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Bruno Wendel
Publicado em 25 de março de 2021 às 17:00
- Atualizado há 2 anos
Momentos antes de ter sido encontrada morta com um tiro na nuca, na cidade mineira de Divisa Alegre, a dentista Ana Luiza Souto Dompsin, 25 anos, havia discutido com o namorado, um policial militar baiano. Durante a discussão, que começou em um posto de combustível e terminou dentro de um imóvel, os vizinhos escutaram a dentista pedindo para o tenente Amaurí dos Santos Araújo, 33, ir embora.
“O pessoal da cidade falou, que a briga começou no posto de gasolina da cidade. A vizinha contou que carro chegou 00h40, e eles entraram. Houve muito barulho e discussão, que ouvi ela dizer para ele ir embora. Lá por volta das 2h, todos os vizinhos ouviram um barulho forte. Uma vizinha ligou para o marido, que é policial e chegou logo. Foi quando ele (Amauri) saiu de da casa se identificando também como policial e que alguém havia se matado”, contou ao CORREIO a mãe de Ana, Keila Souto.
Segundo a família da dentista, o casal, que se conheceu em julho de 2019, já havia se separado duas vezes – todas após Ana sofrer agressão do PM – e reatado havia 15 dias. Em uma discussão no ano passado, ele apontou uma arma para ela. “Voltaram há 15 dias, mas das outras duas vezes a relação terminou porque ele batia nela. Desta vez terminou porque ele a matou”, declarou a mãe de Ana, sobre o tenente Amaurí, lotado na 80ª Companhia Independente (CIPM/Cândido Sales). Apesar das agressões, Ana nunca procurou a polícia. “Ela não foi a nenhuma delegacia. Ela nuca disse para a nós. Quem me contou das agressões foi uma amiga dela. Ela terminava e não queria mais vê-lo, mas não contava o motivo para a gente. Justamente não queria falar das agressões”, disse a mãe. O caso é apurado pela Polícia Civil de Minas Gerais e, por ora, duas linhas de investigação foram levantadas: suicídio, versão apontada pelo namorado, ou feminicídio - hipótese em que a família acredita. Através de nota, a PC informou ao CORREIO que apreendeu a arma do disparo, de uso do policial, para ser periciada. “A investigação está em andamento na Delegacia de Polícia de Pedra Azul”, diz. Agressões Keila disse que numa conversa recente, a dentista contou que tomava um anti-inflamatório para conter as dores no braço direito após uma agressão do policial. “Ele bateu na mão dela com tanta força, que a dor enraizou no braço todo. Ela vinha tomando remédio para conter a dor. Dias antes da morte, ela me disse que estava melhorando, mas que a dor persistia”, contou a mãe de Ana ao CORREIO. Segundo Keila, a filha e o policial começaram a namorar em julho de 2019. O primeiro término aconteceu no dia 1 de janeiro de 2020. “Ele apertou o pescoço dela num hotel, e então ela acabou [o namoro]. Cinco meses depois, eles voltaram e ficaram juntos por 10 dias, até ele bater nela novamente. Estavam separados e reataram há 15 dias. Ele era possesivo, ciumento. Esses eram os motivos de suas agressões. Sempre ela terminava, e ele a procurava”, relatou a mãe. Após a morte da dentista, Keila soube de outros espancamentos sofridos pela filha. Uma amiga confidente da dentista contou para a mãe sobre o tenente ter apontado uma arma para Ana. “Ela relatou que minha filha sofria muitas agressões. Disse também que uma certa vez ele apontou a arma para Ana. Ela foi impedir que ele continuasse cortando os presentes que havia dado a ele, quando puxou a arma. Essa amiga de minha filha presenciou tudo, junto com o filho. Ela tomou a frente de minha filha e implorou para ele não atirar, que havia uma criança assistindo tudo aquilo. Foi quando ele foi se acalmando e abaixou a arma”, contou. Feminicídio Apesar de polícia mineira não dar detalhes do caso, Keila disse ao CORREIO que, aos poucos, o argumento do policial, de que a namorada cometeu suicídio, vem sendo descartada na investigação. A mãe da dentista já foi ouvida pela polícia e vem mantendo contato com os policiais envolvidos no caso. “Além de ser muito pouco provável uma pessoa tirar a própria vida com um tiro na nuca, perguntei aos policiais se havia pólvora nas mãos de minha filha e a reposta foi não”, declarou Keila. Ela relatou outros pontos que levam a crer que a filha foi vítima de uma feminicídio. “Ele disse à polícia que ela levantou da cama, tirou a arma dele do coldre e seguiu para outro cômodo da casa e se matou. Como é que ela pega a arma e ele não percebe? Outra coisa: a arma dele tem quatro travas de segurança. Ou seja, é uma arma que não é igual às outras. Tem que ter habilidade e minha filha não gostava de armas, além de ser uma pessoa do bem e sempre era pela vida”, declarou.