Acesse sua conta

Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Recuperar senha

Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Dados não encontrados!

Você ainda não é nosso assinante!

Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *

ASSINE

Arrombamentos e disputa do tráfico expulsam veranistas do Recôncavo

Praias de Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres, em Saubara, convivem com violência e tem inúmeras casas à venda

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 19 de julho de 2019 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

O ar bucólico das praias do Recôncavo, tão apreciado pelos nativos e veranistas, já não é o mesmo de antes. Faz cerca de três anos que os casos de arrombamentos em Saubara vem mudando drasticamente o cenário – os relatos dão conta de que nove casos aconteceram em dois meses este ano nos distritos praieiros de Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres. Só este ano, a Polícia Civil investiga 22 inquéritos sobre furtos em residências da região.

O CORREIO esteve em Saubara e constatou o reflexo dessas ações criminosas: inúmeros imóveis de alto padrão estão à venda entre Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres. “Por onde se olha tem placas de ‘vende-se’. Isso nunca aconteceu. Antigamente, para se comprar uma casa aqui era um sacrifício. Ninguém queria se desfazer porque era um local agradável de viver, de passar o final de semana com a família. Hoje, o que não falta é gente querendo sair daqui. Não tem segurança. É assalto a toda hora, as casas à beira da praia são arrombadas toda hora”, contou um morador de Cabuçu. 

Além dos casos de arrombamento, um outro problema atormenta moradores e veranistas de Saubara: a rivalidade entre as facções Katiara e Bonde do Maluco, o BDM (leia mais ao lado). “Aqui quase não se vê revólver. Os caras andam de pistolas e metralhadoras. Circulam de moto para cima e para baixo”, relatou um morador.

Cabuçu A praia de Cabuçu, com águas apropriadas para a prática de esportes náuticos, como windsurf e vela, além de uma bela visão da Baía de Todos-os-Santos, é conhecida popularmente como ‘Praia do Oi’. É a mais frequentada do município – geralmente por pessoas das cidades vizinhas e que se conhecem.

“Vem gente de tudo  que é canto, mas a grande maioria é de Feira de Santana. E é isso o motivo de tudo. Junto com as pessoas de bem de lá vieram os criminosos também, que começaram a frequentar as praias inúmeras vezes, fazendo ‘festa do pó’. Grupos começaram a se estabelecer”, relata o dono de um mercadinho no local. Clima bucólico das praias deu lugar ao medo por conta dos arrombamentos e do tráfico (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Com a violência, vieram os arrombamentos. O CORREIO apurou com alguns donos de mansões à beira-mar que, entre junho e julho, pelo menos nove imóveis do tipo foram arrombados  pelos criminosos – levaram tudo o que puderam carregar, como eletroeletrônicos.

A situação mais recente aconteceu no dia 9 deste mês, quando bandidos invadiram a casa de um major aposentado da Polícia Militar. O imóvel fica próximo à entrada do bairro Riacho Doce. Nesse dia, outra casa também teve as portas abertas à força pelos bandidos.

“Eles usaram alguma coisa para ter acesso. Mexeram em tudo. Os donos ainda não prestaram queixa”, contou uma professora universitária de Salvador, cuja família tem uma mansão em Cabuçu que foi arrombada e saqueada no dia 15 de junho, na Rua da Praia - um prejuízo de R$ 3,5 mil.

“A gente fica exposto. Essa época não tem policiamento no local. É um lugar que a gente tem para reunir a família  duas vezes no ano –  férias de São João e dezembro. Tenho esperança que as coisas vão melhorar, mas enquanto não houver segurança de fato não pensamos em voltar lá. É a insegurança impedindo  a gente de usufruir do nosso patrimônio”, declarou.

Segundo a Polícia Civil, operações conjuntas têm sido feitas na região e prisões ocorreram. As investigações concluíram, até o momento, que os arrombamentos têm como objetivo a troca e venda dos objetos para a compra de entorpecentes.

A maioria das mansões invadidas é ocupada pelos donos duas ou três vezes no ano. Boa parte deles têm caseiros, mas isso não impede a ação dos criminosos que ainda são audaciosos. “Em alguns casos, arrombaram com os caseiros, que nada podiam fazer. Em outro caso, chegaram a fazer uma festança que durou mais de um dia, com direito a banho de piscina, muita bebida e outras coisas”, contou a professora. A Delegacia de Saubara funciona em horário administrativo; moradores, muitas vezes, não conseguem prestar queixa (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Delegacia fechada Como não bastasse o prejuízo e o medo, a professora disse que, diante da dificuldade para registrar a queixa, quase desistiu de ir à delegacia de Saubara. “Na primeira tentativa, a delegacia estava fechada. Havia um cadeado. Eram 11h de um sábado. Bati e ninguém saiu. Pelo relato do povo de Saubara, é comum a delegacia ficar fechada, pois a unidade só tem dois únicos agentes e ficam vulneráveis à ação dos criminosos. O delegado quase não fica lá”, diz.

Segundo a Polícia Civil, o delegado Felipe Madureira atende também Conceição do Jacuípe e, por isso, a delegacia funciona em regime administrativo. Para ocorrências em outros horários, há o plantão da 3ª Coopin (Santo Amaro).

Segundo a Polícia Civil, aconteceu nesta quinta-feira (18) uma reunião na Delegacia de Saubara com representantes do Comando Geral da Polícia Militar para alinhar ações de policiamento ostensivo e investigativo, que já serão iniciados nos próximos dias. 

