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Após quase um mês de incerteza, partido do governador se aproxima de definir pré-candidata em disputa municipal
Donaldson Gomes
Publicado em 1 de fevereiro de 2020 às 07:00
- Atualizado há 2 anos
Desde que o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, avisou que não pretende disputar a Prefeitura de Salvador, o PT perdeu o seu candidato dos sonhos e a escolha do nome que vai representar o partido do governador Rui Costa vem sendo marcada por uma série de idas e vindas. No decorrer desta semana, esta reportagem precisou ser reescrita algumas, para se adequar às movimentações nos bastidores da disputa pelo Palácio Thomé de Souza.
Enquanto o prefeito ACM Neto (DEM) indicou ainda nos primeiros dias de janeiro o seu vice, Bruno Reis, como o seu pré-candidato, o maior partido que lhe faz oposição ainda vai precisar de alguns dias, pelo menos, antes de apresentar a sua aposta para a disputa de outubro. Nos últimos dias, o nome da major Denice Santiago ganhou força, graças ao apoio explícito de Rui ao seu nome, em detrimento dos outros quatro pré-candidatos que já estavam posicionados.
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Nos bastidores do Partido dos Trabalhadores o que se diz é que questão de tempo até que a policial militar, notabilizada pela criação da Ronda Maria da Penha, seja apontada como o nome petista. Diante do cenário, os defensores dos outros quatro pré-candidatos se dividem entre a resignação ante a vontade do governador e o desejo de protelar a fase de discussões para, quem sabe, conseguir um desfecho diferente.
Em entrevistas recentes, o governador e Wagner indicaram o desejo ter já neste 2 de fevereiro, quando a Bahia homenageia Iemanja o nome do partido para a disputa. Oficialmente, Rui disse que Denice se junta aos outros pré-candidatos. Afirma ainda que Salvador precisa ser governada por uma mãe. Reservadamente, apontou ela como a sua candidata durante um encontro com o ex-presidente Lula, noticiado pela Revista Veja.
Nos corredores do PT, o que se diz é que o governador já tem maioria para fazer valer o seu desejo de indicar Denice. E que isso vai acontecer em questão de dias. Da próxima semana não passa é o que se chega a dizer, mesmo entre quem defende outros nomes. “Se a major não puder aparecer como a pré-candidata no 2 de fevereiro, aparece no Carnaval”, brinca um aliado de Rui.
Desde 24 de janeiro, a reportagem vem tentando manter, sem sucesso, contato com a major Denice. Numas das ligações, ela chegou a sinalizar via SMS que não podia falar. Além dela, estão entre os pré-candidatos do partido o deputado estadual Robinson Almeida, o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, a socióloga Vilma Reis e a secretária de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis.
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Time em campo “Time que não joga, não tem torcida” é uma frase que costuma ser dita sempre que um político quer defender a necessidade de seu partido ou grupo lançar uma candidatura. Pois bem, internamente o PT tem a definição de que vai entrar em campo este ano para tentar conquistar pela primeira vez a Prefeitura de Salvador.
Há quatro anos, o partido não participou diretamente da disputa. Escalou os deputados Sargento Isidório (Avante), que na época vestia as cores do PDT, e Alice Portugal, PCdoB desde as divisões de base. Agora, a hipótese é apontada como remota pelos principais líderes do partido durante entrevistas e rechaçada como “impossível” nas conversas em off – quando o gravador do jornalista está desligado.
“Nós chegamos à disputa deste ano sem um nome natural”, reconhece o senador Jaques Wagner. Para ele, faltou preparar em 2016, quando Neto disputou com sucesso a reeleição, alguém para chegar agora em condições de bater Bruno Reis.
Apesar da constatação, Wagner acredita que o PT vai entrar para jogar. Só não sabe quando será divulgada a escalação. Durante a Lavagem do Bonfim, há pouco mais de quinze dias, ele apostava que o partido teria um nome em 2 de fevereiro, nos festejos a Iemanjá. De lá para cá, a executiva nacional do partido entrou em campo e estabeleceu 7 de fevereiro como data para discussões sobre a estratégia para as disputas municipais e a política de alianças que será adotada. Ou seja, na melhor das hipóteses, o nome sai no Carnaval. “A base do governador não terá apenas um candidato. Já existem outros que estão postos. O do PT será mais um”, minimiza o senador.
