Coautoria de artigos científicos é vendida ilegalmente por R$100

Pesquisas de geriatria, pediatria e infectologia estão em anúncios na internet

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Publicado em 22 de outubro de 2024 às 22:35

Exercício ilegal da medicina  pode ser denunciado
Artigos são importantes para a entrada na residência médica Crédito: Shutterstock

A coautoria de artigos científicos está sendo vendida nas redes sociais por R$100, para pontuar na residência médica de estudantes de medicina, o que configura crime de falsa identidade. Nos anúncios da suposta empresa que comercializa as pesquisas, são ofertados onze espaços para assinaturas de trabalhos de geriatria, e doze de medicina preventiva, pediatria e infectologia.

As ofertas são feitas pela PublicaInovamed nas redes sociais, possibilitando o parcelamento do valor em até dez vezes. Os alunos recorreriam à compra dos artigos, teoricamente, para pontuar nas etapas além do Enare, o Exame Nacional de Residência, que consistem em entrevista e apresentação de currículo, incluindo publicação de artigos.

Por causa da venda, a Associação Médica Brasileira (AMB) publicou uma nota na última sexta-feira (18), chamando atenção para os riscos e implicações legais da compra de artigos, apresentações ou produções científicas. "Esta prática não só compromete a ética, mas também coloca em risco a carreira profissional de quem dela se beneficia. Tal prática deve ser combatida e amplamente denunciada", afirmou.

Para além das consequências criminais, por infringir o artigo 307 do Código Penal Brasileiro, a AMB também chamou atenção para as infrações éticas. “A autenticidade é um valor essencial que sustenta a confiança em nossa profissão e contribui para o avanço da medicina”, comentou.

O anúncio dos artigos foi encaminhado para o departamento jurídico da AMB, e segue sob avaliação para a possibilidade de entrada em ação judicial no caso.

O peso do artigo científico no currículo médico

O presidente da AMB, Cesar Fernandes, em pronunciamento, afirmou que os artigos buscados não são o principal ponto avaliado nos exames de residência. "Claro que o currículo como um todo vale, ele é analisado durante as entrevistas, mas não é decisivo”, comentou.

Para ele, são pontos mais relevantes a história do estudante, a visão de mundo, medicina e residência que ele possui. "É desonroso para nós médicos que uma coisa dessa possa despertar o interesse de um jovem médico ou de um estudante de medicina. Isso é vergonhoso e criminoso", afirmou.

"Estou torcendo muito para que o jovem médico não se entusiasme com algo tão vergonhoso como essa proposta de participar de um artigo sem que ele tivesse qualquer participação de mérito que justificasse a sua coautoria”, completou.