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Hilza Cordeiro
Publicado em 9 de outubro de 2019 às 21:10
- Atualizado há 2 anos
O misterioso petróleo cru que atinge o Nordeste está descendo e chegando à costa baiana, que já tem uma faixa afetada de cerca de 138 Km de praia. Esta área compreende os municípios de Camaçari e Jandaíra, no limite com Sergipe, na região do Litoral Norte do estado. A fatia corresponde a mais de 10% da quilometragem de praia da Bahia, indo desde Guarajuba até Mangue Seco. >
Ao todo, treze praias baianas de seis municípios têm registro de betume. No Nordeste são 139 localidades oleadas, nas quais 22 animais foram encontrados mortos ou feridos, segundo o último balanço do Ibama. Nesta terça-feira (9), o órgão havia informado que cerca de 10 toneladas de resíduos já haviam sido recolhidas na Bahia.>
O CORREIO esteve em Praia do Forte e em Porto de Sauípe, nesta quarta-feira (10), onde o fluido chegou de maneiras diferentes. Enquanto em Praia do Forte identificam-se apenas vestígios, as localidades mais acima da Linha Verde registram manchas concentradas em poças, como Entre Rios. Casal argentino não vai deixar mancha de óleo atrapalhar a viagem (Marina Silva/CORREIO) Vindos da Argentina, o casal de empresários Analía Prosdocímo e Jorge Uanino souberam do óleo pela televisão do hotel onde estão hospedados desde o último domingo (6). Eles disseram que os chinelos Havaianas comprados por lá ficaram mesmo com umas “bolinhas” de betume, presentes na Praia do Lord. Mesmo com a ocorrência, eles não desanimaram em curtir os 40 anos de casados e ficarão em Praia do Forte até sábado.>
Já em Subaúma, no município de Entre Rios, o óleo atinge não apenas o mar, mas também a foz do rio que dá nome à localidade. Segundo o gerente do Nanö Beach Club, Thiago Figueiredo, a situação por lá é de dar tristeza. “É um sentimento horrível porque nós temos uma relação com o local, uma relação que é afetiva. Nossa comunidade tem uma tendência para o turismo e isso afeta não só essa atividade, mas também o pescador e o ambiente em que vivemos”, lamentou.>
'Empesteado' Um morador de Subaúma gravou um vídeo na praia mostrando a situação do local, com o óleo nas águas e na areia, além de peixe morto. "Mancha de óleo na praia da gente. Já tá empesteada de óleo. (...) Isso é um absurdo! (...) É óleo puro. Já peixe morto e o escambau", diz ele, mostrando também as manchas do material nas ondas. Assista.>
O lamaçal comprometeu toda a faixa de praia de Subaúma, onde há trechos com poças e partes mais espaçadas, descreveu o gerente, que considerou que a área está bem afetada. Ainda segundo ele, técnicos da Petrobras e do Ibama já estiveram lá e traçarão um plano de ação para a remoção da cobertura da substância. “Oferecemos toda a nossa estrutura como base para isso e fizemos a ponte entre esses órgãos, a prefeitura e a associação de moradores. Nós vamos fazer uma ação coletiva e o clube entrará com mão de obra”, informou.>
Tartarugas Em Porto de Sauípe, pertencente ao mesmo município, um pescador também se entristece ao pensar no comprometimento da vida marinha e do seu sustento. “Do que eu tenho mais pena é das tartarugas, que são ingênuas e saem comendo isso aí”, desabafa Washington Lázaro, 36, que pesca mariscos desde os quinze anos. Mariqueiro observa pedaços de óleo na costa (Marina Silva/CORREIO) O Projeto Tamar confirmou que as áreas mais atingidas foram Sergipe e o extremo norte da Bahia, na divisa. Como em Praia do Forte a situação está sob controle, os técnicos da instituição não viram riscos na soltura de parte dos filhotes que estavam retidos, provenientes de ninhos das regiões mais afetadas. A bióloga marinha Denise Santos informou que no momento o projeto monitora 250 Km da costa, onde há 117 pontos de desova. Ainda nesta semana, 20 ninhos estão previstos para brotar tartaruguinhas. A temporada reprodutiva vai de setembro a março.>
Partindo da base aérea de Salvador, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) identificou manchas médias e grandes na localidade de Porto de Sauípe. O piche foi avistado na areia da praia e nas rochas costeiras. Conforme o órgão, a concentração do material se intensifica na direção de Baixios, no município de Esplanada. Junto com pesquisadores da Ufba, o Inema tem acompanhado os estudos de impacto ambiental e as operações de remoção do material.>
CONFIRA LISTA DE PRAIAS AFETADAS: Mangue Seco Coqueiro Barra da Siribinha Barra do Itariri Sítio do Conde Baixio Mamucabo Subaúma Porto do Sauípe Praia do Forte Santo Antônio Guarajuba Itacimirim>
Preocupação>
Até o momento, todas os serviços de Praia do Forte estão funcionando. Os barcos saíram para pesca, passeios no mar continuam sendo feitos, a soltura de tartarugas está mantida e o banho de praia está acontecendo. De acordo com o pescador Luciano Antônio, presidente da Colônia Z-38, “o ponto onde ficam os barcos não tem uma gota de oléo”, tranquilizou. Luciano diz que as embarcações saíram normalmente nesta quarta (9) e que a atividade segue sem impedimentos. Apenas uma pequena quantidade de óleo pode ser observada em Praia do Forte (Marina Silva/CORREIO) Uma atendente da Pousada Ogum Marinho, localizada na rua principal, disse que não houve perda de reservas por lá, já que Praia do Forte não chegou a ser tão atingida. Para ela, é boa a expectativa para o final de semana de Dia das Crianças. Na empresa de passeios turísticos EmyTour os atendimentos aos turistas seguem no padrão, inclusive mergulho para observação da fauna marinha. >
“Estamos operando, mas preocupados de que esse óleo se aproxime até o final de semana porque, afinal, não há muito o que fazer a não ser cancelar os passeios. Nós temos tranquilizado os clientes que chegam perguntando porque não tivemos nada demais até o momento. Somos sinceros porque não adianta vender o passeio e ao chegar lá não ter viabilidade, a pessoa não poder curtir”, comentou o vendedor Gilvan Almeida.>
De acordo com Paulo Meireles, secretário de Planejamento e Meio Ambiente da Prefeitura de Mata de São João - a qual Praia do Forte pertence - a limpeza das praias já foi autorizada e iniciada pela administração municipal, voluntários e colaboradores de grandes hotéis da região.>
Prefeituras da Linha Verde se unem em busca de solução>
Com a difusão da mancha de óleo pelo Litoral Norte, os gestores de Mata de São João, Conde e Camaçari se reuniram, na tarde desta quarta, com o Ibama e o Inema para debater o alcance dos resíduos e suas consequências. Ao final da encontro, foi firmado um pacto de colaboração entre os municípios para resolver o problema.>
Agora os gestores preparam um documento para ser enviado ao governo do Estado. De acordo com o secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do município de Camaçari, Genival Seixas, os locais afetados devem se unir, pois “o problema de um é o problema de todos”. >
Agora, cada município vai criar uma equipe de voluntários para a limpeza das praias. “Por enquanto, em Camaçari, temos só sinais em proporção pequena. Estamos indo para Conde para ver a dimensão que está lá. Estamos preocupados porque lá também começou com pequenos indicativos”, pontuou o secretário.>
*Colaborou Marina Hortélio, com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>