Antonio Cícero, membro da ABL e letrista da MPB, morre aos 79 anos

Ele tinha Alzheimer e morreu na Suíça, acompanhado de seu parceiro Marcelo Fies, que deverá trazer as cinzas do escritor para o Brasil

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Publicado em 23 de outubro de 2024 às 10:36

Antonio Cícero, membro da ABL e compositor da MPB, morre aos 79 anos Crédito: Reprodução/TV Globo

O escritor e filósofo Antonio Cicero morreu nesta quarta-feira (23) aos 79 anos. A informação foi confirmada pela Academia Brasileira de Letras.

Cícero era um dos escritores mais célebres da literatura brasileira e se destacou por suas poesias e letras de música em parceria com a irmã, a cantora Marina, e também com João Bosco, Frejat e Lulu Santos.

Cícero morreu por suicídio assistido na Suíça, onde o procedimento é legal desde a década de 1940. No Brasil, o suicídio assistido e a eutanásia são crimes.

Antonio Cícero estava acompanhado de seu parceiro Marcelo Fies, que deverá trazer as cinzas do escritor para o Brasil nesta quinta-feira (24).

Nos últimos anos, o escritor foi diagnosticado com Alzheimer e se queixou em carta que tinha vergonha de reencontrar os amigos e não reconhecê-los.

A última aparição pública de Cícero foi no lançamento do novo livro de Silviano Santiago, numa livraria em Ipanema, no Rio de Janeiro.

Antonio Cícero é é autor do ensaio "O mundo desde o fim" (1995) e de duas coletâneas poéticas: "Guardar" (1997), em que recebeu o Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira) e "A cidade e os livros" (2002).

Junto com a irmã Marina, produziu as canções como "Fullgás", "Pra começar", e com Cláudio Zoli a canção "À francesa".

Veja a carta de despedida:

Queridos amigos,

Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia.

O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.

Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.

Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.

Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.

Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.

Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.

A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.

Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.

Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.

Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!