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Mesmo expulsas da festa, as baianas deram continuidade a tradição na Festa do Bonfim

Em 1889, a Igreja proibiu a lavagem para evitar a presença dos negros na celebração

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 10 de janeiro de 2024 às 09:30

Pessoas escravizadas eram obrigadas a lavar o templo antes da festa
Pessoas escravizadas eram obrigadas a lavar o templo antes da festa Crédito: Arquivo/CORREIO

Sem as baianas, a Lavagem do Bonfim não teria a mesma magia ou significado. Com suas vestes brancas, fios de contas no pescoço e carregando as ‘águas de Oxalá’, as baianas representam um dos maiores símbolos da Lavagem do Bonfim: a participação popular. Mas, nem sempre foi assim. No século XIX, a presença do povo e suas crenças na celebração para o Senhor do Bonfim não era bem vista pela Igreja. A própria tradição da lavagem, que antes incluia a parte interna da igreja, teve de se adaptar e os grupos de devotos passaram a lavar só o adro e as escadarias. A proibição da presença de baianas e outras pessoas do povo, a maioria negras, tinha mais relação com racismo do que com fé.

A tradição de subir a Colina Sagrada e pedir as bênçãos ao Senhor do Bonfim já era repetida há mais de 140 anos em Salvador quando a Igreja Católica decidiu proibir o cortejo. A ideia era evitar que os costumes populares e de devotos das religiões de matriz africana fossem associados à cerimônia católica. O arcebispo de Salvador e primaz do Brasil na época, Dom Luís Antonio dos Santos, recebeu apoio da polícia, que reprimia a população e proibia a lavagem.

Quem participou da festa em 17 de janeiro de 1890, por exemplo, teve potes de barro, violões, sanfonas, vassouras e moringas apreendidos pelas forças de segurança, como contam os jornais da época. Até hoje, a igreja fica fechada no dia da lavagem. Só em 1934 é que o cortejo voltou a acontecer oficialmente, dessa vez com o apoio da prefeitura, como é até hoje. As baianas voltaram a encher as quartinhas.

“A Igreja até tentou, mas não conseguiu vencer essa batalha. Os espaços da cidade têm sempre uma lógica popular. São as pessoas que dão o tom das festas populares e a lavagem continuou existindo, sem, no entanto, entrar no templo”, explica o historiador Murilo Mello.

A história conta que a origem da festa católica é a partir de uma promessa do capitão português e traficante de escravizados Theodósio Rodrigues de Faria, que trouxe para Salvador uma imagem do Senhor do Bonfim, depois de ter invocado a proteção do Cristo crucificado durante uma tempestade no mar. Considerado o primeiro benfeitor da Basílica do Senhor do Bonfim, o português foi enterrado dentro do templo, em 1775.

Em uma das pinturas no teto da igreja, há um grupo de marinheiros entregando o navio para a proteção divina. Senhor do Bonfim, em Portugal, protegia os viajantes que atravessavam o Atlântico rumo ao Brasil.

Nas origens da festa, negros e negras escravizados eram colocados para realizar uma grande limpeza na igreja antes das missas. Com o passar dos anos, os africanos e seus descendentes associaram a lavagem ao culto ancestral a Oxalá e deram seus próprios significados à celebração. Daí surgiu o costume das mulheres vestidas de branco e prata para lavarem o adro e as escadarias.

“Enquanto as pessoas lavavam a parte interna da igreja, começou a tradição de música na parte de fora. Ao longo do tempo a lavagem se reinventou, com a presença do samba de roda e dança. A sociedade e o contexto foram sendo alterados”, completa Murilo Mello.

A lavagem ainda foi proibida na década de 30, quando Juracy Magalhães era interventor do estado, e após a II Guerra Mundial. O preconceito era disfarçado pela tentativa de “purificar” a celebração. As baianas, no entanto, nunca deixaram de levar seu brilho para a festa, mesmo com as portas do templo permanecendo fechadas.

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