Bom Jesus dos Pobres No distrito de Bom Jesus do Pobres, a 3 quilômetros da Praia de Cabuçu, bandidos têm agido com mais frequência. “Apesar de ter casas tão boas quanto Cabuçu, aqui é mais afastado do centro de Saubara, da delegacia, então a bandidagem faz a festa. Invadem não só as casas à beira- mar, como as que estão às margens das pistas, nos morros”, disse um comerciante.

Segundo ele, os objetos preferidos dos arrombadores são botijões, televisores, micro-ondas, monitores, prataria e até telhado. Alguns imóveis são arrombados mais de uma vez. O comerciante conta que os objetos roubados são trocados por drogas. 

É difícil até vender imóveis. “A dona da  casa avaliada hoje em R$ 300 mil pede R$ 150 mil para se livrar daqui e não consegue. A casa é linda, de frente para o mar, mas quando toma conhecimento dos arrombamentos, o possível comprador desiste na hora”, afirmou. Sem segurança, muitas casas na região estão à venda; imóveis invadidos são mansões (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Disputa por tráfico cria 'toque de recolher' preventivo A disputa pelo controle do tráfico de drogas entre as facções do Bonde do Maluco (BDM), com forte atuação em Cabuçu, e Katiara, que atua em Bom Jesus dos Pobres, vem se acirrando e apavorando quem vive nos locais. 

“Essa rivalidade, que antes não existia, coisa de três anos para cá, mudou a nossa rotina. Aqui é Katiara. Mas antes, toda a Saubara era Katiara. Chegou o pessoal do BDM em Cabuçu, botou todo mundo que não era do grupo deles para correr. Hoje, o BDM quer tomar Bom Jesus, mas a Katiara aqui é forte e a gente é quem fica nesse fogo cruzado, nesse inferno”, explicou um agente de endemias. Segundo ele, como os tiroteios aconteciam à noite, quando os bares estavam abertos, a solução encontrada foi fechar os bares às 18h. 

E fechando mais cedo, os comerciantes deixam de faturar. “Não tem quem olhe por nós. Eu sou um dos mais prejudicados porque antes eu colocava música ao vivo e o bar ia até de madrugada. Hoje, se eu fizer isso, corro o risco de ter uma carnificina aqui dentro. Prefiro atrasar minhas contas do que perder vidas, inclusive a minha ”, disse o dono de um bar.

As pichações com iniciais ou frases das facções estão espalhadas nas paredes de casas, estabelecimentos comerciais, prédios públicos, como escolas. Além disso, Saubara tem a sua “Faixa de Gaza”. É a localidade de Pedras Altas – entre Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres.

Na Rua das Pedras Altas, cerca de 30 casas estão abandonadas. “Eram famílias que deixaram tudo para trás  porque viviam num fogo cruzado. Os tiroteios são constantes e os moradores não aguentavam”, disse um caseiro de Bom Jesus dos Pobres. Localidade conhecida como Pedras Altas fica na fronteira entre áreas dominadas pela Katiara e pelo BDM (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Polícias Civil e Militar têm realizado operações na região Em relação às denúncias, a Polícia Militar informou, em nota, que a 20ª CIPM (Santo Amaro) realiza rondas com viaturas diuturnamente nas localidades de Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres. A unidade conta ainda com o apoio da Companhia Independente de Policiamento Tático Rondesp/RMS e da Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) Litoral Norte que realizam abordagens na região.

Segundo a PM, a 20ª CIPM tem desenvolvido operações e ações preventivas em parceria com a Polícia Civil. Uma das operações foi no dia 3 de julho, após uma denúncia de que residências em Cabuçu tinham sido invadidas para ser utilizadas como ponto de venda de drogas.

No local, os policiais encontraram um homem e dois adolescentes armados. Em uma casa na Praia do Sol, os PMs encontraram um suspeito, que morreu em confronto.

Em nota, a Polícia Civil informou que operações já resultaram nas prisões, em junho deste ano, de Marcos Antônio dos Santos, receptador de aparelhos roubados, e José Augusto da Cruz Junior, acusado de arrombamentos. Ambos já estão soltos.

“A unidade de Saubara e a 3ª Coorpin/Santo Amaro realizam diversas operações para coibir a criminalidade na região, a exemplo da Operação Cabuçu Livre, que investigou e desarticulou uma organização criminosa responsável por roubos, tráfico de drogas e homicídios, no distrito de Cabuçu”, diz a nota.

Maria Bethânia vende duas casas no local Entre os muitos imóveis à beira-mar à venda na localidade de Pedras Altas está uma das casas da cantora baiana Maria Bethânia. O imóvel fica em frente à Rua Leme e a venda é negociada há sete meses por um corretor identificado como Peixoto. Segundo ele, a primeira casa tem 63 metros de comprimento, dois andares, estilo colonial, 15 quartos (alguns ficam no andar superior e oferecem uma vista privilegiada do mar), uma piscina, píer, playground, sala de estar, salão de jogos, garagem para lancha.

A casa tem mais de 20 anos e a cantora pede R$ 1,4 milhão. “É uma excelente localização e era onde Maria Bethânia costumava receber amigos ilustres, como Roberto Carlos”, diz o corretor.

A segunda casa à venda pela cantora está na Rua do Porto, próximo ao centro comercial de Cabuçu. Tem 63 metros, oito quartos, piscina, playground, também de dois andares. “Era a casa de Dona Canô. É uma casa mais modesta e também é a Bethânia que está vendendo”, contou. Segundo ele, a cantora pede R$ 1,1 milhão pelo imóvel.

O CORREIO perguntou o motivo das vendas: “Ela não tem mais interesse. Ela está numa certa idade e não tem mais vontade de curtir aquilo ali”, declarou. Por meio de sua assessoria de comunicação, Maria Bethânia informou que não costuma comentar sua vida pessoal.