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Caso Vitória: após família apontar contradições em depoimento, polícia fará reconstituição do crime

Vitória desapareceu no dia 26 de fevereiro, quando voltava do trabalho

  • Foto do(a) author(a) Perla Ribeiro
  • Foto do(a) author(a) Estadão
  • Perla Ribeiro

  • Estadão

Publicado em 25 de março de 2025 às 08:28

Vitória Regina de Sousa
Vitória Regina de Sousa Crédito: Reprodução

A Polícia Civil de Cajamar, na região metropolitana de São Paulo, informou que vai realizar a reconstituição da morte da jovem Vitória Regina Sousa, após a família apontar contradições no depoimento do rapaz preso por suspeita de cometer o assassinato. Na gravação do depoimento, por exemplo, Maicol Antônio Sales dos Santo, que confessou o crime, afirma que desferiu dois golpes no pescoço de Vitória, mas a polícia constatou três golpes. A arma do crime ainda não foi localizada. O suspeito também afirmou no depoimento que enterrou o corpo da menina. No entanto, ele não estava enterrado.

De acordo com a defesa de Maicol, o jovem foi coagido a confessar. Já a Polícia Civil afirma que os procedimentos obedeceram ao que está previsto no Código de Processo Penal. Vitória desapareceu no dia 26 de fevereiro, quando voltava do trabalho. Segundo a perícia, ela foi vista pela última vez descendo de um ônibus próximo à sua casa. Imagens e dados do celular de Maicol indicam que ele acompanhava os passos da vítima e sabia onde ela estaria naquele momento. Ele admitiu ter oferecido carona e, segundo sua versão, ela entrou no carro por vontade própria.

No último sábado (22), os familiares e amigos de Vitória fizeram uma manifestação com faixas e cartazes, em frente à delegacia da Polícia Civil de Cajamar, apontando inconsistências na confissão de Maicol e pedindo mais investigação. Conforme o advogado da família, Fábio Costa, o depoimento do suspeito apresenta incongruências que podem ser esclarecidas durante a reconstituição. Entre as várias inconsistências, segundo aponta, está a afirmação de Maicol de que ele matou a jovem dentro do carro com uma faca que estava entre o banco do motorista e a porta do veículo.

“Matar dentro do carro e a perícia não identificar nenhuma mancha de sangue é menosprezar o trabalho da Polícia Científica. A menos que ele tenha matado em outro carro. Causaria estranheza querer fechar a investigação com uma dúvida desta”, afirma. Outra inconsistência, segundo ele, é a afirmação de Maicol de que ele teria levado o corpo da vítima em seu carro e usado uma pá e uma enxada para enterrá-lo na mata. “Eu cheguei lá com a família quando o corpo foi encontrado, antes mesmo da chegada da perícia. Não tinha sinal de terra algum. Aquele corpo não foi enterrado, nem desenterrado”, afirma Costa.

Quanto às afirmações do investigado de que ele teria convidado Vitória para entrar no carro, sem forçá-la para isso, o advogado interpreta como uma orientação que ele recebeu. “Se ela entra livremente no carro, ele se livra da acusação de emboscada, que é uma qualificadora. Da mesma forma, quando ele diz que a matou durante uma briga, ele tenta se livrar do motivo torpe. São duas qualificadoras importantes em um tribunal do júri”, diz. Segundo Costa, a reconstituição em algum momento vai trazer à tona que houve a participação de outra pessoa, como tem afirmado a família da vítima. “A reconstituição pode evidenciar que em algum momento ele teve a ajuda de outra pessoa. A investigação não está encerrada”, continua.

Irmã de Vitória, Weronica Regina de Sousa disse que a família espera que o caso não seja encerrado sem mais investigações. “Há várias coisas que não batem, inclusive (a informação) de ele ter enterrado o corpo, o que não é verdade”, diz. Segundo ela, a família acredita que há outros envolvidos que podem estar sendo acobertados. “Ela nunca entraria no carro dele por conta própria. A Vitória nunca teve relacionamento nem contato com ele, e muito menos com a mulher dele”, diz.

No depoimento, segundo o advogado, o rapaz teria alegado que chamou Vitória para conversar porque ela teria ameaçado contar à mulher dele sobre um antigo relacionamento entre os dois. A afirmação se choca com a versão da polícia sobre a motivação do crime, que seria uma obsessão de Maicol pela Vitória.

Coação

A defesa de Maicol Sales dos Santos afirma que ele sofreu coação psicológica para confessar o crime. Em nota, os defensores apontam que o depoimento foi tomado durante “o período de repouso noturno” e sem a presença dos advogados. A firmam ainda que uma perícia psiquiátrica foi agendada “sem ordem judicial” e determinada “apenas um dia após a suposta confissão de Maicol que, por si só, já está cercada de graves irregularidades”. A nota é assinada pelos advogados Flávio Ubirajara, Arthur Perin Novaes e Vitor Aurélio Timóteo da Silva.

A Secretaria da Segurança Pública diz que a Polícia Civil solicitou ao Instituto Médico-Legal (IML) a reconstituição do crime para “esclarecer todas as circunstâncias em que ele ocorreu”. Segundo a nota, o principal suspeito segue preso temporariamente após confessar a autoria do homicídio e as investigações prosseguem pela Delegacia de Cajamar para a conclusão do inquérito policial. Ainda segundo a nota, “a Polícia Civil ressalta que todos os procedimentos adotados no caso, inclusive o depoimento do suspeito, obedeceram estritamente o Código de Processo Penal”.