Terreiro promove caminhada pela paz em Lauro de Freitas

Terreiro São Jorge Filho da Gomeia levou centenas de pessoas à rua neste domingo (27)

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  • Roberto Midlej

Publicado em 27 de agosto de 2023 às 19:37

Caminhada pela paz em Lauro de Freitas
Caminhada pela paz em Lauro de Freitas Crédito: Marina Silva/CORREIO

A presença da advogada Maíra Vida na Caminhada Tembwa Ngeemba - Tempos de Paz, realizada neste domingo (27), ilustrava bem a proposta do encontro promovido pelo Terreiro São Jorge Filho da Gomeia, em Lauro de Freitas. Fiel da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Maíra fez questão de estar presente no evento, que marca a luta pela paz e contra a intolerância religiosa.

Maíra diz que em sua casa sempre foi criada para conviver com as diferenças e que sua família abriga pessoas de adeptas de diversas religiões. A advogada disse que o debate sobre o direito de liberdade religiosa está relacionado à dignidade e à cidadania e essa era uma das razões para a sua presença na passeata.

"Sem liberdade não é possível pensar em democracia. Liberdade religiosa é direito primário da existência humana. Fui criada num ambiente interreligioso e sempre estive focada no respeito e na valorização das ideias e práticas religiosas", afirmou Maíra, que é também presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa da OAB-BA (Ordem do Advogados do Brasil).

A mãe de santo do Terreiro São Jorge Filho da Gomeia, Mameto Kamurici (Maria Lúcia Santana Neves), é firme quando fala sobre racismo e pediu punição aos assassinos da líder quilombola Mãe Bernadete: "É preciso que a solidariedade e compreensão da importância do combate ao racismo, em todas suas perversas formas, saiam do papel e das redes sociais e entrem efetivamente no campo das ações práticas governamentais e jurídicas penais. Punição aos mandantes e executores de Iyá Bernadete e Binho do Quilombo!".

A caminhada teve apoio da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi), do governo do Estado. A secretária Ângela Guimarães esteve presente e falou da importância do evento: "É preciso levantar esse diálogo com as ideias. O fato de pertencer a uma religião não hegemônica não autoriza ninguém a invadir seus templos nem serem demonizados. Este é um grito para transformar políticas públicas. A nossa legislação criminaliza o racismo, mas poucos crimes são de fato punidos".

Géssica Neves, kota do Terreiro São Jorge Filho da Gomeia e neta da fundadora, MIrinha do Portão
Géssica Neves, kota do Terreiro São Jorge Filho da Gomeia e neta da fundadora, MIrinha do Portão Crédito: Marina Silva

Géssica Neves é filha do Terreiro São Jorge e bisneta da fundadora, Mãe Mirinha de Portão e explica por que a caminhada ocorre sempre em agosto: "Este é o mês em que o povo de santo comemora o dia das energias da cura, que nos ensina a ter proteção e cuidado, além de saúde", diz Géssica. Orgulhosa da atuação da bisavó, Géssica diz que, quando aquele terreiro foi criado, ainda era necessário ir a uma delegacia obter autorização para seu funcionamento.

A caminhada teve até membro de terreiros de outros países, como a americana Beautiful Briggite, que está passando pelo processo de iniciação no candomblé, em um terreiro de Newark, na Região Metropolitana de Nova York. "Quando soube da marcha, pendei que precisamos ser fortes. O que eles fazem aqui é muito importante e queremos fazer o mesmo nos EUA".

"É a primeira vez que venho ao Brasil e noto que nos EUA o candomblé, quando se compara ao Brasil, ainda pode ser considerado 'underground'. Lá, nossa religião não é exposta, como aqui. Não há estátuas em espaços públicos, como aqui", observou a americana.