Recusa de Bellintani “Seria ele”, respondeu o deputado estadual Rosenberg Pinto, quando questionado sobre o nome do presidente do Bahia, Guilherme Bellintani. “Deveria ter sido o Bellintani”, diz quase num coro o ex-presidente do PT na Bahia, Everaldo Anunciação, atual membro da executiva nacional do partido. O desejo de parte da sigla esbarrou na contrariedade de parte da militância, que via no dirigente tricolor um peixe fora dágua no partido, além de um nome ligado a Neto.
Reservadamente, integrantes do partido apontam que teria faltado uma defesa mais enfática do nome por parte de Rui Costa à candidatura – algo que, pelo jeito ele corrigiu ao apresentar a major Denice. Apesar da possibilidade de se filiar à legenda do governador, o gestor tricolor teria ficado inseguro diante da necessidade de participar de uma disputa interna pela indicação, ou de ter o apoio partidário, mas não da base.
Sem Bellintani, o entendimento é que a major atenderia os anseios da militância do partido, pela candidatura de uma mulher negra, além de ser um nome novo na política eleitoral. Mas a indicação ainda precisa percorrer um longo caminho antes de deixar de representar uma parte do PT e representar o conjunto do partido.
“Existem quatro nomes postos”, responde Ademário Costa, presidente do PT em Salvador, quando questionado sobre o nome de Denice. “Existe a possibilidade de algum outro nome sim, mas somente se este nome formar consenso ou conseguir formar maioria no partido. Na condição que estes postulantes já estão, de participar de uma disputa para conseguir maioria, não vamos admitir mais ninguém”, avisa. “Só se um determinado nome conseguir estabelecer uma maioria”.
Segundo o presidente do PT em Salvador, Ademário Costa, a definição da candidatura depende da executiva nacional do partido, que só se reúne no dia 7. É ela quem vai apresentar um calendário para a escolha das candidaturas. Ademário diz que o nome que representará o partido precisa ser aceito pela militância, por Rui, Wagner e a direção partidária.
Everaldo Anunciação acredita que a militar não teria grandes dificuldades em ser aceita pela partido. “Nós somos muito abertos ao diálogo. No PT, o melhor argumento sempre vai vencer. Não fazemos nada por imposição, mas conversando acredito que o nome da major Denice pode ser aprovado sem problemas”, avalia.
“O PT tem seu ritmo próprio, sua metodologia, sua dinâmica. Aqui no PT os debates são valorizados e o diálogo em busca do consenso vão até onde houver espaço para o convencimento. Então, apesar de certa ansiedade, penso que o PT está dentro do seu prazo”, avalia o presidente estadual do partido, Eden Valadares. “O diretório nacional sequer definiu o calendário eleitoral oficial do partido ainda. Vamos seguir dialogando”, diz.
Os outros pré-candidatos O ex-ministro da Cultura Juca Ferreira acredita que a demora no processo de definição da candidatura petista pode trazer prejuízos eleitorais para o partido. “O PT tem uma briga interna que sempre gera projetos distintos no momento de escolha dos candidatos, principalmente para os cargos executivos”, diz. “Minha preocupação é que estrá demorando muito isso pode nos impedir de sermos competitivos. Não se trata apenas de escolher um nome, mas consolidar projetos e definir uma plataforma, convencer a cidade e este processo não pode começar na véspera da eleição”, avalia.
Para Juca, a possibilidade de realização de prévias será ruim para o PT. “Eu estou aberto para o que o partido escolher, mas acho que a esta altura seria inviável”, aponta.
Quando questionado sobre o perfil do candidato, o ex-ministro destaca a sua capacidade de gestão. “Eu sou um gestor testado e reconhecido como bom. Fui secretário de meio ambiente, fui ministro, depois fui secretário de cultura de São Paulo, depois de Belo Horizonte, sempre bem sucedido. Isso é uma qualidade pessoal”, afirma.
Para a socióloga Vilma Reis, o partido não deve fazer a definição a toque de caixa. Pré-candidata, ela diz que está disposta a enfrentar o processo de prévias. “A nossa posição é pela questão das prévias, já que temos quatro pré-candidaturas, temos duas mulheres negras, como parte de um debate nacional. Defendemos uma candidatura em Salvador, a maior cidade negra fora da África”, destaca.
“Claro que a gente tem o desejo de definição para tratar de outras questões e debater na condição de pré-candidata, mas se queimarmos etapas, vamos para uma situação complicada. É importante respeitarmos as etapas, atender às instâncias do partido”, ressalta.
