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Da Redação
Publicado em 16 de setembro de 2018 às 05:35
- Atualizado há 2 anos
A parede rosa do casarão do século XVIII está descascada e os pisos e tetos de madeira já não parecem aguentar a idade. Na porta de uma das salas, um tapume verde improvisado é a única proteção da História preservada logo ali dentro. Grande guardião da história do estado, o Arquivo Público do Estado da Bahia (Apeb) tem perdido logo para o tempo. O tempo dos sucessivos descasos com a manutenção do espaço, concebido desde 1890 e instalado no bairro de Baixa de Quintas desde 1980.
A reportagem do CORREIO entrou no casarão e verificou alguns 'erros' no Arquivo. Numa das salas da administração, no térreo, fios soltos no chão estão completamente embolados. No banheiro feminino do mesmo pavimento, um interruptor arrancado ainda deixa expostos alguns cabos.
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Não parece que ao redor daquelas salas, distribuídas em dois andares, estão documentos raros como registros da Revolta dos Alfaiates, a Conjuração Baiana, e alguns outros datados do período colonial. Tampouco que, entre 2011 e 2013, o prédio tenha funcionado sem energia elétrica devido ao risco de um curto-circuito. Até janeiro de 2015, mudanças na rede elétrica colocaram a energia de volta às lâmpadas, computadores e ar-condicionado. Mas os registros da história ainda parecem vulneráveis. A história à revelia do tempo.
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A despeito dos riscos, o Arquivo Público do Estado recebe cerca de 500 pessoas por mês. Os visitantes quase sempre são pesquisadores ou estudantes buscando informações para seus trabalhos. É o caso de Pablo Purificação, historiador de 22 anos formado pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ele é morador do bairro de Macaúbas, bem próximo à sede do Arquivo, mas confessa que só conheceu o acervo aos 17 anos, quando ainda estava no primeiro semestre da faculdade de História, em uma matéria de iniciação ao curso.
As visitas de Pablo ao Arquivo se tornaram mais frequentes quando ele foi aprovado no mestrado, onde desenvolve uma tese sobre a formação dos grupos de marinheiros em Salvador e na Bahia a partir da segunda metade do século XX.
“Já encontrei muita coisa interessante aqui. De uns 2, 3 anos pra cá passei a frequentar mais e costumo encontrar muita coisa boa em minhas pesquisas. Mas também tem problemas, tipo alguns livros e documentos que não podem ser utilizados porque o estado de conservação é ruim. É complicado porque não pode usar e também não há nenhum trabalho pra restaurar esses materiais e fica uma espécie de arquivo morto", conta o mestrando.
Risco Quando chegou pouco depois do gradeado do Arquivo, a aposentada Rosa Maria, 54, teve a sensação: “Entrei aqui [na área frontal ao Arquivo] e veio logo a memória do Museu Nacional [no Rio de Janeiro, consumido pelas chamas]".
A pesquisa parece rápida, boa parte dos funcionários é atenciosa com os visitantes. A preocupação com o Arquivo, na verdade, é absolutamente estrutural. Quando chega a noite ou em dias de jogo do Bahia, ainda pior. Sobem os fogos de comemoração, os funcionários ficam apreensivos.“Imagine como é que a gente não fica aqui. Toda essa história aqui, desse jeito que a gente sabe que tá, né? E esse fogo”, desabafa um funcionário, sob anonimato. Há extintores para eventuais casos de incêndio, nunca registrados no Casarão. Mas também não há placas de indicação, instruções para uso, por exemplo. “Isso têm que melhorar. Não pode ficar assim”, reclama Rosa. O historiador e professor Urano Andrade, que frequenta o Apeb quase que diarimente, ainda tem outra preocupação: o portão principal do Arquivo não comporta a entrada de uma viatura do Corpo de Bombeiros, se for necessário. E ainda há um posto de combustível em frente às entrada do lugar.
Melhorias A Fundação Pedro Calmon, órgão vinculado à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia responsável pela gestão do espaço diz que o Arquivo não ficará nestas condições. Até agosto, os 2.477 usuários do Arquivo, segundo a Fundação, já puderam pesquisar em depósitos com desumidificadores e aparelhos que medem a temperatura.
O Arquivo também está em fase licitatória para restaurações. Pelo menos de acordo com a Fundação, o projeto chamado Restauração e Reforma do Arquivo Público terá apoio financeiro do Ministério da Cultura e investimento médio de R$ 3 milhões.
Os assoalhos e forros, no entanto, encontrados em alguns pontos com deteriorações visíveis, já passaram por restauro em dezembro de 2014. O órgão também afirma que, no andar térreo, foram “instaladas telas nas portas e janelas visando à filtragem do ar”.
*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier