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Donaldson Gomes
Publicado em 11 de junho de 2022 às 10:58
- Atualizado há 2 anos
Luís Eduardo Magalhães, a 970 quilômetros de Salvador, foi o local escolhido pela New Holland para lançar uma das maiores colheitadeiras no mundo, durante a 16ª Bahia Farm Show (BFS), encerrada no último dia 4. Com um sistema de navegação que tem margem de erro de 1,5 centímetros e é capaz de “aprender” com o operador como deve realizar o seu trabalho, o equipamento foi um dos muitos destaques tecnológicos na maior feira agrícola do Norte e Nordeste.Máquinas que aprendem, capazes de operar de maneira autônoma e que podem ser controladas de qualquer lugar. Estes equipamentos, alguns nas casas dos milhões de reais, já existem e são as razões para que profissionais da área de TI estejam sendo cada vez mais demandados nos campos do Oeste da Bahia. As fazendas avançam no uso da agricultura de precisão, automação e inteligência artificial.
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O apetite por tecnologia dos produtores da Bahia, Maranhão, Tocantins e Piauí, que juntos formam a sigla Matopiba, somado a um intervalo de dois anos sem a realização da Bahia Farm, fizeram da atual edição a maior de todos os tempos, com recordes que surpreenderam até o mais otimista entre os organizadores.
O montante de negócios realizados cresceu 315%, passando de R$ 1,9 bilhão na última edição, em 2019, para R$ 7,9 bilhões, de acordo com os dados preliminares divulgados. Outro recorde batido foi o de público, com 101.555 pessoas que circularam pelo Complexo Bahia Farm Show. Em 2019 o público foi de 65 mil pessoas.
“São números expressivos e que refletem uma demanda reprimida, reflexo de dois anos de pandemia”, avalia o presidente da Feira, Odacil Ranzi, que é também presidente da Associação Baiana dos Produtores e Irrigantes (Aiba). “Ficamos dois anos sem a feira, os produtores estão capitalizados, houve duas safras boas, com preços do mercado excelentes”, complementa.
As expectativas de novos aumentos na safra também ajudam a explicar o aquecimento no mercado de máquinas e equipamentos. As três principais culturas agrícolas do Oeste – soja, algodão e milho – devem crescer neste novo período. No caso da soja, a expectativa é que o volume de grãos ultrapasse os 7 milhões de toneladas e registre um crescimento de 3,5%, enquanto o algodão pode alcançar uma alta de 10%, com 1,3 milhão de toneladas, e o milho chegando 2 milhões de toneladas, o que vai representar 11,8% de alta.
“As últimas duas safras foram espetaculares para o Oeste da Bahia. No próximo ano, temos uma dificuldade em relação a um adubo chamado de cloreto de potássio, mas isto pode ser superado”, diz. “Quando chegar em agosto, vamos começar a produzir e pedir a Deus que em abril do ano que vem colhamos outra supersafra”, destaca.
O presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Luiz Carlos Bergamaschi, explica que para os produtores da região Oeste investir em tecnologia e inovação é questão de sobrevivência.“O conhecimento tem o poder de transformação. Nós temos batido recordes de produtividade e isso pode indicar para as pessoas que é fácil produzir no cerrado, mas não é esta a explicação para os resultados que alcançamos”, diz.Segundo o produtor rural, o sucesso da região está ligado à busca constante por conhecimento, tecnologia e a adoção das melhores práticas relacionadas à agricultura. “As dificuldades fizeram os produtores buscarem cada vez mais tecnologia de produção”, diz.
Segundo Bergamaschi, as melhorias trazem não apenas mais produtividade, mas também produtos de qualidade internacional e menores impactos ambientais, pela otimização de recursos, além de alavancar uma grande transformação social. Isso porque as máquinas de última geração demandam trabalhadores cada vez mais qualificados.
Questionado se a tecnificação não é algo que gera desemprego, ele conta que nos últimos dois anos, a Abapa qualificou 52 mil pessoas em seus centros de treinamentos, na cidade de Luís Eduardo Magalhães. “Tem muita tecnologia nas máquinas e se não nos movermos para preparar os trabalhadores isto realmente poderia criar uma barreira para eles, mas estamos fazendo a nossa parte. Estes números só não foram maiores por conta do período de pandemia”, acredita.
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Soluções customizadas Para atender um mercado exigente, as empresas costumam apostar em soluções cada vez mais customizadas. O uso das tecnologias impacta significativamente na produtividade e nos resultados atingidos no campo. Sinal da preocupação dos produtores baianos com tecnologia é que o estado é o segundo estado brasileiro em número de aviões de pulverização no modelo norte-americano Air Tractor, de acordo com AeroGlobo Aeronaves.
