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Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2019 às 13:30
- Atualizado há um ano
(Foto: Reprodução) Acusado de matar a ex-companheira em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, Angelo Silva de Souza vai ser julgado na quarta-feira (9) no Tribunal de Júri, em Itaparica. Ele responde por feminicídio. Helem dos Santos Moreira, 28 anos, foi morta a facadas depois de uma briga com Ângelo, no bairro Conceição.
Ângelo, que não aceitava o fim da relação com Helem, discutiu com ela por ciúmes depois de ver mensagens no celular da ex. O crime aconteceu em 9 de junho de 2017. Testemunhas contaram que o suspeito vinha ameaçando Helem justamente por não se conformar com o ponto final dado por ela.
No dia do crime, ele teria chegado na casa da vítima ainda de madrugada. No meio da briga, tomou o celular de Helen e teria visto fotos e vídeos que mostravam que a pedagoga vivia outra relação. Depois de ver as imagens, ele agrediu a vítima verbalmente e depois pegou uma faca e a atacou. Atingida várias vezes no pescoço, Helem morreu no local.
A acusação será sustentada pela promotora de Justiça Ana Rita Cerqueira Nascimento, com base em denúncia apresentada pelo promotor de Justiça Ivan Ito Messias de Oliveira.
Dia do crime Foi o próprio pai do suspeito quem encontrou a vítima morta. Ele então procurou a polícia. Quando o ex-sogro da vítima chegou ao local, Ângelo ainda estava a na casa. "Quando o pai chegou, ele ainda estava lá, de pé, olhando. O pai dele pediu ajuda para dar socorro, ele disse que ia pegar o carro para levar ela ao hospital, mas fugiu", contou o delegado Geovane Paranhos, titular da delegacia local, na época.
Conforme familiares informaram a polícia, o casal ficou mais de 10 anos juntos. Eles não tinham filhos. Os parentes também informaram que Ângelo trabalhava como taxista na cidade e que Helem havia concluído o curso de Pedagogia na Universidade Estadual da Bahia (Uneb) no ano em que foi morta.
No Facebook, o professor da Uneb, Valdelio Silva, lamentou a morte da aluna e exigiu justiça para o caso. "Helem Moreira, jovem mulher e militante feminista negra, recém formada em Pedagogia pelo Departamento de Educação da UNEB Campus I, foi assassinada hoje pelo marido na Ilha de Vera Cruz, próximo a Salvador. É mais uma mulher negra vítima da violência machista assassina. A comunidade do Departamento de Educação exige justiça e punição exemplar do assassino", escreveu.
Ângelo foi preso três dias depois do crime. O taxista confessou o crime e relatou que, no dia do assassinato, ele teria retirado o cartão de memória do celular da ex-esposa e encontrado nele um vídeo íntimo. "Ele teve acesso a esse vídeo depois de colocar o cartão de memória da esposa no celular dele. Nas imagens, segundo ele, era possível ver a pedagoga na companhia de outro homem. Depois de ter acesso ao conteúdo, ele teria perdido a cabeça e cometido o crime", conta Paranhos. No depoimento, o suspeito disse também que, durante a confusão, não deu chance da vítima dar maiores explicações e partiu para cima dela.
Vídeo foi divulgado O conteúdo do vídeo, segundo informaram amigos próximos de Helem ao CORREIO, se tornou público em toda ilha. "É uma tentativa de se vitimar, porque o homem machista se sente dono do corpo da mulher e acha que a mulher tem que pagar com a vida", salienta Thiffany. "Infelizmente, nós vivemos em uma sociedade que culpabiliza as vítimas da violência. Esse tipo de argumento [do vídeo] faz com que quem morreu seja culpada de ter morrido", desabafou a pedagoga Mirela Novaes, 35, também amiga da vítima.
De acordo com Mirela, a viralização do vídeo foi pensada para causar comoção à população. "Acreditamos que ele tem alguma coisa a ver com isso. Se o caso for para juri popular, por exemplo, as pessoas tendem a considerar esse vídeo, porque nós vivemos em uma sociedade machista", disse.
Dois meses antes de ser morta, Helem relatou a uma amiga que Angelo não aceitava o fim da relação.
"Terminei mas ele não aceita bem, fica ligando e vindo aqui", afirmou ela, no dia 14 de abril, em conversa registrada pelo aplicativo WhatsApp. A pedagoga comentou, ainda, a necessidade de sair de casa.
"Isso está me deixando ansiosa, quero sair um pouco", completou Helem. O desabafo foi feito à amiga Thiffany Odara, 27, que cedeu as conversas com exclusividade ao CORREIO. "Ela contava muito comigo nesse sentido, éramos muito envolvidas com a causa feminista e negra. Nesse dia, perguntou se eu conhecia alguém no interior que pudesse recebê-la por um tempo, porque ele não aceitava o fim", relata a amiga, acrescentando, porém, que Helem não acreditava que pudesse ser morta pelo suspeito, que se entregou à polícia três dias após o crime. Em conversa com amiga, a pedagoga relata que o marido não aceita fim de relacionamento (Foto: Reprodução) Protestos Ainda em junho do ano do crime, estudantes da Uneb fizeram atos pedindo agilidade na investigação. De acordo com a assessoria, a universidade fez uma solicitação formal ao governador Rui Costa para cobrar empenho na resolução do caso. Ato na Uneb fez homenagem a pedagoga Helem dos Santos (Foto: Cindi Rios/Ascom Uneb) Um ofício foi enviado pelo reitor José Bites. “Em sua trajetória, esta Universidade sempre se posicionou ao lado dos grupos sociais mais vulneráveis e pela defesa dos seus direitos. […]Desta forma, solicitamos que as apurações sejam encaminhadas não somente no âmbito da Ilha de Itaparica, mas que tenha o tratamento investigativo consistente e suporte jurídico ampliado”, diz o documento, enviado três dias após o crime.
O ato em homenagem à pedagoga aconteceu cinco dias depois e teve como objetivo apresentar as ações que estão sendo discutiras para o fortalecimento da luta contra o feminicídio. Além disso, a Uneb programa audiências junto às Secretarias Estaduais de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS) e de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) e de Políticas para as Mulheres (SPM), para promover uma campanha permanente contra a violência à mulher e o feminicídio.