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Repórter do CORREIO sofre ameaças após matéria sobre PM

Jornalista afirmou que vai prestar queixa em delegacia especializada

  • Foto do(a) author(a) Vinicius Nascimento
  • Vinicius Nascimento

Publicado em 19 de maio de 2021 às 06:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Repórter do CORREIO, o jornalista Bruno Wendel sofreu ameaças após a veiculação de uma reportagem mostrando que o soldado Joedson dos Santos Andrade, da Polícia Militar, foi preso na Operação Assepsia I, que investigava ações de grupo de extermínio, extorsão e que agia em Vila de Abrantes, no município de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador.

Joedson foi um dos quatro PMs presos no dia 18 de maio do ano passado, quando a Força-Tarefa cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão na 59ª CIPM. O soldado era suspeito de participação no grupo de extermínio e, além disso, foi indiciado por suspeita de participação nas mortes dos irmãos Hiago Nascimento Tavares e Thiago Nascimento Tavares, ocorridas no dia 7 de fevereiro do mesmo ano, em Barra de Pojuca, também em Camaçari.  Ele respondia em liberdade pelo inquérito que apura a morte dos irmãos.

Um total de quatro homens, que não se identificaram, mandaram mensagens para o celular do repórter. Um dos remetentes chamou o jornalista de 'vagabundo'. Numa outra mensagem, um outro homem sugere que veículo e jornalista não reconhecem o trabalho das forças de segurança pública. Uma outra pessoa ameaça que o jornalista ainda "tem de se retratar". Por fim, um outro homem enviou mensagens com prints das redes sociais de Bruno e enviou um emoji de 'cocô'.

As ofensas e ameaças foram enviadas junto com uma nota de repúdio escrita em nome da tropa da 59ª CIPM/Vila de Abrantes, afirmando repudiar e rejeitar a matéria alegando que "as afirmações imputadas ao policial são totalmente inverídicas, mentirosas e descabida de credibilidade". 

A nota afirma que o soldado não era réu e, sim, investigado pela SSP/BA pela morte de dois homens após sua guarnição entrar em combate armado contra os dois. "Em momento algum o processo que tramita em segredo de justiça afirma que os policiais envolvidos são réus, culpados ou inocentes, e sim estão denominados como investigados", afirma a nota.

Bruno Wendel é um dos repórteres mais experientes do CORREIO, com 15 anos de atuação na casa. Especialista em coberturas ligadas à segurança pública, ele afirma que nunca havia sofrido ameaças desse tipo em toda a carreira. "Todo meu trabalho investigativo envolve estar nas delegacias, nas companhias. A polícia entende meu trabalho. Fiz outras matérias de denúncias de crimes cometidos por policiais e nunca fui ameaçado", afirma o jornalista, premiado pelas matérias do Caso Geovane, em 2014, que serviram de inspiração para o filme Sem Descanso.

O repórter afirmou que recebeu mensagens de policiais que já conhece e afirmaram entender o seu trabalho, mesmo sentindo que não era o momento oportuno para a veiculação da reportagem, logo após a morte do Soldado Joedson. Além das ameaças por mensagens, Bruno também recebeu ligações afirmando, em resumo, "que uma situação que iniciou com sangue não precisa terminar com mais sangue". 

"A Corregedoria apura esse tipo de crime, a operação foi amplamente divulgada na época. O nome dele não foi publicado na época e veio à tona agora. Entendo a dor da família, mas foi um fato que aconteceu e precisa ser noticiado. Esse tipo de ameaça é para intimidar o meu trabalho. Caso ele não fosse preso, houvesse alguma notícia inverídica, eu faria uma retratação", declara Bruno.

A Secretaria de Segurança Pública foi avisada sobre o caso e recebeu todo o material. Um denúncia será formalizada em delegacia especializada nos próximos dias.

"A tropa está chateada porque o assunto veio à tona logo após a morte do soldado em combate. Eu entendo a dor, mas não podia deixar de noticiar. Isso é o jornalismo, o fato aconteceu e não escrevi qualquer mentira", disse.

