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Da Redação
Publicado em 7 de setembro de 2022 às 16:34
- Atualizado há 2 anos
Indígenas da etnia Pataxó, nos municípios de Prado e Porto Seguro, no sul da Bahia, protestaram nesta quarta-feira (7) mediante aos ataques que vêm sofrendo. No domingo (4) o adolescente Gustavo Conceição da Silva, de 14 anos, foi vítima fatal de disparos de arma de fogo no fim da madrugada por pistoleiros, segundo moradores da Aldeia Vale do Rio Caí, onde aconteceu a invasão. Já na madrugada desta quarta houve novo ataque de pistoleiros, desta vez, na Aldeia Nova. Não houve feridos.
O cacique Purinã Pataxó, da Aldeia Nova, explica que a ausência de feridos se deu porque os indígenas se refugiaram quando a invasão começou, às 18h da terça-feira (6). Ele conta que pistoleiros mataram animais e a polícia só chegou na madrugada do dia seguinte. “Como a gente não tem arma e viu movimentação estranha, a gente falou com famílias para estar recuando. [Os pistoleiros] derrubaram portas, invadiram casas”, diz. O cacique afirma que o objetivo da invasão foi amedrontar a comunidade e assassiná-lo, visto que é o líder na região.
A situação no sul do estado se acirrou depois da iniciativa de reconquista de territórios originários. A invasão do Território Indígena Comexatibá, no domingo (4), aconteceu após retomada indígena de terras ainda não demarcadas no dia 1º. Já são cinco retomadas desde o início do movimento, em junho. O Território possui 16 aldeias, nenhuma é demarcada.
Segundo os indígenas, a invasão é feita por pistoleiros contratados por fazendeiros da região. “Estão colocando premiações nas cabeças de caciques. Pistoleiros contratados por fazendeiros, donos de terra [em que nós] fazemos retomada ou estão perto de território indígena ficam com medo da gente retomar, ficam com medo de perder terras inutilizadas”, conta Manuhã Pataxó, jovem liderança da Aldeia Tibá"[As invasões estão acontecendo em] aldeias distantes umas da outras. Ou seja, estão montando esquema para atacar aldeias e desarticular e enfraquecer nosso povo porque sabem que o governo não esta dando total apoio", aponta.Apesar das denúncias, lideranças revelam que os governos federal e estadual não estão mobilizando policiais para ronda e segurança para evitar mais assassinatos. “Nossa maior perda é saber que órgãos competentes não estão dando apoio para comunidades”, lamenta Eduardo.
Secretário de Assuntos Indígenas do Prado, Xawâ Pataxó, conta que o clima é de tensão. “Muitos indígenas estão com medo, alguns estão em aldeias nos interiores mais próximos à floresta no próprio território e outros estão amedrontados sem poder sair de suas comunidades até para comprar alimento. Estão com dificuldade em comprar alimento porque se [saírem dos territórios] correm risco de ser mortos”, denuncia.
A Polícia Civil (PC) investiga autoria e motivação do crime cometido no último domingo.
Em nota, a Polícia Militar informou que a Companhia Independente de Policiamento Especializado (CIPE) Mata Atlântica foi acionada e informada pelo cacique Purinã Pataxó que sua aldeia estava sendo atacada por disparos de arma de fogo vindo da mata. No local, as guarnições realizaram rondas, porém nenhuma arma, munições ou suspeitos foram encontrados.
Ainda de acordo com a PM, os militares seguem na região do conflito, "realizando ações de policiamento ostensivo e preventivo objetivando a manutenção da ordem pública".
Bloqueio das vias Na segunda-feira (5), após o conflito que resultou na morte de um adolescente de 14 anos, um grupo formado por indígenas fechou todos os acessos ao Território Comexatibá, com o intuito de proteger a comunidade que mora no local.
Segundo Xawâ Pataxó, secretário de Assuntos Indígenas do Prado, os autores dos ataques permanecem na região, ameaçando lideranças indígenas, o que motivou o fechamento, promovido pelos indígenas, dos acessos às terras ocupadas. "Precisamos que a Polícia Federal se encaminhe para o local visando a garantir a segurança do nosso povo", disse ele na ocasião.
Os indígenas pedem ainda que a Polícia Federal assuma o comando "para desintrusão e retirada das milícias e pistoleiros contratados para espalhar a morte e o terror no nosso território, ao longo das estradas de servidão e acessos vicinais".
O crime A Delegacia Territorial de Prado está investigando o assassinato do adolescente indígena Gustavo Conceição da Silva, de 14 anos, que foi vítima de disparos de arma de fogo na madrugada do último domingo (4), em uma fazenda em Prado. Os autores do crime, ainda não identificados, atingiram outro adolescente, de 16 anos, com um tiro no braço. O menor foi encaminhado a um hospital da região, mas já está em casa.
De acordo com informações da Polícia Civil, a autoria e a motivação ainda estão sendo investigadas, e os laudos periciais da Polícia Técnica irão ajudar na apuração do caso.
Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) afirma que houve uma invasão do Território Indígena Comexatibá por grupo de pistoleiros, todos munidos com armas calibre 12, 32, fuzil ponto 40 e bomba de gás lacrimogêneo. Eles teriam chegado ao local em um carro modelo Fiat Uno, efetuando os disparos contra os índios.
A entidade diz que o clima na região é tenso e de muita tristeza. "Esse ataque não é isolado, faz parte de uma série de atentados que tem se intensificado na região". A Apib diz que a falta de demarcação no território tradicional Pataxó tem sido decisiva para o agravamento do quadro.