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Vinicius Nascimento
Publicado em 17 de junho de 2020 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Enfrentar a pandemia não é uma tarefa fácil para ninguém e para alguns setores do comércio, a sobrevivência se torna praticamente impossível. Lojas de setores considerados não-essenciais precisaram baixar as portas para ajudar na luta para a contenção ao vírus. O motivo é compreensível, mas as contas seguem chegando e isso gera dor de cabeça para lojistas e funcionários, que têm seus empregos comprometidos.>
As vendas no varejo baiano no mês de abril registraram a maior queda dos últimos 20 anos - a maior de toda a série histórica, iniciada em 2000. Os números foram divulgados nesta terça-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e mostram que o resultado é ruim tanto se comparado com o mês de março deste ano (-17,4%), quanto em relação ao mês de abril do ano passado (-25,4%). A queda é maior do que a média nacional, que foi de 16,8% em relação a março passado.>
Na Bahia, as vendas caíram em sete das oito atividades do varejo pesquisadas. Com a terceira maior queda nas vendas em abril (-64,9%), o segmento de tecidos, vestuário e calçados foi, mais uma vez, o que mais contribuiu para o tombo histórico do varejo na Bahia. Loja na Avenida Sete abre mesmo com decreto de fechamento do comércio não-essencial (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Em Feira de Santana, a empresa que Anderson Farias toca junto aos seus pais está sentindo muitas dificuldades para se manter. A família trabalha no ramo de vestuário há mais de 20 anos e nunca passou uma crise como a atual.>
Para tentar equilibrar as contas, o trio investiu em fazer máscaras para entrega a domicílio, mas nem isso conseguiu amortizar a queda de 90% nas vendas.>
Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), o varejo baiano teve prejuízo de R$1,74 bilhão no mês de abril: o pior resultado para o setor desde 2006.>
“De fato, com o aumento do desemprego, retração da renda e do isolamento social, as famílias fizeram as compras essenciais, do dia a dia, buscando produtos com descontos para tentar manter a mesma qualidade da cesta de compras que faziam anteriormente”, explica o consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze.>
Ainda de acordo com Dietze, o segmento de vestuários tem mais dificuldade de atrair consumo de forma virtual porque em geral os clinetes gostam de provar, pagar e levar os produtos na hora. Além disso, a maior agilidade de troca é algo que pesa a favor das vendas físicas e "na compra pela internet esse processo é mais complicado".>
Impacto A segunda principal influência no resultado geral das vendas no estado veio do segmento de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-62,0%). A atividade engloba parte representativa dos grandes sites de comércio on-line. >
Apenas as vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,8%) tiveram variação positiva, a segunda seguida no ano de 2020. Comércio de sapatos também sofreu queda brusca em 2020 (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Analista de dados do IBGE, Mariana Viveiros aponta que a queda no comércio tem impactos diretos na economia baiana, que tem nesse setor uma das principais fontes empregadoras do estado.>
"O comércio é um grande empregador. Não paga altos salários e tem muitos empregados informais, mas emprega no volume e é a válvula de escape para uma série de produtos da indústria de transformação, por exemplo. Se não há lojas abertas para escoar a produção, há um impacto na indústria que fabrica esses produtos e gera uma reação em cadeia", explica.>
A analista também explica que as medidas de fechamento do comércio são necessárias para combater a pandemia. Além disso, também pondera que o comércio vinha sofrendo algumas quedas antes mesmo do coronavírus e isso se explica pela diminuição do poder de compra das pessoas. Portanto, apesar de ser um fator determinante, o coronavírus não é o único responsável pela queda histórica.>
As maiores retrações nas vendas vieram dos segmentos de Livros, jornais, revistas e papelaria (-81,4%) e Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-69,0%). Apesar de terem relativamente pouca influência no desempenho geral do comércio baiano, são atividades que vêm com resultados negativos há bastante tempo e aprofundaram de forma significativa as quedas em março e abril, diz o IBGE.>
Dos sete segmentos com recuos nas vendas em abril, na Bahia, seis tiveram suas quedas recordes em 20 anos. A única exceção ficou com os artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-11,4%), que mostraram o recuo menos intenso.>
Com o resultado de abril, a queda acumulada no ano nas venda do varejo chegou a 8,3%, também maior do que o acumulado no mesmo período de 2019. Os resultados também são piores do que os nacionais (-3%).>
Todo esse contexto negativo faz com que muitos comerciantes encerrem suas atividades. Segundo a Junta Comercial da Bahia, ao longo dos quatro primeiros meses foram encerradas 4.096 empresas no ramo comercial, representando 53% do total. Somente nos meses de abril e maio, foram pouco mais de mil.>
É importante ressaltar que o processo de fechamento não é tão fácil e rápido no país. Dietze ainda relatou que as lojas com portas fechadas no comércio hoje podem representar uma parcela que está adotando esta estratégia para sobreviver.>
“Ou seja, diante de uma baixa demanda, os custos de uma abertura seriam superiores a receita do dia. Portanto, muitos empresários estão esperando uma volta mais firme deste consumidor para voltar as atividades”, explica.>
O que é varejo? Varejo, comércio varejista, vendas para o consumidor final são expressões equivalentes para se referir a setores do comércio que tem por objetivo vender diretamente para os consumidores finais. É diferente da venda por atacado, que acontece em quantidade maior e normalmente tem como público as lojas que farão o comércio para o consumidor final.>
*com supervisão da subeditora Clarissa Pacheco>