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Tharsila Prates
Estadão
Publicado em 14 de março de 2025 às 22:39
O Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo concluiu as investigações sobre o assassinato de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, de 38 anos, na área de desembarque do Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, em novembro passado, e remeteu o relatório de quase 500 páginas ao Poder Judiciário. Seis pessoas foram indiciadas pelo assassinato do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC). O motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, de 41 anos, foi atingido por uma bala perdida e também não resistiu.>
Segundo a Secretaria da Segurança Pública paulista, o trabalho final detalhou o envolvimento de cada suspeito na ação, individualizando a conduta de cada um. Os delegados representaram pela conversão da prisão temporária em preventiva de seis pessoas por homicídio. Outras duas foram indiciadas por favorecimento, auxiliando na fuga dos criminosos (confira lista abaixo).>
“As investigações chegam ao final nesta etapa. O inquérito traz provas técnicas robustas para que possamos amparar o Ministério Público em sua denúncia. Nós daremos continuidade ainda a demais investigações e eventuais participações de outras pessoas”, afirmou o delegado-geral, Artur Dian.>
A vítima era ré por homicídio, lavagem de dinheiro e delator de integrantes do crime organizado. Ainda de acordo com a Polícia Civil, a execução foi encomendada por Emílio Carlos Gongorra, o “Cigarreiro”, com a ajuda de Diego Amaral, o “Didi”. A motivação foi vingança, conforme interceptações telefônicas realizadas pelos policiais.>
“A gente tem provas técnicas de que eles são os mandantes do crime, temos extração de nuvem, mensagens, há diálogos falando que a motivação seria uma vingança”, afirmou a delegada Luciana Peixoto. >
Além dos dois, uma terceira pessoa, apontada como olheiro no dia do crime, segue foragida. Três policiais militares que executaram o assassinato seguem presos no Presídio Militar Romão Gomes. Os PMs, conforme os delegados, foram contratados para o crime por meio do homem que atuou como olheiro. “Fizemos um grande trabalho de análise de dados e telemática que colocam eles no local do crime”, explicou a delegada.>
Conclusão das investigações>
O secretário-executivo da Segurança Pública, delegado Osvaldo Nico Gonçalves, coordenador da força-tarefa criada para investigar o crime, afirmou que a Polícia Civil “encerrou um ciclo” importante da investigação. Ainda há outros três inquéritos abertos no DHPP para demais apurações.>
Ao longo de 126 dias, dezenas de policiais participaram das investigações. O inquérito policial possui cerca de 20 mil páginas. A equipe analisou 6 terabytes de arquivos no período, entre imagens, áudios e demais informações obtidas com as quebras de sigilo e buscas realizadas autorizadas pela Justiça. “O material foi visto, revisto, discutido em uma sala isolada. Os policiais não pararam nesse tempo. Contamos com uma força-tarefa com um trabalho de campo vasto durante esses meses”, detalhou a chefe do DHPP, delegada Ivalda Aleixo.>
Indiciados>
Além dos dois nomes apontados, portanto, como os mandantes do crime, foram indiciados mais quatro pessoas por envolvimento direto no assassinato de Gritzbach:>
- Kauê do Amaral Coelho, que teria atuado como olheiro no dia do crime>
- cabo Denis Antônio Martins>
- soldado Ruan Silva Rodrigues, apontados como os atiradores>
- tenente Fernando Genauro, que os teria levado até o aeroporto>
Parte do inquérito à qual o Estadão teve acesso aponta que eles foram indiciados por:>
- homicídio triplamente qualificado (pela morte do motorista de aplicativo)>
- duas tentativas de homicídio duplamente qualificadas (por ferimentos causados a outras duas pessoas que estavam no aeroporto)>
- homicídio quintuplamente qualificado (pela execução de Gritzbach)>
O último indiciamento se deu por motivo torpe (para causar pânico e demonstrar o poderio de organização criminosa de âmbito nacional); pelo uso de meio que possa resultar perigo comum (utilização de armas de calibre restrito no aeroporto mais movimentado da América Latina, em plena luz do dia e horário de movimento); por emboscada ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido (execução no desembarque do aeroporto, em frente à família da vítima); por assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outros crimes; e com emprego de armas de fogo de uso restrito (fuzis calibres 7,62x39 e .556).>
Além deles, foram indiciados por favorecimento pessoal:>
- Thiago da Silva Ramos, vulgo Bob, que teria ajudado na fuga de Kauê para o Rio de Janeiro logo após o crime>
- Mateus Soares Brito, que teria dado suporte logístico para que o olheiro se mantivesse longe do radar da polícia>
"Ele (Mateus) estava com o Kauê sempre, esteve com ele no dia dos fatos, e depois chega até a ir para o Rio levar roupas para o Kauê, troca o celular do Kauê e mantém contato", disse ao Estadão a delegada Ivalda Aleixo. "Como ele sabe que o Kauê está sendo procurado, é um favorecimento pessoal." A defesa afirma que Mateus é inocente.>
Conforme a polícia, foi pedida à Justiça a conversão da prisão temporária de todos eles em preventiva (sem prazo determinado). Os dois homens apontados como mandantes, além de Kauê, estão foragidos. Já os três policiais foram presos entre os dias 16 e 21 de janeiro deste ano.>
A defesa de Mateus Soares Brito, um dos indiciados por favorecimento pessoal, afirma que ele é inocente. Os advogados dos demais indiciados não foram localizados pela reportagem.>