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Daniel Aloísio
Publicado em 16 de novembro de 2021 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Em todo o Brasil, em 2022, os alunos do primeiro ano do ensino médio vão encontrar uma escola diferente da que existe atualmente. Na Bahia, essa regra é uma exceção. Ao contrário das outras unidades federativas, o Conselho Estadual de Educação da Bahia (CEE-BA) estabeleceu que só em 2023 e 2024 é que as instituições de ensino públicas e particulares do estado são obrigadas a alterar o currículo referencial para o Ensino Médio.
Isso foi determinado, pois só em 2022 é que será implementado o Documento Curricular Referencial da Bahia (DCRB) do Ensino Médio. É esse documento que vai servir de referência para as escolas montarem suas matrizes curriculares e submeterem à aprovação do próprio CEE. A DCRB, inclusive, deve ter como base as orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que desde 2018 foi aprovada.
De acordo com o presidente do CEE, Paulo Gabriel Nacif, a alternação no cronograma aconteceu, dentre outros motivos, para ampliar o debate para a construção de um documento que respeite a diversidade e a realidade de cada região. “O Conselho está atento e vem cumprindo com suas atribuições no processo de implementação da BNCC na Bahia, assegurando os princípios educacionais e os direitos de aprendizagem de todos os estudantes do território estadual, em toda a Educação Básica”, reforçou.
A Resolução que altera o cronograma foi aprovada pelos 24 conselheiros estaduais de Educação e homologada pelo secretário da Educação do Estado, Jerônimo Rodrigues. De acordo com a diretora acadêmica do Colégio Antônio Vieira (CAV), a professora Ana Paula Marques, mestre em Gestão Educacional, a decisão do conselho impede a implementação completa do novo ensino médio ainda em 2022. “A gente não pode mexer na nossa estrutura curricular enquanto não houver esse documento”, lamenta.
Mesmo assim, o Antônio Vieira não vai ficar ‘esperando sentado’ e já começou a implantar no Ensino Médio aquilo que não impacta na BNCC. “Tem toda uma novidade, que são os itinerários formativos, que os alunos do primeiro ano começarão a ter em 2022. É para eles já estarem no ritmo do novo ensino médio”, explica a gestora. Ela acredita que o atraso na mudança curricular não vai prejudicar o ensino. “Normalmente, as escolas privadas já têm carga horária bem densa. Com a DCRB em mão, o que vamos fazer é muito mais uma readequação dessa carga horária. O quanto de linguagem fica e o que será preciso recompor? São questões como essa que serão resolvidas. Essa parte é bem consolidada na instituição, pois é a que prepara os alunos para os vestibulares", aponta Ana Paula. Ana Paula Marques está ansiosa para o novo ensino médio (Foto: Isa Menezes/Secom-CAV) Regras Uma das principais mudanças com o novo ensino médio é o aumento da carga horária mínima. Agora não serão mais necessárias 800 horas anuais e sim 1 mil horas, o que vai fazer com que cada dia letivo tenha, no mínimo, cinco horas de aulas. Desse período, 60% do tempo será destinado as áreas do conhecimento (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas), que vão substituir as disciplinas individuais.
Algumas escolas particulares já começarão com essa mudança em 2022. É o caso do Colégio Perfil. “Para o primeiro ano, vai ser 100% dessa maneira. Estamos, inclusive, transformando nosso curso em semestral. No primeiro semestre, o aluno vai ter português, matemática. toda área de humanas e o projeto de vida, eletivas e trilha. No segundo semestre, sai humanas e entra natureza. É uma mudança ousada para dar ao aluno tempo e foco”, explica Bruno Abdon, professor e coordenador do núcleo de tecnologia e inovação.
Essas eletivas e trilhas citadas por Bruno fazem parte dos itinerários formativos, que são considerados a maior novidade no novo ensino médio. Eles serão escolhidos pelo estudante conforme a disponibilidade da instituição.“É algo que vai dar liberdade e personalizar o ensino. Com os itinerários, os estudantes vão poder botar a mão na massa, desenvolver projetos, produzir entregar resultados e até já montar um portfólio”, aponta. Os itinerários vão ocupar os 40% restantes das aulas, junto com uma outra novidade, o Projeto de Vida. Trata-se de um programa que deve ajudar os alunos a entender o que eles querem para o futuro. O Vieira já fornece esse tipo de projeto. “Ele me serviu para confirmar o que eu quero, ter certeza do que definitivamente não quero e do que pode servir como segunda opção”, explica a estudante Luísa Coelho, 17 anos, que pretende cursar Ciências da Computação. “Desde o primeiro ano eu pensava em fazer Medicina. Hoje, com o autoconhecimento do projeto de vida, pude ampliar meu campo de visão e já penso em outras possibilidades”, relata a estudante Beatriz Costa, 17 anos. Beatriz (esquerda) e Luísa (direita) aprovam o projeto de vida, novidade do novo ensino médio (Foto: arquivo pessoal) Outro colégio que já tem um tipo de Projeto de Vida é o Montessoriano. Por lá, o nome do programa é Líder em Mim (Lem). “O Lem é um programa de educação socioemocional focado em promover a mudança comportamental em educadores e alunos, desenvolvendo sua autoestima e autoconhecimento para que se tornem protagonistas de suas próprias vidas e da transformação da sociedade”, explica a pedagoga Carina Menezes, coordenadora do 9º ano do fundamental 2 ao ensino médio da instituição.
No Colégio Oficina, a partir de 2022, um projeto de trilhas será oferecido aos alunos do primeiro ano do ensino médio, em preparação para o novo sistema. “A partir do próximo ano, já estaremos implantando gradativamente, desde o projeto de vida até as trilhas”, relata a diretora Marcia Khalid.
Para especialista, colégios precisam de planejamento ao adotar novo ensino médio No Villa Global Education, as novidades do novo ensino médio começaram a aparecer já em 2021 na primeira série. “Em 2022, vai ser ampliado para a segunda série e, em 2023, para todo o ensino médio. Temos uma carga horária estendida, divisão do currículo em formação geral básica e itinerário formativo, com matérias eletivas que permitem o aluno traçar o próprio currículo”, explica Ricardo Andrade, diretor pedagógico do Villa.
Ele considera como principal ponto positivo do novo ensino médio a possibilidade de os alunos poderem ter uma parte dos estudos mais relacionada com o interesse para o ensino superior.“Os principais desafios são fazer com que a gente tenha uma escola que atenda em 360 graus a diversidade dos alunos. Temos que bancar os que gostam mais de humanas, de natureza... o colégio tem que se preparar tanto curricularmente, mas ter cautela para os impactos financeiros que isso pode causar. Um deslize pode inviabilizar toda a operação”, recomenda. Em nota, a Secretaria da Educação do Estado da Bahia informou que o estado finalizou, no dia 26 de agosto, a consulta pública do Documento Curricular Referencial Bahia (DCRB) do Ensino Médio e está em fase de revisão do texto-base para envio ao Conselho Estadual de Educação da Bahia (CEE-BA). “A consulta pública e o diálogo com diferentes atores contribuiu para que o DCRB do Ensino Médio contemple a diversidade e particularidade da Bahia, evidenciando a identidade do povo baiano”, disseram.
Ainda segundo a pasta estadual, 50% das escolas da rede já estão implementando o novo ensino médio. “No próximo ano, 100% já estarão adotando a nova arquitetura curricular nas turmas de 1ª série e, de forma gradual, as demais séries, até 2024”, prometeu.