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Larissa Almeida
Publicado em 23 de fevereiro de 2025 às 14:00
Bebida alcóolica preferida dos brasileiros, a cerveja é figurinha carimbada nos almoços de domingo com a família, na resenha feita em casa ou no bar com os amigos, em programas feitos a dois ou até mesmo sozinho. Nos últimos anos, contudo, a bebida tem ganhado uma forte concorrente: a versão de si sem álcool. Ela passou a ser amplamente adotada, principalmente, por quem quer beber sem preocupação e depois pegar a estrada. Só que, recentemente, surgiram boatos de que a cerveja sem álcool pode dar problema na hora da blitz e ameaçar essa paz. >
A argumentação é de que mesmo a cerveja zero possui teor alcóolico, já que passa pelo processo de fermentação, que produz álcool naturalmente. Uma vez que a retirada da substância nem sempre seria possível, algumas atingiriam teor maior do que 0,5% – o limite permitido no teste do bafômetro. >
Roberto Márcio, que é mestre em química analítica ambiental e professor da Universidade Católica de Salvador (UCSal) confirma que, via de regra, o processo de produção de cerveja não alcóolica contém, sim, um teor alcóolico. No entanto, esse teor é baixo, já que há maior controle da fermentação por parte das cervejarias. >
Ele ainda explica que é possível criar uma cerveja 100% sem álcool através de técnicas específicas, envolvendo, por exemplo, a destilação – retirada total do álcool da bebida –, e o uso de leveduras que podem produzir uma fermentação com menor teor alcóolico. Apesar dessa possibilidade, ele reconhece que o uso dessas técnicas é um desafio. >
“A cerveja propriamente dita sem álcool, segundo os especialistas, ela pode alterar o sabor e a textura da cerveja. Então, às vezes é salutar, do ponto de vista da [qualidade da bebida], não ter esse processo mais refinado”, afirma o químico Roberto Márcio. >
A maior parte das cervejarias populares que vendem a cerveja zero permitem que o produto tenha teor alcóolico menor do que 0,5%. De acordo com Luide Souza, especialista em trânsito, se a cerveja é considerada sem álcool pelo fabricante, não há chance de existir problema. >
“[Nessas condições], o etilômetro (bafômetro) acusará zero álcool. Este aparelho mede a quantidade de álcool existente no ar que vem dos pulmões. A legislação de trânsito estabelece uma margem de erro de 0,04 ml/g”, pontua. >
Por sua vez, Júlia Mascarenhas, nutricionista da Nutrition’all, chama atenção para a quantidade ingerida. “Depende da cerveja sem álcool e da quantidade consumida. O ideal é sempre conferir o rótulo. Cervejas que têm entre 0,3% a 0,5% de álcool, se consumidos até um longneck, parece não apresentar detecção no bafômetro. Mas vale lembrar que, por mais baixo que seja o teor de álcool, ainda existe e, se somadas as quantidades, pode exceder e ter prejuízos severos”, alerta. >
Para Roberto Márcio, as chances de um bafômetro acusar álcool em um teste feito por alguém que consumiu cerveja sem álcool, mesmo que em grandes doses, são difíceis. O que pode acontecer, segundo ele, é que as versões mais caras e ultrassensíveis do aparelho detectem o álcool, mas com baixo teor – logo, impedindo problemas na blitz. >
“O que se recomenda para quem consumiu uma cerveja sem álcool e for fazer o teste do bafômetro é começar a explicar ao policial que fez o consumo da bebida. Provavelmente, [o etilômetro] vai detectar um teor mais brando e leve desse álcool”, finaliza. >