e com a sociedade".