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Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2019 às 19:48
- Atualizado há 2 anos
O governador Rui Costa fez uma transmissão ao vivo em seu Facebook na noite desta terça-feira (8) em que negou que a Polícia Militar da Bahia esteja em greve e atacou duramente o deputado estadual e presidente da Associação de Praças e Bombeiros Militares da Bahia (Aspra) Marco Prisco (PSC). Na tarde de hoje, um grupo de PMs liderados por Prisco anunciou greve por tempo indeterminado."Chega de colocar a sociedade em pânico, a Bahia não quer isso, a Bahia não quer ser ameaçada. A Bahia não quer ver deputado, ou líder, dizendo que vai tocar fogo em ônibus escolar. Já basta o que fizeram com nosso país. A Bahia não aceita isso. A Bahia quer trabalhar", diz o governador.Sem citar o nome de Prisco em nenhum momento, ele afirma que o deputado é movido por uma "vaidade irracional e irresponsável". Diz ainda que não há registro de adesão ao movimento grevista em nenhuma cidade baiana. "Não temos registro de nenhuma adesão em nenhum município da Bahia ao chamamento dessa pessoa que, repito, responde a processos na Justiça (...) Essa ação criminosa, só ele ganha. A sociedade perde, os policiais perderiam. Só ele ganha, na sua vaidade irracional e irresponsável", ataca.
Em 2012, gravações trouxeram Prisco conversando com um colega grevista e tratando de ações de intimidação como queima de viaturas e fechamento de rodovias. As gravações, autorizadas pela Justiça, foram exibidas no "Jornal Nacional", da Rede Globo.
Rui começa o vídeo agradecendo os policiais baianos por não seguirem uma liderança que "quer fazer um movimento de viés político-partidário". "Que em 2012 foi pego em áudios mandando tocar fogo em ônibus com crianças, em transporte escolar, para criar o caos perante a sociedade. A Bahia e os baianos não merecem um deputado com esse perfil. A Polícia Militar da Bahia não aceita, com absoluta certeza, com seus valores de disciplina, de família, de quem é pai, de quem é mãe, ser liderada por uma pessoa com essas qualidades morais, éticas e de conduta, respondendo a vários processos criminais na Justiça baiana e na federal", afirmou.
O governador diz ainda que tem trabalhado para melhorar a vida da PM-BA. "Quero aqui reafirmar o nosso compromisso, desde o 1º dia que sou governador do nosso estado, tenho adotado uma postura intransigente de defesa dos nossos policiais. De humanização da nossa polícia. Tenho feito o máximo de esforço, mesmo com o Brasil atravessando a maior crise dos últimos 100 anos, tenho feito valorização da nossa polícia, do nosso funcionalismo".
E continuou: "Tenho orgulho de poder dizer aqui ao vivo que a PM da Bahia está entre os 3 estados do Brasil com melhor condição de trabalho. Seja do ponto de vista da valorização profissional, do ponto de vista de equipamentos, da fluidez da carreira... Fluidez que estamos conversamos e vamos continuar, para encontrar um modelo de promoções que torne mais ágeis as promoções dentro da Polícia Militar".
Ele encerra falando que os policiais não querem ser "massa de manobra" para uso na carreira política de ninguém. "Fizemos monitoramento nessas duas últimas horas em todas as cidades da Bahia. Não temos nenhuma ocorrência de nenhuma adesão a essa aventura político-partidária do deputado", diz.
Assista:
O prefeito ACM Neto também comentou o tema. Ele disse que o momento não é de fazer especulações e frisou que o assunto precisa ser tratado com seriedade. “Eu não tenho conhecimento da extensão desse movimento e, por tanto, não me sinto à vontade para fazer qualquer juízo a respeito. Esse é um assunto muito sério. Já vimos outras greves na cidade e no estado que tiveram consequências muito importantes de violência e restrição da mobilidade, e que não vou politizar de maneira alguma. Não vou responder a qualquer provocação que possa querer insinuar ou induzir que qualquer grupo político está por trás desse movimento. É o tipo da colocação que não contribui em nada nesse momento, não é uma colocação responsável”, afirmou.
Grupo anuncia greve Um grupo de policiais militares anunciou greve da categoria, por tempo indeterminado, a partir desta terça-feira (8). A decisão foi informada durante assembleia no final da tarde. Liderados por membros da Associação dos Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra), os PMs reivindicam melhorias no Planserv, plano de carreira e reajuste do benefício da Condição Especial de Trabalho (CET).
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) atribui a decisão a um "pequeno grupo" dentro da corporação, e informa que a situação é monitorada.
O comandante-geral da PM, coronel Anselmo Brandão, negou que a paralisação anunciada pela Aspra represente o efetivo da categoria, e garantiu que os policiais continuarão nas ruas (ler mais abaixo).
A assembleia ocorreu no Clube da Adelba, atrás do Shopping Paralela, onde os policiais mobilizados chegaram a cantar em coro: "Ô, a PM parou". Assista.
Segundo o coordenador regional da Aspra, Augusto Araújo Júnior, a categoria está tentando negociar há cinco anos com o governo do estado, mas, segundo ele, não houve retorno aos pedidos de reunião.
