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Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2021 às 16:20
- Atualizado há 2 anos
Uma família de ciganos de Vitória da Conquista, Sudoeste da Bahia, está sendo acompanhada pela Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE/BA) após a instituição receber denúncias de perseguição de policias militares à comunidade cigana após o assassinato de dois PMs na região. Cinco mulheres e sete crianças da família foram deslocadas para o município de Jequié e a Defensoria busca a inserção delas em um programa de proteção a testemunhas.>
O caso teve início em 13 de julho, quando houve um duplo homicídio praticado contra policiais e atribuído a uma família de ciganos que residia na localidade. Após isso, e com informações passadas populares, PMs iniciaram perseguição aos supostos autores. Ao todo, dez homens foram acusados de envolvimento: um pai – que deu entrada em hospital com ferimentos à bala e já teve a prisão preventiva decretada – e nove filhos. Três deles morreram em confrontos com policiais, em Vitória da Conquista e também em Itiruçu.>
O CORREIO contou o caso dessas famílias em reportagem publicada neste domingo (25). Há casos de pessoas que tiveram que fugir de casa por conta do medo.>
Coordenador da 2ª Regional da Defensoria, sediada em Vitória da Conquista, José Raimundo Passos explicou que a providência imediata foi se reunir com o Comando de Policiamento do Sudoeste. >
"Os policiais militares foram convocados pelo respectivo Comando, que informou que não iria tolerar nenhum tipo de perseguição à comunidade cigana, a qual não tem nada a ver com a ação homicida contra os policiais", informou.>
O defensor público explicou que as pessoas pertencentes à família dos acusados – as cinco mulheres e sete crianças – estavam sendo atendidas pela Secretaria de Desenvolvimento Social de Vitória da Conquista. >
“Foi conseguido um abrigo provisório para que elas não permanecessem na comunidade. No entanto, diante da falta de segurança em Vitória da Conquista, elas desejavam ir para a cidade de Jequié”, completou.>
Com isto, foi necessário acionar coordenação da 12ª Regional da DPE/BA, situada em Jequié. Como o respectivo município não tem abrigamento para pessoas em situação de risco, foi encontrada uma alternativa provisória para as cinco mulheres e sete crianças.>
“Não vi outra alternativa a não ser acionar um abrigo provisório, uma associação filantrópica que sobrevive de doações e está buscando cadastro diante de órgãos competentes para receber recursos públicos. Embora com dificuldades financeiras e sem a estrutura necessária, o local se dispôs prontamente a receber o agrupamento familiar. E, conversando com a superintendência estadual de Direitos Humanos, decidimos buscar uma solução definitiva, que seria a inserção em um programa de proteção”, explicou a defensora pública Yana de Araújo Melo, coordenadora da 12ª Regional.>
Em Jequié, o Núcleo de Assistência Psicossocial local da DPE/BA estudou alguns programas de proteção em que a família pudesse se encaixar. Ao consultar a família e identificar o interesse, foi contatada a coordenação da Especializada de Direitos Humanos, a qual está encaminhando a solicitação de inserção no programa de proteção. Desde então, já foi realizada uma entrevista virtual de urgência com duas das cinco mulheres.>
“Neste momento, o que precisamos é garantir os direitos humanos dessas pessoas, que, ao que tudo indica, foram inclusive recusadas pela comunidade cigana de Jequié. É uma situação muito difícil, pois a população se fecha e acha que a Defensoria está atuando em prol de pessoas que oferecem risco ao município. Não é fácil ter essa posição contramajoritária de defendê-las, é nossa responsabilidade”, afirmou a defensora Yana de Araújo.>
O caso já ganhou repercussão nacional e o conflito entre policiais militares e ciganos não mais se restringe ao grupo familiar. Entre as diversas instituições e órgãos públicos que contataram a Defensoria para acompanhar o caso estão o Ministério Público Federal, por meio de procuradores da República; e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.>
Inclusive, o secretário nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Paulo Roberto, esteve reunido diretamente com os defensores públicos estaduais José Raimundo e Yana de Araújo, além dos coordenadores do Núcleo de Integração da DPE/BA, Cristina Ulm e Maurício Saporito.>