Em relação à candidatura da major Denice, diz que “a partir do momento em que for filiada e colocada como pré-candidata, será mais uma pré-candidata”.
“A eleição de Salvador está nacionalizada pelo nosso direito de ter uma candidatura negra, feminina e de esquerda, que afirma a defesa dos direitos humanos, pelo fim da guerra as drogas e esta é uma pauta que cabe num partido comprometido com a classe trabalhadora”, diz. Questionada se Denice não poderia abraçar estas bandeiras, a socióloga disse que espera para ver. “Eu não sei, na hora em que a companheira se colocar a gente vai ouvir o que ela pensa. Eu debato estes temas há 30 anos junto com outras companheiras em movimentos sociais, ouvindo a sociedade”, diz.
Para a secretária da Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis, a indicação da major ainda precisará ser discutida dentro do partido. “É mais uma pessoa à disposição do partido para ser considerada”, diz. “Nós vamos conversar, essa é uma definição que será construída a muitas mãos, respeitando o processo democrático, escutando muito e respeitando a trajetória dos indicados”, avalia.
Sobre uma eventual possibilidade de composição com a major Denice, Fabya diz que “quem entra em um processo desses tem que entender e valorizar a democracia. Política é diálogo e construção. Tenho que ter abertura para convencer, é o meu esforço, mas tenho que ter abertura para ser convencida”.
Outro pré-candidato, o deputado estadual Robinson Almeida destaca o papel do PT dentro da aliança de partidos que apoiam o governador Rui Costa. “O PT não pode tomar uma decisão fora do timing da decisão geral do grupo. Estamos no aguardo de uma definição do governador e do conselho político destes partidos em relação à estratégia eleitoral que será utilizada”, explica.
Apesar do cenário traçado em conjunto com os demais partidos que integram a base do governador, o deputado acredita que o partido terá um nome próprio nas urnas neste ano. “Todas as hipóteses tem que ser debatidas, mas acho pouco provável não ter candidato próprio. É o partido do governador, que já se dispôs a apoiar outra candidatura em 2016. Eu vejo com naturalidade essa candidatura do partido”, acredita.
“Esse é um debate saudável e democrático. Eu acredito em meu perfil, de renovação, para a gente apresentar um projeto alternativo para a cidade, junto com as outras candidaturas do governo. Quem passar ao segundo turno será o candidato para ganhar a eleição em Salvador”, avalia.
Lídice lança pré-candidatura
A base de apoio a Rui Costa ganhou mais uma pré-candidatura nesta sexta-feira (dia 31), com o lançamento da deputada Lídice da Mata pelo (PSB). Ela se junta ao senador Angelo Coronel (PSD), Pastor Sargento Isidório (PSB), o deputado estadual Niltinho (PP) e a também deputada estadual Olívia Santana (PCdoB) entre os políticos ligados ao PT que indicaram uma candidatura própria este ano em Salvador.
“Essa candidatura buscará apresentar para a cidade ideias novas numa cidade que com todas as obras do governo do estado e da prefeitura continua com o desafio de ser uma campeã de desigualdade”, avaliou a pré-candidata.
Segundo Lídice o PSB e o PCdoB devem caminhar juntos na disputa pela Prefeitura de Salvador.
“Nós temos uma candidatura. Conversamos com o PCdoB sobre a possibilidade de uma aliança. Essa aliança faz a gente estar abertos a outras possibilidades, de receber apoio ou de apoiá-los”, explicou.
Além das conversas com o partido de esquerda, ela diz que tem conversado também com partidos de centro sobre possíveis alianças. “Existe chance de compor com outras forças. Nós não temos medo de dizer que somos de esquerda, mas estamos absolutamente abertos a todas as forças que queiram participar de um projeto de governo popular”, afirmou.
Apesar de ver com naturalidade a candidatura da major Denice, Lídice procurou ressaltar a própria história política. “Defendo uma candidatura que tenha a história política da construção democrática de Salvador. Eu faço parte desta história desde os anos 80. Eu fui vereadora de Salvador. Participei da primeira campanha para eleger diretamente um prefeito em Salvador”, lembrou.
“Eu acabei de ter uma conversa com o governador. Ele tem uma posição, nosso partido tem outra. Lançamos essa candidatura e vamos apostar em consolidar uma imagem na cidade”, disse.