“A gente deu um prazo de cinco anos, período em que a gente está tentando conversar com o governador. Todas as entidades que são responsáveis por essa questão foram notificadas, receberam ofício com indicativo da possibilidade de paralisação, mas, infelizmente, não atendeu a esse pedido. Inclusive, foi dito que hoje era o dia D, o último dia em que ficaríamos esperando que o governo nos chamasse para negociar”, afirmou, justificando o fato de não terem recorrido ao "estado de greve".
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Os militares pediram também a intervenção dos Ministérios Públicos Estadual e Federal e do Tribunal de Justiça da Bahia. “Tivemos uma reunião com o Ministério Público Federal, o Estadual marcou uma reunião e depois desmarcou e não conseguimos uma reunião com o Tribunal de Justiça”, comentou Augusto.
No total, 11 pontos integram a lista das reivindicações, como a construção de um plano de carreira, de um código de ética e a reforma do estatuto da corporação.
Comandante O comandante-geral da PM, Anselmo Brandão, afirmou que a mobilização se resume a um grupo de cerca de 300 policiais, a maioria da reserva.
“Quem fez essa declaração de greve foi o deputado Prisco. Ele e 300 policiais, a maioria aposentados, estão causando esse terrorismo na cidade, mas eu garanto que a nossa tropa continuará trabalhando e que estamos atentos a todo e qualquer episódio", disse o coronel Anselmo."Ele (Prisco) está politizando o processo e isso não tem nada a ver. Nós somos técnicos, a tropa tem comando e um comandante que dialoga com a tropa. Não precisamos de interlocutores. Ele está transformando isso em uma decisão política e não vamos aceitar”, completou. Num dos vídeos da assembleia dos PMs, Prisco convoca os policiais que estão em serviço a recolher as viaturas. "O nome do movimento é segurança por segurança. Você não tem segurança nas ruas hoje. O nosso povo tá aqui, a nossa segurança tá aqui. Se você for pra rua, você pode ser alvejado pela crimininalidade que está aí. Então, fale pra os colegas que estão de serviço, recolham as viaturas, e não saiam, independente da pressão que receba", diz ele, antes de voltar a puxar o coro de paralisação.
Comunicado da corporação Em nota, a Polícia Militar ratificou que a greve é um movimento político e que tem a intenção de criar clima de insegurança. A Corporação garantiu que o policiamento será mantido dentro da normalidade.
“A Polícia Militar da Bahia garante o policiamento ostensivo em todo o estado e tranquiliza a população, que deve manter sua rotina normalmente. Reforça que o responsável pelas operações nas ruas é o Quartel do Comando Geral, que está pronto para atender a todas as demandas da sociedade. Adianta ainda que, os policiais que não atenderem suas escalas responderão conforme Legislação Militar”, diz a nota.
Procurada, a Secretaria da Administração do Estado (Saeb) ainda não se pronunciou.
População aguarda A vendedora Claudia Santana, 46, afirmou que soube da greve quando se arrumava para sair de seu posto de trabalho em um shopping próximo à estação da Lapa. Ainda sem saber se a greve era verídica ou não, a moradora do bairro de Colina Azul aguardava do lado de fora da superlotada estação. “Ainda não sei muito bem o que vou fazer. Tem que aguardar, né? Fico preocupada com assalto”, desabafou enquanto falava com o marido no celular, tentando uma carona. Movimentação intensa no metrô (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) Já a estudante Évelin Oliveira, 20, foi mais descontraída para enfrentar a situação. Desempregada há cerca de um mês, ela saiu nesta terça-feira (8) para aproveitar o sol na praia. Quando soube da situação de greve, pegou as coisas e partiu em retirada. Sorrindo antes de enfrentar a fila para entrar na estação de metrô, afirmou que as coisas estão complicadas de tal forma que sequer dá para “aproveitar o desemprego”.
Na Estação da Lapa, muitos, temendo, preferiram deixar de pegar o buzu e apelar para o Uber. "Às vezes já estou pegando o Uber por já ter sido assaltada duas vezes na Lapa. E hoje com essa greve o medo cresce mais ainda. Aí eu vou de aplicativo mesmo estando mais caro. Geralmente dá 6 reais e está 17, mas a vida vale mais do que qualquer dinheiro", diz a contadora Ana Barros, 35, que mora no Dois de Julho. O preço dinâmico no aplicativo já leva os valores ao triplo do normal.
Apesar da tensão, o assunto, claro, já gera memes.Tem até comparação com a série de filmes Uma Noite de Crime. Além disso, o jogo Vitória x Oeste, marcado para começar às 20h30 desta terça-feira (8), no Barradão, está mantido mesmo em meio ao anúncio de greve. O CORREIO confirmou a informação com a assessoria do Vitória. Além disso, o efetivo de policiamento já se encontra no estádio rubro-negro. “Em contato com a direção do EC Vitória, o Cap PM Pacheco, do BEPE (Batalhão Especializado em Policiamento de Eventos) assegurou, minutos atrás, que está ‘garantido’ o policiamento para o jogo Vitória x Oeste, às 20h30, no Barradão”, anunciou o clube através das redes sociais.
Confira os 11 pontos da reivindicação da categoria
1. Melhorias do Planserv;
2. Cumprimento do acordo de 2014;
3. Solução para os problemas do novo sistema RH;
4. Reforma do Estatuto;
5. Código de Ética;
6. Periculosidade;
7. Auxílio Alimentação;
8. Reajuste da CET;
9. Plano de Carreira;
10. Cumprimento de ordem judicial
11. Isenção de ICMS para Aquisição de Arma de Fogo para PMs e BMs.