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Da Redação
Publicado em 11 de agosto de 2022 às 20:35
A Delegacia Territorial de Nova Viçosa instaurou inquérito para apurar a demolição do imóvel que pertenceu ao artista plástico polonês Frans Krajcberg, na quarta-feira (10). De acordo com a Polícia Civil (PC-Ba), oito pessoas já foram ouvidas e as investigações têm o apoio da 8ª Coorpin/Teixeira de Freitas.
Na terça-feira (09), uma empresa contratada pela prefeitura de Nova Viçosa tentou demolir a propriedade, mas foi impedida pela Procuradoria Geral do Estado da Bahia (PGE), após o Ipac solicitar o apoio do batalhão afirmando que o imóvel é parte do acervo doado em testamento, por Krajcberg ao Estado da Bahia, e por tanto, não poderia ser derrubado sem a autorização estadual.
No entanto, no dia seguinte, a empresa retornou ao local e demoliu a casa que pertenceu ao artista. Após o acontecido, o estado publicou uma nota repudiando a ação da prefeitura. Já nesta quinta-feira (11), a prefeita de Nova Viçosa, Luciana Machado, se pronunciou contestando a informação de que o imóvel faz parte dos bens deixados pelo artista ao estado e afirmando que a propriedade estava "abandonada há anos", sem cuidados.
Acervo O acervo doado ao Estado é composto por mais de 48 mil itens e cerca de 50 hectares do sítio Natura, antigo ateliê onde vivia praticamente recluso desde 1978, no município de Nova Viçosa, extremo sul do estado. Sua obra reflete a paisagem brasileira, em especial, a Floresta Amazônica, e sua constante preocupação com o meio ambiente.
Disputado por vários outros estados e até mesmo pelo exterior, o artista doou o seu acervo de obras e propriedades à Bahia pela primeira vez em 2009. A escritura de doação foi assinada pelo artista e pelo governador Jaques Wagner durante a abertura do Seminário Nordeste: Água, Desenvolvimento e Sustentabilidade, no Fiesta Bahia Hotel, em Salvador.
Quatro anos depois, outra decisão, desta vez partida do governo estadual, ressaltava a importância de suas obras para o estado: a construção de um museu para preservação da sua obra. Em 2019, foi aprovado, por unanimidade, pela Assembleia Legislativa da Bahia, o projeto de lei para a criação da Fundação Museu Artístico Frans Krajcberg.
O equipamento teria uma sede no município de Nova Viçosa e em Salvador, no bairro de Ondina, mas 9 anos após a decisão, nenhuma obra foi iniciada. A reportagem questionou o Ipac, responsável pela administração das obras, sobre o andamento do projeto, mas a pergunta não foi respondida.
Hoje, parte do acervo do artista pode ser visitado no Museu do Recôncavo Wanderley Pinho, no Recôncavo da Bahia, e na exposição “Frans Krajcberg: por uma arquitetura da natureza”, no MuBE, em São Paulo.
Frans Krajcberg Krajcberg morreu em novembro de 2017, aos 96 anos, no Hospital Samararitano, no Rio de Janeiro. Em 2022, o artista completa 101 anos de história. Frans nasceu na Polônia, em 1921. Durante a Segunda Guerra, precisou fugir para a União Soviética, se separando dos seus pais. Mais tarde, descobriu que seus familiares morreram nos campos de concentração nazistas.
Iniciou seu processo artístico na Europa pós-guerra, mas foi no Brasil que ele se tornou um ativista e artista, transformando a arte em caos conceitual. Desde então, viajou pela floresta amazônica, morou no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e decidiu fixar morada na Bahia entre 1972 e 2017, ano de sua morte.
Desde então, sua arte e luta pela natureza se tornaram uma só. Entre fotografias, vídeos, pinturas, fotografias e esculturas, o que mais chama atenção são os troncos de árvores, muitos carbonizados, transformados em arte e protesto, como se houvesse uma ressurreição daquela natureza morta.