A reportagem do CORREIO apurou que a investigação conduzida pela corregedoria da SSP viu que o GPS da viatura em que o soldado estava no dia foi uma das provas materiais utilizadas para comprovar a sua participação na morte dos dois homens. Joedson e os outros três policiais trabalhavam no Pelotão Especial (Peto) da 59ª CIMP.  Todas as CIPMs, assim como as em que atuavam os policiais, têm um núcleo formado por policiais especializados, que estão em ação geralmente em situações consideradas mais complexas.

Segundo Nelson Gaspar, corregedor-geral da SSP, Joedson foi um dos quatro PMs presos no dia 18 de maio do ano passado, quando a Força-Tarefa cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão na 59ª CIPM, por conta das mortes dos irmãos Hiago Nascimento Tavares e Thiago Nascimento Tavares, ocorridas no dia 7 de fevereiro do mesmo ano, em Barra de Pojuca, município de Camaçari. 

Ainda segundo Gaspar, Hiago, alvo do grupo armado, possuía envolvimento com tráfico de drogas. O irmão dele acabou sendo morto por ter presenciado a ação da quadrilha. O corpo da segunda vítima foi enterrado numa cova rasa e depois localizado. As mortes foram por disparo de arma de fogo.

Repúdio Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado da Bahia (Sinjorba), Moacy Neves afirmou que intimidações e ameaças, além de serem qualificadas como crime, atentam contra o livre exercício do jornalismo. O presidente afirma que, se há mentiras, ilações ou injúria no texto em questão, os policiais incomodados podem procurar os meios legais para exigir reparação por parte do veículo e do profissional.

"A postura de ameaçar indica duas coisas. Primeiro, o incômodo provocado pela matéria, na medida em que leva a público fatos que estavam circunscritos. E, segundo, a dificuldade que parcela da corporação tem em lidar com a democracia e a liberdade de imprensa", disse Moacy Neves.

Em nota, o Sinjorba afirmou que se solidariza com o colega e que a matéria foi fruto de apuração do repórter, que se baseou em investigações que vêm sendo conduzidas pela própria Corregedoria da Polícia Militar desde o ano passado, tendo o policial em questão até já sido preso por sua conduta. Por fim, o Sindicato lamentou a postura dos policiais que vêm ameaçando o colega e mais uma vez chama a atenção para a necessidade dos policiais incorporarem o discurso oficial da corporação, de que a PM Bahia é uma polícia cidadã.

Entenda o caso Morto a tiros durante uma incursão neste domingo (16) em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador (RMS), soldado Joedson dos Santos Andrade era suspeito de fazer parte de um grupo de extermínio que agia em Vila de Abrantes. Ele trabalhava na 59 Companhia Independente (59ª CIMP/Vila de Abrantes) e foi um dos presos em maio do ano passado na Operação Assepsia I, ação de uma Força-Tarefa que investiga grupos de polícias suspeitos de crime de extermínio e extorsão, além de sequestros em Salvador e RMS. 

As informações são da Corregedoria-geral da Secretaria de Segurança Pública (SSP), à frente da Força-Tarefa. Segundo Nelson Gaspar, corregedor-geral da SSP, Joedson foi um dos quatro PMs presos no dia 18 de maio do ano passado, quando a Força-Tarefa cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão na 59ª CIPM, por conta das mortes dos irmãos Hiago Nascimento Tavares e Thiago Nascimento Tavares, ocorridas no dia 7 de fevereiro do mesmo ano, em Barra de Pojuca, município de Camaçari.

Ainda segundo Gaspar, Hiago, alvo do grupo armado, possuía envolvimento com tráfico de drogas. O irmão dele acabou sendo morto por ter presenciado a ação da quadrilha. O corpo da segunda vítima foi enterrado numa cova rasa e depois localizado. As mortes foram por disparo de arma de fogo.