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Novos tremores de terra atingem zona rural de Amargosa e assustam moradores

De magnitude 1,8, foi o tremor mais forte na região desde a instalação da rede sismográfica; 45 microtremores foram registrados

  • Foto do(a) author(a) Marcela Vilar
  • Marcela Vilar

Publicado em 28 de outubro de 2020 às 10:54

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Acervo pessoal/Professor Ivan Silva

Moradores do distrito de Corta Mão, zona rural do município de Amargosa, localizado no Vale de Jiquiriçá, no Centro Sul da Bahia, sentiram novos tremores de terra na noite de terça-feira (27), entre 20h e 22h, e madrugada desta quarta-feira (28), por volta das 1h da manhã. O de maior magnitude foi o de 1,8 na escala Richter, o mais forte registrado na região desde a instalação da rede de sismógrafos - equipamentos que monitoram e medem a intensidade de abalos sísmicos. A rede foi instalada no início de setembro, após o terremoto de magnitude 4,6 atingir a localidade no dia 30 de agosto, que deixou casas destruídas e fez os municípios de São Miguel das Matas e Amargosa decretarem situação de emergência. 

“Não foi como os anteriores, mas o de ontem, a comunidade toda sentiu e a gente ficou preocupado de vir outro com intensidade maior. Deixou todo mundo apreensivo, muita gente foi dormir tarde, preocupado de ocorrer outro em sequência”, contou o professor Ivan Silva, 45 anos, morador do distrito de Corta Mão. O professor relata que os tremores mais fortes foram sentidos por volta das 20h30 e 22h. “Desde a instalação dos sismógrafos, tá registrando vários abalos por dia”, completa Silva. 

A professora Duceni Santos Ferreira, 36 anos, que também mora em Corta Mão, viu sua casa tremer, mais uma vez. “A gente estava assistindo a novela e veio aquele desespero. Porque além do estrondo ser muito alto, a casa tremeu. Meus meninos ficam assustados,  qualquer barulho acham que é tremor”, narrou a professora. A filha caçula, segundo Ferreira, tem tido problemas de sono. “Ela fica assustada com tudo, agarrada em minha perna, sem querer dormir”.  Moradores ficam do lado de fora de suas casas em Corta Mão, por medo de novos tremores. Crédito: Acervo pessoal/professor Ivan Silva. A professora disse ainda que não consegue se acostumar com os abalos sísmicos. “Os geólogos estão dizendo que a gente tem que se acostumar, mas como se acostuma com uma situação dessa?”, disse a moradora, preocupada. Ela informou ainda que as rachaduras em sua casa, causadas pelo tremor mais forte em agosto, têm aumentado. A estudante Flávia Xavier, 15 anos também sentiu de sua casa: “já estava deitada, só ouvi o barulho, a cama balançou, e levantei correndo e carregando o mosquiteiro. Todo mundo saiu de suas casas e ficou na rua”. 

O mestre em geofísica e técnico do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Eduardo Menezes, que instalou a rede sismográfica na região, acredita que foram três a quatro tremores. “Os moradores sentiram três, quatro tremores e o mais forte foi em Corta Mão, de 1,8, mas também foi sentido em Tabuleiro. Isso nos leva a crer que os epicentros estão em áreas diferentes”, explicou o Menezes, em análise preliminar. 

O pesquisador ainda informou que foram registrado 45 microtremores pelos sismógrados, em maioria de baixa intensidadade, não percebidos pela população. Além do 1,8 em Amargosa, ocorreu outro em São Miguel das Matas, com magnitude preliminar de 1,3 na escala Ritcher, às 4h36 da manhã de hoje.

A partir da coleta de dados nas dez estações sismográficas que estão hoje no local, os pesquisadores irão avaliar se elas continuarão nos municípios. Se, durante esses dois meses, o número de tremores tiver permanecido igual, as estações sairão da região e somente uma, em Corta Mão, permanecerá. Ela já faz parte da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR). “A atividade sísmica continua. Com a apresentação do número total de eventos, vamos ter uma ideia da atividade real na região, se houve aumento ou constante. Em novembro temos a previsão de remover a rede, mas isso vai depender do comportamento dos tremores”, completou o técnico.  Análise da atividade sísmica na região de Amargosa, feita pelo LabSis/UFRN. Crédito:LabSis/UFRN.  O custo com a manutenção desses equipamentos é, em média, R$ 8 a R$10 mil por mês, que estão sendo custeados pela UFRN, com apoio da prefeitura de Amargosa e da Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec). 

O prefeito de Amargosa, Júlio Pinheiro, informou que uma palestra foi feita com os moradores, na semana passada, para informar a população como agir nessas situações de tremores de terra. Ele também disse que custeará a manutenção da equipe de técnicos da UFRN que precisarem retornar à região. “Me comprometi com a universidade de manter esse tipo de apoio, de logística, como hospedagem e alimentação, para que eles façam essa avaliação periódica”, afirmou. Segundo Pinheiro, uma equipe da prefeitura irá ao distrito avaliar as novas avarias nas casas que possam ter surgido com os novos tremores. 

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro