Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Perla Ribeiro
Publicado em 23 de setembro de 2017 às 05:40
- Atualizado há 2 anos
Água é artigo de luxo para a professora Maria Célia Pacheco, 59 anos. É que na casa dela, no município de Mairi, o líquido só cai nas torneiras umas duas vezes por semana. O drama de Maria Célia é compartilhado por outros 836.250 baianos que vivem nas 40 cidades afetadas pelo racionamento de água no estado.
Das 366 cidades abastecidas pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), órgão ligado ao governo do estado, 11% delas deixaram de ter o fornecimento de água diário. Em fevereiro, o problema afetava apenas quatro cidades. Outros sete municípios que passaram por racionamento voltaram a ter o fornecimento normalizado nos últimos três meses.
“É sempre assim, cai água duas vezes por semana, no máximo. Tem ruas que, por causa da localização, cai mais vezes, mas tem outras que passam até uma semana sem cair água”, diz Maria Célia.
Membro da Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Mata do estado, zona rural de Capim Grosso, Suzana Lima de Matos, 27, vive a 51 quilômetros de Maria Célia, mas tem o mesmo problema - a falta de água.
Ela diz que o líquido chega a faltar por até uma semana na cidade: “Tem muita gente reclamando, indo para a casa de quem ainda tem água no reservatório. Falta água para tudo”.
Se na cidade, a falta de água já afeta a vida da população, na zona rural a situação consegue ser ainda mais crítica. No povoado de Mata do Estado, onde moram 130 famílias, há apenas 15 cisternas com capacidade para armazenar 52 mil litros de água. Mas elas não conseguem acumular água porque não chove.
“Quando vem chuva é muito fraca, não faz volume. Faz tempo que não chove forte. Por conta da falta de água, a criação de porcos está afetada. Porco precisa de água para ficar gordo, mas os daqui estão bem fraquinhos. Só não está pior porque a maioria das pessoas tem Bolsa Família”, destaca.
A Embasa explica que o racionamento é por conta do longo período de estiagem, que atinge a Bahia e da diminuição do nível dos mananciais (barragens, açudes, rios e poços) utilizados para abastecimento. Entre elas, as barragens de Pedras Altas, São José do Jacuípe e Ponto Novo.
Ainda segundo a Embasa, a medida é adotada para evitar que os sistemas de abastecimento entrem em colapso e, ao mesmo tempo, é necessária para garantir a continuidade do serviço até que volte a chover nas regiões afetadas pela seca. Por conta do racionamento preventivo, a distribuição de água tem sido feita em dias alternados, para diferentes áreas da cidade, com intervalo médio de dois dias, diz a Embasa.
Seca A Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec) informou que, atualmente, mais da metade dos municípios baianos declarou situação de emergência por conta da seca. Ao todo, são 227. A superintendência disse ainda que a seca afeta diretamente 5,1 milhões de baianos.
Cerca de 40% do semiárido brasileiro está na Bahia, estado que possui a maior população do semiárido no país, com 6,4 milhões de pessoas. O estado tem 265 municípios inseridos na região e abriga 31% da população do semiárido do país.
De acordo com o meteorologista do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), Aldirio Almeida, a estação chuvosa deveria começar em outubro, mas vai sofrer um atraso por causa das próprias condições climáticas. Por isso, em algumas regiões, a situação só deve se normalizar no mês de novembro - para as outras não há nem previsão.
“Em novembro deve haver regularidade do nível das chuvas com estação chuvosa de qualidade, mas apenas nas regiões Centro-Sul, Oeste, Sul e Sudoeste. As regiões Norte e Nordeste do estado não têm previsão de regularidade das chuvas até o final do ano”, informa. A Embasa divide a Bahia em Norte e Sul - e todos os municípios atingidos pelo racionamento estão no Norte.
Barragens Diretor de Águas do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídrico (Inem), Eduardo Topázio explica que, embora parte dos reservatórios baianos esteja com um bom nível de água, há outros que vivem um quadro crítico.
“Curiosamente, há lugares muito próximos em que há reservatórios com o nível bom e outros muito ruins. Na Bacia do Itapicuru, por exemplo, há dois rios principais, um deles, o Pindobaçu, está com o nível muito ruim, enquanto no outro a situação é melhor”, explica.
Outra barragem que tem gerado preocupações é a de Pedras Altas. Responsável por abastecer 13 municípios (Candeal, Capela do Alto Alegre, Capim Grosso, Gavião, Ichu, Nova Fátima, Pé de Serra, Pintadas, Quixabeira, Riachão do Jacuípe, São Domingos, São José do Jacuípe e Valente), ela está chegando perto do zero e já está no nível de alerta.
Outro sinal vermelho, segundo Topázio, é com relação à Bacia do Paraguaçu. “O problema é a região do Alto Paraguaçu, que está com o nível muito próximo a zero. Mas o estado já está discutindo formas de transpor água de um lugar para o outro”, informa.
Responsável por cerca de 60% do abastecimento de Salvador, a barragem de Pedra do Cavalo também chegou a representar uma ameaça, mas hoje, segundo Topázio, a situação já é um pouco melhor.
“Pedra do Cavalo está com o nível ainda baixo, mas dentro de um volume que atende Salvador plenamente”. Ele destacou que o governo vem trabalhando com excesso de cautela para garantir o abastecimento humano. “Isso vai ser mantido enquanto não tivermos segurança para contornar essa realidade”.