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Giuliana Mancini
Publicado em 9 de junho de 2020 às 07:05
- Atualizado há 2 anos
O São João está a 15 dias de distância. Se fosse em qualquer outro ano, milhares de soteropolitanos já estariam na contagem regressiva para pegar o 'caminho da roça' e rumar a outras cidades da Bahia, de olho no forró, comida típica e licor no interior do estado. Mas, em 2020, os planos mudaram. Por causa da pandemia do novo coronavírus, as viagens e festas acabaram canceladas - e até o feriado teve sua data alterada, para o fim de maio.>
A falta que o São João tradicional fará é lamentada por muita gente. Mas, principalmente, pelo setor de excursões e bate-volta. Na Eli Tour Viagens e Eventos, o plano era, neste ano, levar de cinco a seis ônibus, com 50 pessoas cada, para sete eventos no interior do estado - o que daria cerca de 1.750 clientes.>
"Em todos os anos, oferecemos pacotes para o Forró do Lago, em Santo Antônio de Jesus, para o Piu-Piu, em Amargosa, para o Forró Coffee, em Itiruçu, para o Bongo, em Catu... E a expectativa para 2020 era muito boa. São João é uma época certa para a empresa - sejam os clientes que se antecipavam e compravam com antecedência até os que fechavam em cima da hora. Estamos calculando que deixaremos de ganhar, por baixo, R$ 30 mil", disse Elielton Dias, gerente da Eli Tour.Um cenário ainda pior é calculado para a Top Trip. "Ao todo, nesse período, nossa média é movimentar entre 4.700 e 5.200 pessoas em nossos bate voltas e excursões. Em 2020, a gente estava prevendo um crescimento de 20% no faturamento, em relação ao ano passado. Porém, com o cancelamento do São João, devemos deixar de ganhar entre R$ 70 mil e R$ 100 mil", afirmou João Tenório, gerente comercial da empresa.A Top Trip normalmente organiza viagens para Senhor do Bonfim, Ibicuí, Irecê, Amargosa, Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus e Catu, com cerca de 3 mil clientes optando por bate-volta e 2 mil fechando excursões maiores. "São João é nossa melhor época. Agora, não tem nem o que fazer. O turismo está 100% parado. Estamos com planejamento de outras viagens a partir de agosto, mas ainda é tudo incerto", lamentou Tenório.>
A Niti Entretenimento é outra empresa que organiza pacotes para o São João, com excursão, hospedagem e ingressos, saindo de Salvador e Feira de Santana e com Ibicuí como destino. O grupo não revela quanto deixará de ganhar em 2020, mas Rodrigo de Sá, sócio, admite: "para a produtora, é a melhor época de faturamento".>
"Todo ano, nós aumentamos a quantidade de pessoas. Em 2019, foram 7 ônibus, com 50 pessoas em cada. Em média, o pacote girava em R$ 600 de hospedagem, com direito a café da manhã, almoço, bebidas, segurança e cozinheira nos 4 dias que ficaríamos lá. O transporte, de R$ 200 por pessoa, é em um ônibus com atendimento de excelente qualidade", continuou.>
Se os tradicionais festejos juninos foram cancelados em 2020, as empresas já pensam no ano que vem. "Sabe quando a gente quer muito fazer uma coisa mas, por algum motivo, não pode? É isso que está acontecendo. Por isso, acredito que 2021 será o melhor São João da vida de muita gente. O povo está com saudade", garante João Tenório, da Top Trip.>
Rodrigo é menos enfático, mas também está esperançoso. "Creio que o público ficará um pouco receoso com tudo que estamos passando, mas o São João da Bahia tem uma grande força. Esperamos que 2021 seja excelente".>
Só na saudade Não são só as empresas de turismo que sentem falta dos clientes no São João: quem também está acostumado a curtir o período no interior da Bahia também lamenta a mudança de cenário em 2020.>
"É a minha época favorita, prefiro que Carnaval. Amo tudo: o forró, a comida, o friozinho... E, todos os anos, vou para alguma cidade do interior. Já viajei para Ibicuí, Senhor do Bonfim, Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus, Cachoeira, Amargosa", contou a advogada Lara Galvão, de 26 anos. Lara, entre amigas, em uma festa em Ibicuí, em 2016 (Foto: Acervo pessoal) Segundo ela, as organizações para os festejos juninos começariam entre o fim de abril e início de maio. Como a pandemia do novo coronavírus já tinha se espalhado pelo Brasil, Lara nem chegou a planejar o tour deste ano. "Dá uma falta no coração. Antes mesmo do São João ser cancelado, mas quando já havia perspectiva disso acontecer, eu já estava sofrendo", lamentou.>
Fã de carteirinha de Bell Marques, o empresário Adriano Souza, de 44 anos, também ruma todos os anos para o interior no São João. No caso dele, o destino é certo: Santo Antônio de Jesus, onde acontece o Forró do Lago, que tem o ídolo como anfitrião. Adriano e a esposa, Rayane Silva, durante o Forró do Lago (Foto: Acervo pessoal) "Vou há cerca de 10 anos. Já ia desde quando era puxada, ainda, pelo Chiclete com Banana. Depois, durante alguns anos, a festa não aconteceu. Mas, quando retornou ao calendário junino, voltei a marcar presença. Inclusive, já tinha comprado ingresso para esse ano. É muito triste essa situação toda, por causa da pandemia", disse o empresário.>
Para Adriano, porém, há uma forma de amenizar a saudade. "As lives ajudam muito", garantiu.>