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Da Redação
Publicado em 10 de julho de 2018 às 02:43
- Atualizado há 2 anos
Sorrindo nervosa e ajeitando os cabelos com as mãos, Islaine Medeiros, de 17 anos, ainda não acreditava que tinha conseguido falar sobre a vida na sua escola para um de seus maiores ídolos. Enquanto esperava na fila para tirar uma foto com aquela que chama de "inspiração", a menina de Alagoinhas, na Bahia, perguntava se alguém também havia filmado o encontro.
A "inspiração" de Islaine não é atriz ou cantora, mas a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, que participou nesta segunda-feira, 9, de um debate sobre educação no auditório do Ibirapuera, zona sul de São Paulo. Ela estará em Salvador nesta terça-feira (10). O evento, organizado pelo Itaú Unibanco, era fechado para convidados: a maioria alunos de escolas públicas e ativistas de projetos educacionais. Mas, do lado de fora, famílias tentavam lugar para suas filhas acompanharem a mais jovem vencedora do prêmio Nobel da Paz, em 2014. "Ela é como uma artista. O talento dela é a coragem, a força, a forma como enxerga a educação", disse Islaine, que conheceu a história de Malala há poucas semanas, quando ganhou na escola o livro da paquistanesa, baleada pelo grupo extremista Talibã aos 15 anos por se manifestar contra a proibição de educação para mulheres. Foto: AFP Malala contou que veio ao Brasil para "achar meios" de garantir educação para 1,5 milhão de meninas no País que estão fora da escola. "São meninas que estão tendo o seu direito negado, como ocorreu comigo. Quero, junto com vocês, encontrar formas de garantir que tenham acesso a uma educação de qualidade, que significa dar condições a elas de saber ler e escrever e também de sonhar", afirmou a ativista. A maior parte das jovens fora da escola, ressaltou, são as negras, indígenas e de famílias pobres"Precisamos que todas as meninas estejam na escola, mas não podemos parar aí. Quem está estudando não pode ter medo, ser intimidada, desmotivada ou desmoralizada. Essas meninas têm o direito de estudar, não podem ser forçadas a trabalhar, casar ou ter filhos", diz Malala.A solução para o problema no Brasil, defende, está nas próprias comunidades afetadas. Nívea Reis, de 16 anos, era outra das jovens emocionadas, ao fim do evento. Ela conseguiu contar a Malala sobre o projeto que desenvolve em sua cidade, Andrequicé (MG). Nívea e outros amigos estão alfabetizando idosos do município e buscam apoio da prefeitura para conseguir mais verba. "Às vezes parece impossível fazer com que nossas ideias virem realidade. Ao conhecer a história da Malala e, ao ouvir falar agora sobre a sua vida, me fez ver que não posso desistir. Quero ser forte e corajosa como ela", diz. [[saiba_mais]] Apesar de ser vista como heroína, Malala fez questão de refutar o título logo no início do debate. "Tantas colegas que estudavam comigo queriam levantar a voz e se manifestar. Não era diferente delas. A minha voz só pôde ser ouvida porque eu tenho pais que são especiais e sempre me apoiaram." Malala lembra que a repercussão da sua história fez com que a sua mãe, impedida de ir ao colégio aos 6 anos, pudesse iniciar os estudos. "É o contrário do que acontece na maioria das casas, mas sou eu que leio para a minha mãe. E é uma experiência maravilhosa", conta. Para a ativista, a educação igualitária para mulheres precisa entrar na pauta das eleições porque desenvolve economias e democracias. "A igualdade pressupõe também responsabilidades iguais e queremos compartilhar isso com eles."Mensagem No final do evento, Malala quis responder perguntas das jovens e a maioria demonstrou preocupação com a situação política do País. "Sei que há muita insatisfação, mas não esqueçam nunca que a voz de vocês têm poder enorme de provocar mudanças". E finalizou contando que nunca teve vontade de se vingar daqueles que a balearam, porque descobriu na sua voz o melhor revide. "A melhor vingança que encontrei foi ir atrás de educar todas as meninas e meninos do mundo, incluindo os filhos daqueles que me atacaram. Uma mensagem de paz tem muito mais força do que uma de raiva", diz.