Uma das principais marcas presentes, a John Deere apostou numa nova colhedora de algodão, a Cotton CP770, que oferece aumento da velocidade de colheita, fardos mais densos e maiores, além de uma nova cabine que proporciona mais tecnologia e ergonomia. A empresa também apresentou a nova versão do trator 9R 540, com motor melhorado cabine renovada e sistema de ar condicionado. Já a plantadeira DB ExactEmerge, também da John Deere, tem maior nível de precisão de plantio e maior velocidade, atingindo até 16 quilômetros por hora, o que significa cobrir o dobro da área de equipamentos tradicionais.
A Maxum Case destacou os tratores Magnum AFS Connect e Steiger AFS Connect, que já possuem em seu DNA toda a capacidade de conectividade. As máquinas oferecem telemetria e gerenciamento remoto, podendo ser acessadas a partir de qualquer lugar. Na Bauer, o destaque foi um sistema de controle inteligente dos pivôs de irrigação. Em casos de paradas inesperadas, os equipamentos vão emitir alertas para os produtores, que podem responder com comandos, mesmo à distância, e solucionar os eventuais problemas.
O diretor de Mercado Brasil da New Holland Agriculture, Eduardo Kerbauy, conta que a empresa optou por realizar o lançamento da colheitadeira CR 10.90 Intellisense na Bahia Farm por conta da relevância que o mercado do Matopiba tem para os negócios da empresa. Ele diz que o mercado de máquinas e equipamentos já esperava um desempenho significativo após o crescimento das safras registrados nos últimos anos. “O agronegócio deu uma enorme demonstração de força durante a pandemia, mantendo-se em crescimento de modo robusto e sustentável”, ressalta.
Segundo Kerbauy, o segmento de máquinas e equipamentos chegou a projetar um baque de 30% com a chegada da pandemia de covid, porém, lembra ele, rapidamente as expectativas se alteraram. Ele explicou que as feiras agrícolas em todo o país têm surpreendido positivamente, mas lembrou ainda de uma característica que distingue a Bahia Farm. “Quem vem para a Bahia Farm Show está em busca de melhorias para a sua propriedade”, diz.
Entre 2020 e 2021, o mercado de colheitadeiras e tratores cresceu cerca de 10% no Brasil e este ano, espera-se algo entre zero e 5%, principalmente por conta das dificuldades de acesso a insumos de produção, pelas fabricantes dos produtos.
“Nós trouxemos para cá o lançamento da CR 10.90 porque o público que queremos atingir está aqui”, conta. O equipamento, ideal para colher grãos, como soja, milho e feijão é classificado como um classe 10, o maior do tipo. Carlos Schimidt, especialista em colheitadeiras da marca, explica que o equipamento pode ser operado até mesmo por pessoas que não tenham um domínio profundo de tecnologia. “É possível fazer pequenos testes e a própria máquina pergunta a quem está operando se a pessoa está satisfeita com o tipo de operação que ela está realizando, ou se quer mudar. Com o tempo, ela aprende a fazer do jeito se espera dela”, afirma.
“Os clientes buscam cada vez mais conectividade, telemetria, inteligência artificial e ferramentas de gerenciamento”, explica. Segundo ele, um dos maiores gargalos para o desenvolvimento do agro no país hoje é a internet.
Essa demanda por conectividade, inclusive, vem estimulando a indústria de máquinas agrícolas a investir em iniciativas como a Conectar Agro, que reúne fabricantes, empresas de telefonia e governos. Até agora, mais de 7 milhões de hectares foram alcançados no país, graças à iniciativa. Com isso, mais de 600 mil pessoas foram beneficiadas.
Sayuri Motoshima, especialista em agricultura digital da New Holland, explica também que outra demanda crescente no setor é pelo máximo de controle possível no processo de produção. Cada vez mais se demanda as operações na palma das mãos, através dos aparelhos celulares, ou nas telas de computadores ou tablets. “Hoje é possível acessar as informações sobre frota em tempo real pelo celular”.
Muitas empresas que atuam no setor já oferecem aos produtores rurais serviços de acesso a centrais de inteligência, onde é possível acompanhar dados que facilitam o trabalho e ajudam a melhorar a produtividade e a eficiência no uso dos diversos recursos.
Um dos destaques da Horsch, que trabalha com tecnologia agrícola para o cultivo do solo, semeadura e proteção de plantas, foi uma máquina que nasceu da demanda de um grande grupo nacional que opera também no Oeste da Bahia. Atendendo o pedido, a fabricante apresentou a adubadora EVO CS, que promete a correta adição de fertilizante granulado na linha, em profundidade, com mecanismos dosadores elétricos, ofertando ao usuário melhor desempenho na operação, quando comparado com os distribuidores centrífugos. Uma das vantagens é o melhor aproveitamento da janela de plantio. “É um equipamento que é capaz de realizar três tarefas em uma”, conta Maik Penner, gerente de marketing da marca para a América Latina.
