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Carol Neves
Publicado em 13 de janeiro de 2025 às 08:01
A mulher suspeita de matar quatro pessoas da mesma família comprou arsênio pela internet, conforme revelou a Polícia Civil. Uma nota fiscal obtida com exclusividade pela RBS TV mostra o nome de Deise Moura dos Anjos como destinatária do produto, identificado como arsênio. O documento foi encontrado no celular da suspeita, apreendido durante a investigação.
Em uma coletiva de imprensa na sexta-feira (10), a polícia confirmou que Deise adquiriu o veneno em quatro ocasiões, ao longo de quatro meses. Uma das compras foi realizada antes da morte de seu sogro, que faleceu por envenenamento, e as outras três, antes da morte de três pessoas que consumiram o bolo contaminado, em dezembro. O arsênio foi enviado pelos Correios.
A Polícia Civil afirmou que existem "fortes indícios" de que Deise tenha sido responsável por outros envenenamentos e não descartou a possibilidade de novas exumações. A investigação também inclui a morte de José Lori da Silveira Moura, pai de Deise, que faleceu em 2020, supostamente devido a cirrose, em Canoas. A polícia agora busca esclarecer o que pode ter ocorrido em outras mortes de pessoas próximas à suspeita, devido ao seu comportamento frio.
A delegada Sabrina Deffente, responsável pela investigação, afirmou que a suspeita parece ter cometido uma série de homicídios e tentativas de homicídios, sem ser descoberta por um longo período. "Ela tentou apagar provas que pudessem incriminá-la", destacou a delegada.
O arsênio, composto trióxido de arsênio, é proibido no Brasil para uso como raticida, e seu uso como quimioterápico é restrito.
A defesa de Deise, que está presa temporariamente, se manifestou alegando que as declarações feitas ainda não foram judicializadas no caso e que aguardam o acesso completo aos documentos e provas para análise.
Sogra era alvo principal
Segundo o delegado Marcos Veloso, responsável pelo caso, o principal alvo dos envenenamentos era a sogra de Deise, Zeli dos Anjos. A polícia confirmou que a suspeita esteve presente na casa dos sogros no dia 2 de setembro, quando preparou um café com leite em pó, e também esteve presente quando Zeli fez um bolo que acabou sendo contaminado, resultando em internação. Deise teria levado o leite em pó à residência da família. A polícia agora investiga como a farinha usada no bolo de Natal foi parar na despensa de Zeli.
Uma amiga próxima à família de Zeli revelou que, três dias antes da morte de Tatiana Denize Silva dos Santos, segunda vítima do bolo envenenado, ela ouviu da própria Tatiana sobre ameaças feitas por Deise contra os sogros. "Ela disse 'eu quero que tu morra'", relatou a amiga, que também revelou um episódio em que Deise enviou uma mensagem à sogra, dizendo que ainda veria toda a família dentro de um caixão.
Morte do sogro
Após a revelação do caso do bolo envenenado, a polícia passou a investigar a morte do sogro de Deise, Paulo Luiz dos Anjos, ocorrida em setembro, que inicialmente foi atribuída a uma intoxicação alimentar. Após a exumação do corpo, os exames confirmaram que ele havia ingerido arsênio antes de morrer. A morte de Paulo foi associada a uma infecção intestinal, supostamente causada por bananas e leite em pó, que Deise teria levado à sua casa.
Após o falecimento do sogro, a polícia encontrou áudios enviados por Deise, nos quais ela expressava insatisfação com a família. Em uma das mensagens, ela descrevia a morte de Paulo como algo que poderia ter ocorrido devido a "intoxicação alimentar, negligência médica, ou até a hora dele".
Indícios de premeditação
A investigação também revelou buscas feitas por Deise na internet, com termos como "arsênio veneno", "arsênico veneno" e "veneno que mata humano". Esses dados foram encontrados no relatório preliminar da extração de informações dos celulares apreendidos e constam na representação da Polícia Civil pela prisão temporária da suspeita.