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Flavio Oliveira
Publicado em 14 de novembro de 2024 às 23:23
Quem era Francisco Wanderley Luiz? O ataque a bombas que realizou em Brasília é fato isolado? Quem ele pretendia matar? Ele agiu sozinho? Outros ataques ainda podem acontecer? O que o motivou? Quais os efeitos políticos do atentado?
São essas perguntas que desde as 19h30 da quarta-feira (13) rondam as cabeças das autoridades brasileiras. E que as investigações e pronunciamentos oficiais já começam a responder com as informações que foram levantadas e reveladas nas primeiras 24 horas após o “autoextermínio” de Francisco Wanderley.
No momento em que ele entrou para a história, ele, aos 59 anos, vestia uma roupa que fazia referência ao Coringa – o pior inimigo do Batman, e carregava um detonador e dois pacotes de explosivos nas mãos. Proibido de entrar no prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), onde as vestes protocolares fazem os ministros parecerem o homem-morcego, ele detonou as bombas na mala dos carros que parou no estacionamento do tribunal e do Câmara dos Deputados. Na Praça dos Três Poderes, perseguido por agentes de segurança do Supremo, acendeu e atirou um dos pacotes contra a estátua da Justiça. E, no ato derradeiro, deitou-se no chão, fez do segundo pacote um descanso para a cabeça e se matou.
Até o momento que se vestiu como o Palhaço Assassino, Francisco Wanderley era um pacato chaveiro da cidade de Rio do Sul, em Santa Catarina. Em 2020, fez do apelido de Tiü França em nome de urna quando se candidatou a vereador pelo PL, mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele não foi eleito. O deputado federal Jorge Goetten (Republicanos-SC), o conhecia. São da mesma cidade e eram amigos. Em entrevista à Rádio Gaúcha ontem, disse que Francisco era um empresário bem-sucedido, atuando no setor de eventos, sendo estimado na comunidade. “Ele teve grandes casas de eventos lá, baladas e discotecas. Eu ainda não fui a Rio do Sul, mas algumas pessoas com quem conversei também estão perplexas, porque ele era uma pessoa do bem. Conhecia ele há mais de 30 anos”.
O deputado contou ainda que Francisco esteve em seu gabinete em Brasília em agosto do ano passado, quando notou que o amigo estava emocionalmente perturbado. “Ele estava alterado. Diziam que estava com problemas mentais por causa da separação da mulher”, lembrou.
Francisco também seria um homem religioso. Gleide Alves alugou uma kitnet para ele em Ceilândia, desde a primeira passagem dele pelo Distrito Federal. Para ela, Francisco disse que trabalhava com “energia” e que gostaria de ficar cerca de três meses na cidade. Os dois não conversavam sobre política —assunto que a moradora diz evitar—, mas discutiam sobre trechos da Bíblia. “[Ele falava dos] meus passarinhos, das minhas plantas, sabe? E ele gostava de saber as coisas da Bíblia”, falou à Folha de São Paulo.
Ainda à Folha, Gleide contou que após os três meses, Francisco disse que voltaria para Santa Catarina porque seus móveis foram afetados por uma enchente. Eles voltaram a se comunicar um ano depois, quando Francisco voltou à capital federal. Ela falou que nesse momento ficaram “amigos”, e que ele era “solícito e prestativo”. Afirmou também que notou que ele estava mais calado na terça e na quarta, dia que cometeu o atentado.
Explosivos foram encontrados na kitnet durante uma operação de busca da Polícia Federal. As bombas estavam em uma gaveta e provocou uma “explosão gravíssima”, segundo o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, que afirmou também que não houve feridos na operação porque os explosivos foram detonados por um robô antibombas da corporação.
“Então, na residência encontramos também outros artefatos. Muitos, até pela sensibilidade, têm que ser destruídos. E outros materiais que coletamos, eu diria que de muita relevância”, falou Rodrigues.
Foi revelado pela CNN que Francisco foi preso em dezembro de 2012, por lesão corporal leve praticado em situação de violência doméstica.
A ex-mulher de Francisco foi localizada por uma equipe da PF. De prenome Daiana, ela disse que o ex-marido “queria matar o ministro Alexandre de Moraes e quem mais estivesse junto na hora do atentado”. Afirmou que Francisco chegou a fazer e compartilhar pesquisas no Google para planejar o atentado. Daiane falou que ao perceber as buscas, perguntou: "Você vai mesmo fazer essa loucura?".
O irmão, Valdir Rogério Luiz, disse ao jornal O Estado de São Paulo, que a motivação de Francisco Wanderley Luiz não teve relação com dramas familiares pessoais, mas com a polarização política.
“O gatilho começou dois anos atrás, na polarização. As pessoas deixam se levar. Ele tinha uma causa, deixou escrito. Às vezes, existe uma motivação que acaba motivando as pessoas. A polarização é exemplo”, falou, citando textos escritos por Francisco nas redes sociais e até no espelho do banheiro da kitnet de Ceilândia.
O irmão do Tiü França, nome que ele usou quando se candidatou a vereador em 2022, também afirmou que o atentado deixou a família surpresa, porque ninguém acreditava que ele seria capaz da agressão. A mãe deles tem 88 anos e está ciente do que ocorreu.
A hipótese de motivação política é fortalecida pelas mensagens deixadas por Francisco. Nas redes, ele anunciou que faria o ataque entre postagens que repetiam ataques comuns da extrema-direita contra o STF, especialmente a Alexandre de Morais, políticos de esquerda, e aos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco. Na legenda de uma foto em que aparece no plenário do STF, escreveu: “deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro)”.
No espelho, anotou: “Debora Rodrigues, por favor não desperdice batom! Isso é para deixar as mulheres bonitas! Estátua de merda se usa TNT”. Débora Rodrigues dos Santos, presa pela Polícia Federal (PF) em 17 de março de 2023, na 8ª fase da Operação Lesa Pátria, escreveu a frase “Perdeu, mané” na estátua da Justiça, localizada em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), durante os ataques antidemocráticos de 8 de janeiro, em 2023.
Para a PF, esses textos são indícios de que Francisco planejou o atentado por muitos meses. As investigações, até aqui, indicam que Francisco agiu sozinho. Ainda assim, a PF apura se ele contou com algum apoio logístico. O irmão disse que Francisco tinha condições de se manter em Brasília por causa da rendo do aluguel de imóveis que possuía em Santa Catarina. Mas surpresa para a família o fato de que Francisco sia lidar com explosivos.
com agências