Compulsão por clareamento dental pode causar problemas de saúde

O clareamento dental é um dos procedimentos mais populares nos consultórios odontológicos, com cerca de 12 milhões de brasileiros buscando o tratamento para melhorar a autoestima e o sorriso, segundo a Associação Brasileira da Indústria Médica, Odontológica e Hospitalar (ABIMO). Além disso, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) relatou, em 2019, que houve um aumento de 30% na realização de clareamentos dentais, evidenciando o crescimento deste setor. O mercado global de clareamento também demonstrou uma movimentação de milhões de dólares entre 2021 e 2024, conforme a empresa de pesquisa Technavio.

Contudo, esse aumento na busca por clareamento trouxe consigo o surgimento de um comportamento preocupante conhecido como bleachorexia. Esse transtorno é caracterizado pelo desejo obsessivo de clarear os dentes, o que pode levar a sérios danos à saúde bucal. Sérgio Brossi Botta, presidente da Câmara Técnica de Dentística do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), explica que os sintomas desse comportamento são semelhantes aos do transtorno dismórfico corporal, onde o paciente tem uma preocupação excessiva com um defeito imaginário na aparência. Pacientes com bleachorexia têm nove vezes mais chances de buscar o clareamento dental de forma compulsiva.

“É de suma importância realizar uma avaliação abrangente do paciente. Dentistas devem se comunicar abertamente e ouvir atentamente as preocupações e necessidades de seus pacientes. Uma avaliação completa do histórico odontológico e médico, discussão de expectativas e motivações para clareamento dental e avaliação de tendências dismórficas corporais podem fornecer insights valiosos sobre possíveis comportamentos viciantes”, diz o especialista, em entrevista ao Estado de Minas. 

O uso excessivo de clareadores pode acarretar sérios problemas à saúde bucal. O peróxido de hidrogênio, um dos principais componentes usados nos clareamentos, pode causar danos irreversíveis à estrutura dental, como a quebra das proteínas da dentina. Isso pode levar à erosão dos dentes, sensibilidade dental e irritações na gengiva e mucosa oral. Além disso, o clareamento dental atinge um "ponto de saturação", onde não há mais clareamento possível. Esse é o limite para o branqueamento, e a cor pode voltar devido a fatores fisiológicos, mesmo após o tratamento.

A atuação de uma equipe multiprofissional é fundamental para tratar a bleachorexia. Sérgio sugere que dentistas, psiquiatras e outros profissionais de saúde trabalhem em conjunto para tratar os aspectos psicológicos e emocionais do comportamento viciante. A colaboração entre esses especialistas pode ajudar a desenvolver um plano de tratamento personalizado e fornecer o suporte necessário para os pacientes. "A atuação multiprofissional é essencial no tratamento da 'bleachorexia'", enfatiza Sérgio, ressaltando a importância de tratar tanto os fatores físicos quanto emocionais relacionados a esse comportamento.