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Da Redação
Publicado em 3 de junho de 2020 às 21:50
- Atualizado há 2 anos
Após o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, intensificar a estratégia de desqualificar Zumbi dos Palmares, figura que dá nome à instituição criada justamente para promover e preservar valores históricos e culturais da influência negra no Brasil, 132 terreiros de candomblé do país enviaram, nesta quarta-feira (3), uma Carta-Manifesto à Procuradoria Geral da República (PGR) pedindo a exoneração de Camargo do cargo (confira abaixo). >
No documento, assinado pela Rede de Mulheres de Axé do Brasil e encabeçado pelos terreiros do Recôncavo Baiano, as representantes acusam Sérgio Camargo de intolerância religiosa e "violação e desvio da função social de promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira, e os constantes aos homens negros, mulheres negras, ataques aos heróis negros,e a religião de matriz Africana". >
Na última terça-feira (2), Camargo também chamou o movimento negro de ‘escória maldita’; afirmando ainda que quem é ‘macumbeiro’ não teria um centavo da autarquia. Segundo matéria publicada no jornal Estado de S. Paulo, o presidente também manifestou desprezo pela agenda da “Consciência Negra” e se referiu à Adna dos Santos, Yalorixá de Brasília, popularmente conhecida de Mãe Baiana, como “macumbeira”. Na reportagem, ele prometeu demitir diretores da autarquia que não tiverem como “meta” ademissão de um “esquerdista”.>
"Como mulher, negra, baiana e cidadã brasileira, Mãe Baiana foi atacada de maneira vil e irresponsável, e todos os homens e mulheres independente da sua religião merecem respeito", diz o manifesto.>
Em entrevista ao CORREIO, Mãe Baiana disse que todas Mulheres do Axé estão ofendidas. “Estamos todas muito ofendidas, porque a maneira que a ofensa veio não foi somente a mim, mas atingiu nosso coletivo, o movimento negro de mulheres, nossa ancestralidade. Atingiu nossos terreiros e quilombos, nosso povo como um todo. Tive que, diante desse movimento, me levantar na força dos orixás”, disse ela em entrevista ao CORREIO. >
“Esse é um manifesto das mulheres de axé do Brasil, que também faço parte. São mulheres de luta, respeito, axé, são mães, avós… Fico muito orgulhosa de ver que o Brasil se movimentou com uma ação que chama a atenção da coletividade. E nós no terreiro trabalhamos assim, aprendemos a lidar com o coletivo. Nossa luta não vem de hoje, vem de muito tempo atrás e vamos continuar. E não é assim, uma pessoa que vem e quer colocar moral em cima disso. Não toleramos mais isso", completou a líder religiosa.>
Ela trabalhou na Fundação Palmares de junho de 2015 até janeiro de 2019. "Tenho um enorme carinho por essa instituição. Fui coordenadora de Política de Promoção e Proteção do Patrimônio Cultural Afro brasileiro. Meu papel sempre foi dar visibilidade a esse espaço”, explicou.>
Sobre as declarações de Sérgio Camargo sobre Zumbi dos Palmares, ela disse são carregadas de 'inverdades': “O importante é que, para nosso povo ou para quem não conhece tanto nos luta, sabe que ali tem inverdade. Ele veio para difamar e veio com um pensamento e ideologia de outra pessoa pra se manter onde está. Sabemos que a União dos Palmares é um lugar de resistência. Nós nos identificamos com nosso povo preto. Nossa luta que não é de agora, e não vamos perder isso”.>
De acordo com a representante, um boletim de ocorrência foi feito na Decrin (Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial e Religiosa), que fica no Distrito Federal.>