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Mario Bitencourt
Publicado em 18 de novembro de 2017 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
A destruição de equipamentos para funcionamento de um sistema de irrigação que captava água do Rio Arrojado, em Correntina, no Extremo Oeste baiano, causou prejuízo de R$ 50 milhões à empresa agrícola Igarashi. A informação foi passada pela Polícia Civil ao CORREIO e confirmada pela empresa nesta sexta-feira (17).
O ataque foi promovido por ocorreu no dia 2 de novembro por agricultores e pecuaristas que vivem próximo ao Rio Arrojado e estavam insatisfeitos com a captação de água por parte de duas fazendas da empresa. Entre 500 e 800 pessoas, transportadas em 5 ônibus e caminhonetes, participaram da ação.
O caso é investigado por uma força-tarefa da Polícia Civil, que já ouviu mais de 30 pessoas para saber os autores e patrocinadores da destruição.
A Igarashi, que possui desde 2015 outorga da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) para captar 180 mil metros cúbicos de água por dia do Rio Arrojado, comentou, em nota, que o prejuízo na fazenda pode ser maior, “haja vista que ainda precisamos de mais avaliações, inclusive de fabricantes.”
Nesta semana, a polícia decidiu decretar sigilo no caso e declarou que não daria mais informações, até que o mesmo seja concluído e responsabilize os culpados pelo prejuízo milionário. Desde o dia 2, o policiamento está reforçado em Correntina, cidade de 33 mil habitantes, localizada a 914 km de Salvador.
Intimados Entre os que foram intimados para depor, além de supostos envolvidos diretamente na destruição à fazenda, estão o vice-prefeito Michael Delgado (PV), o presidente da Câmara de Vereadores Ebraim Moreira (PMDB) e a vereadora Albanice Magalhães (PR). Eles negam participação direta ou indireta na ação nas fazendas da Igarashi.
Na ação, foram destruídos 32 pivôs de captação de água, caminhões, máquinas colheitadeiras, uma retroescavadeira, uma patrol, uma máquina pá carregadeira e ao menos dez tratores. Todo o sistema elétrico da fazenda também foi danificado.
O ataque à fazenda da Igarashi, segundo apoiadores do ato, foi uma reação à falta de resposta relativa aos problemas socioambientais que eles dizem que há na região por conta do agronegócio – o Oeste baiano está na principal zona agrícola brasileira, a região do Matopiba, que reúne áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Os manifestantes, que possuem o apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), braço da Igreja Católica, dizem que já estiveram por diversas vezes com representantes dos governos federal e estadual para buscar uma solução para os problemas locais, mas sem sucesso.
Eles se queixam do desmate de nascentes e da diminuição das águas da Bacia do Rio Corrente, um dos afluentes do Rio São Francisco, e dizem que a captação de água por parte de empresas agrícolas faz com que a quantidade de água reduza para comunidades ribeirinhas, agricultores e pecuaristas que também precisam dos rios.
Sem informações O CORREIO solicitou, na segunda-feira (13), ao Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), autarquia estadual ligada à Sema, informações sobre a atual situação das bacias hidrográficas da região, mas não obteve resposta. O histórico de chuvas na região de Correntina, contudo, não é dos mais animadores.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), de janeiro de 2007 a setembro de 2017, o mês que teve mais chuva foi novembro de 2008, quando caíram durante todo o mês 355 milímetros de chuva – o Inmet considera como chuva forte a partir dos 50 milímetros. Este ano ficou sem cair uma gota entre junho e setembro.
Entidades ligadas ao agronegócio na região, como a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) e a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), defendem o que estão fazendo uso consciente dos recursos hídricos da região e colaborando para a preservação ambiental por meio de pesquisas.
A Aiba informou que realiza desde fevereiro deste ano estudo para quantificar a disponibilidade da água e sua importância para os múltiplos usos nas bacias do Rio Grande e Corrente e, com isso, garantir a segurança hídrica para manter a irrigação e a produção sustentável de alimentos.
A pesquisa, que está sendo desenvolvida por estudiosos da Universidade Federal de Nova Viçosa (UFV-MG) e da Universidade Federal de Nebraska (EUA), tem previsão de ser finalizada no final de 2018. A Aiba informou que pretende realizar nos próximos meses um trabalho educativo, junto às comunidades locais, de informação sobre a capacidade hídrica dos rios da região.