Acordo por dívidas Os Estados da Bahia e do Tocantins firmaram um acordo mútuo de demarcação de divisas. A limitação da divisa entre os Estados era pedida há mais de 30 anos por produtores rurais da região. O acordo foi feito conforme divisa estabelecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A assinatura do acordo foi feita pelos governadores dos dois estados, Rui Costa (Bahia) e Wanderlei Barbosa (Tocantins). O presidente da Aiba, Odacil Ranzi, destacou a importância do acordo para segurança jurídica do agronegócio do Oeste Baiano. "Esse acordo traz segurança jurídica para produzir e comercializar na região", afirmou.
Visita ilustre Entre diversas autoridades nacionais e estaduais que prestigiaram a Bahia Farm Show este ano, o embaixador do Irã, Hossein Gharibi, se destacou entre os visitantes internacionais. Foi a primeira vez que um embaixador daquele país visitou a feira agrícola demonstrando o fortalecimento do intercâmbio entre produtores do Oeste da Bahia. Essa é a primeira vez que um embaixador daquele país visita a feira agrícola demonstrando o fortalecimento do intercâmbio entre produtores do Oeste da Bahia. “A Bahia é um estado muito importante para o Irã. Estou aqui para conhecer a feira e saber mais sobre o agronegócio desta importante região. Percebemos que pode haver um intercâmbio comercial entre os países para incrementar a comercialização de diferentes culturas como milho, algodão, carne animal, setores em que pode haver cooperação entre o Irã e a Bahia”, pontuou o embaixador Hossein Gharibi.
Reportagens premiadas Representantes de alguns dos principais veículos de comunicação da Bahia e do Brasil participaram do lançamento do edital 2022 do Prêmio Abapa de Jornalismo. A iniciativa visa estumular a produção de conteúdo sobre a cotonicultura baiana e o reconhecimento dos profissionais e estudantes de comunicação que se dedicam à cobertura desta atividade produtiva, na qual o estado ocupa o segundo lugar do ranking nacional de fornecimento da fibra. O Lançamento ocorreu no estande institucional compartilhado entre a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) e a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), na Bahia Farm Show.
O edital do concurso já se encontra no site da Abapa (www.abapa.com.br), e traz o regulamento para quem deseja participar, nas categorias Profissional e Estudante, e nas modalidades de mídia contempladas. Para concorrer aos prêmios, que totalizam R$81 mil, sendo R$36 mil para professores e estudantes e R$45 mil para a categoria profissional, os interessados devem se inscrever até o dia 09 de setembro e as matérias submetidas deverão ter sido publicadas em veículo de mídia, conforme a modalidade, entre os dias 25 de maio e 05 de setembro de 2022.
Sustentabilidade na pauta Com boa participação de produtores rurais, o terceiro dia de programação de palestras da 16ª edição da Bahia Farm Show contemplou um debate de uma série de diálogos sobre ‘Eficiência e Sustentabilidade no Processo Produtivo’. Ministrada pelo pesquisador da Embrapa Cerrados, Dr. Lineu Rodrigues, a palestra foi promovida pelo Land Innovation Fund (LIF). Parceiro da Aiba, o fundo internacional se preocupa em realizar ações, projetos e iniciativas em favor da agricultura sustentável. O gerente de Sustentabilidade da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Enéas Porto, e a representante do LIF, Mariana Galvão, destacaram algumas ações já desenvolvidas entre as duas instituições na região Oeste da Bahia, como a Comunicação e engajamento com o produtor, a ferramenta de cálculo do Carbono, o Sistema de Inteligência e Monitoramento Ambiental (Sima).
Mulheres no campo Com o objetivo de destacar o protagonismo da mulher no cenário da agricultura regional, um painel de debates sobre a temática ‘A mulher no Agro’, foi realizado durante a Bahia Farm Show. Com participação das produtoras rurais, Carminha Missio, Suzana Viccini, Alessandra Zanotto e Camila Carvalho, o painel foi conduzido pela jornalista Georgina Maynart da Rede Bahia e TV Oeste. “São mulheres que tem histórias incríveis, inspiradoras, competentes, atuantes, batalhadoras, que trabalham na gestão das fazendas, cuidam dos filhos, que venceram barreiras e ao mesmo tempo se consolidaram como grandes profissionais” revelou a jornalista e mediadora do painel, Georgina Maynart, que ainda complementou. “A Bahia e o Brasil precisam conhecer mais sobre o Oeste Baiano, as pessoas que trabalham aqui, empreendedores e sobre essa preocupação com a sustentabilidade, pensando no futuro sempre”.
Agricultura familiar A 16ª edição da Bahia Farm Show ampliou em mais de 200% o espaço para abrigar produtores e associações que tiram do campo o sustento e fortalecem as economias locais. O pavilhão da agricultura familiar abrangeu 34 estandes com produtores de diversas localidades da Bahia e do Brasil que estão trazendo artesanato de pano, indígena e quilombola; produção de mel e cachaça; produtos derivados de carnes especiais, do leite, milho, mandioca, cacau e frutos do cerrado; variedades de doces e biscoitos.
*O jornalista viajou para a Bahia Farm Show a convite da AIBA
O projeto de conteúdo Bahia Farm Show é uma realização do jornal Correio com o apoio da ABAPA.