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Bruno Wendel
Publicado em 23 de outubro de 2018 às 13:49
- Atualizado há 2 anos
O risco iminente de ter suas fotos e conversas íntimas divulgadas nas redes sociais atormentaram por uma semana a vida de uma recepcionista de 33 anos da cidade de Feira de Santana. Após deixar o celular numa loja para revenda, ela foi chantageada pelo proprietário para fazer sexo após ele ter acesso ao conteúdo do aparelho de forma criminosa. A aflição da vítima chegou ao fim nesse domingo (21) com a prisão em flagrante do criminoso num motel.
Fernando Alves Souza Coelho, 34 anos, dono da loja Lengo Cel, foi autuado pelos crimes de ameaça e conjunção carnal ou ato libidinoso com alguém mediante fraude na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Feira de Santana. Ele passará por audiência de custódia nessa quarta-feira (24). No último dia 14, a recepcionista foi à Lengo Cel, situada na Rua JJ Seabra, Centro de Feira, na tentativa de consertar um aparelho Iphone. No entanto, durante a negociação, a recepcionista acabou comprando um aparelho novo. Ela teve um desconto após entregar o aparelho antigo – cautelosa, apagou todas as informações, mas o cuidado não surtiu efeito.
“Ele recuperou todos os dados móveis do Iphone de forma criminosa, usando recursos através de um computador e um cabo USB para invadir a privacidade dela”, contou o advogado da vítima, Péricles Novais.
Dois dias depois, inicialmente, Fernando Alves ligou para a recepcionista dizendo que queria ter um encontro amoroso, mas ela negou, respondendo que não tinha interesse, que era comprometida.“Aí, ele começou a enviar mensagens do tipo: ‘você não quer ir pelo amor ou pela dor?’. Ela perguntou: ‘Por que pela dor?’. Então, ele disse que tinha provas contra ela. Minha cliente perguntou que provas e ele enviou fotos dela nua e conversas íntimas do WhatsApp”, contou o advogado da vítima. As ameaças duraram uma semana. As mensagens chegavam ao celular da recepcionista várias vezes durante o dia. Em algumas delas, a vítima pedia para Fernando Alves parar, que ele estava fazendo chantagem - o empresário, no entanto, insistia em fazer sexo com a vítima, inclusive dava detalhes o que pretendia fazer com ela num motel. “Ela já estava mais que desesperada. Minha cliente tem uma filha de 15 anos. Ele disse que além de disseminar as fotos e conversas para grupos de WhatsApp, inclusive da família, ia mandar o conteúdo para a filha dela”, disse o advogado. (Foto: Reprodução) Prisão Num momento de desespero, a recepcionista resolveu ceder à chantagem de Fernando Alves. “Ela só aceitou na condição de que ele primeiro apagasse tudo. Então, ela foi ao motel com ele”, contou o advogado. Dentro de motel na Avenida Contorno, a vítima pediu para que o empresário cumprisse com a promessa, mas ele negou.
“Ele disse que apagaria depois que tivessem a relação sexual. Na verdade, ela percebeu que ele não ia apagar, que ia manter as fotos e as conversas para chantageá-la outras vezes”, disse o advogado.
Então, a recepcionista foi ao banheiro do quarto do motel, de onde ligou para a polícia. Instantes depois, uma equipe do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto) da 66ª Companhia Independente de Polícia Militar (66ª CIPM) entrou no motel e prendeu o empresário, que foi levado para a Deam.
Na unidade, ele foi interrogado e autuado pela delegada Edileuza Suely Cardoso Ramos, titular interina da Deam. Conversas no WhatsApp entre a vítima e o criminoso foram anexadas ao inquérito.
O CORREIO tenta falar com a delegada Edileuza Suely sem sucesso desde a manhã desta terça-feira - a informação foi de que pela manhã ela teria ido ao médico. O CORREIO procurou também a assessoria da comunicação da Polícia Civil, mas não obteve resposta.
'Armação' O CORREIO entrevistou Rosimário Carvalho, advogado do empresário. Em relação à prisão em flagrante, ele disse que tudo não passou de uma 'armação', já que a recepcionista e o empresário já tiverem um envolvimento.
“Eles já ficaram uma vez e só houve beijo. Ele estava no dia de lazer e recebeu um convite dela para ir ao motel. Ele cedeu aos encantos dela. Marcaram um lugar para um encontro. Ele pegou ela na Praça do Fórum e se dirigiram ao motel. Ele foi para o banho, ela saiu para fazer uma ligação. Cinco minutos depois, três policiais militares entraram. A porta já estava aberta. Foi gerado um flagrante. Meu cliente foi vítima de uma armação”, declarou o advogado do suspeito.
Sobre o acesso às imagens e conversas no WhatsApp da recepcionista, Rosimário disse que “são alegações que serão comprovadas através de perícias, porque são crimes que deixam vestígios”.