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Potência marítima: Baía de Todos-os-Santos movimenta 97% das cargas do estado

Portos da região investiram em modernizações e ampliações de capacidade nos últimos anos

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 28 de outubro de 2023 às 05:00

Sozinha, a Baía de Todos-os- Santos praticamente iguala resultados das outras duas grandes economias do Nordeste Crédito: Marina Silva/CORREIO

Das pouco mais de 40 milhões de toneladas de cargas que são movimentadas pela Bahia todos os anos – sejam elas petróleo e derivados, contêineres, grãos ou outros produtos –, quase 97% foram movimentadas por portos ou terminais nas margens da Baía de Todos-os-Santos (BTS).

Sozinha, a BTS praticamente iguala a movimentação registrada nas outras duas grandes economias do Nordeste, Pernambuco e Ceará, que, juntos, movimentaram 47 milhões de toneladas em seus portos no ano de 2022, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

Os números indicam ainda que no ano passado o volume de cargas movimentadas na área cresceu 7,19%, com destaque para a movimentação de cargas de longo curso, voltadas para o comércio exterior, cuja expansão foi de 15,1%. Mais do que um belo cartão de visitas, ou pano de fundo para uma selfie, o acidente geográfico oferece condições únicas para o transporte marítimo e é, naturalmente, um trunfo do estado para a conquista de mercados no comércio exterior.

Graças a uma série de investimentos realizados nos portos públicos e em terminais privativos nos últimos anos, os pontos de partida ou chegada de mercadorias deixaram, já há algum tempo, de ser um gargalo e se tornaram impulsionadores do desenvolvimento da Bahia.

Investimentos

Diversos investimentos e projetos anunciados modificaram as perspectivas em relação à BTS. O Terminal de Contêineres do Porto de Salvador (Tecon Salvador), do Grupo Wilson Sons, por exemplo, recebeu mais de R$ 1 bilhão em melhorias. Em Aratu, a CS Porto Aratu já investiu R$ 105 milhões e projeta aplicar R$ 730 milhões nos dois terminais que foram concedidos a ela. Ali perto, o Terminal de Cotegipe, fundamental para a movimentação de grãos do Oeste, também passa por um processo de ampliação. No encontro do Paraguaçu com a BTS, a Enseada, desde o ano passado, tem movimentado cargas de minério de ferro vindas do interior.

“A Baía de Todos-os-Santos é uma dádiva de Deus, uma reentrância grande como é, com águas abrigadas, sem assoreamento e com condições meteorológicas que nos permitem operar o ano inteiro com muita tranquilidade”, descreve Demir Lourenço, diretor executivo do Tecon Salvador. “Temos naturalmente condições operacionais que, em outros lugares, só são alcançadas com investimentos muito elevados”, completa.

Terminal está utilizando tratores de pátio elétricos  Crédito: Divulgação Tecon

O que o Tecon fez, desde a sua chegada, foi trazer melhorias para potencializar as condições da região para a movimentação de contêineres, explica Lourenço. Ele frisa que o número de R$ 1 bilhão é em valores nominais, sem levar em conta a correção monetária. “Os equipamentos que instalamos em Salvador nos colocam numa posição de vanguarda. Temos sistemas que são iguais aos utilizados nos maiores e melhores portos do mundo e temos, inclusive, equipamentos melhores”, diz. Um exemplo disso são os tratores de pátio, recém-adquiridos, que são totalmente elétricos.

“Quando fazemos investimentos, procuramos os mesmos fornecedores que atendem os maiores terminais do planeta e o que a gente pergunta sempre é o que tem de novo, o que ainda vai se tornar uma tendência”, explica o diretor do Tecon. Segundo ele, a busca pela redução da pegada de carbono e a contribuição nos processos de transição energética está presente no grupo há bastante tempo. Um exemplo claro disso pôde ser notado em 2011, no momento da compra dos RPG’s, equipamentos usados para a movimentação de cargas entre o terminal e os navios. O Tecon foi o primeiro e é um dos poucos a ter os equipamentos elétricos e com sistema de regeneração da energia. Quando a carga é levantada o equipamento consome, mas no momento de arriar, parte da energia é regenerada.

No início deste mês a CS Porto Aratu inaugurou um pátio dedicado ao armazenamento de enxofre no terminal ATU-12, no Porto de Aratu, com capacidade para receber e armazenar 100 mil toneladas de enxofre e mais 50 mil toneladas de coque. Foram investidos R$ 20 milhões na modernização dos pátios. Desde que assumiu a concessão da área, no final de 2020, a empresa já investiu mais de R$ 105 milhões em obras de melhorias e modernização nos terminais ATU-12 e ATU-18. A previsão é investir mais de R$ 730 milhões nos primeiros três anos de operação.

Com as melhorias, a empresa espera que a produtividade dos terminais passe de 300 para 2 mil toneladas/hora em cada berço. Em relação a capacidade de movimentação, estima-se uma ampliação de 2 milhões para 12,5 milhões de toneladas por ano.

O especialista em portos e logística de Comércio Exterior, Matheus Oliva, CEO do Movimento & Oportunidade, acredita que a Bahia precisa respeitar a vocação portuária da BTS. “É a capital da Amazônia Azul. Eu digo, sem exagero, que é um dos melhores sítios portuários naturais do mundo. Águas abrigadas adjacentes ao oceano, incrível profundidade, clima ameno ao longo do ano, enfim, praticamente perfeita para atividades portuárias”, descreve.

“O que precisa ser feito é assumir a questão portuária e os seus sistemas de acesso marítimo e terrestre como eixo fundamental para o desenvolvimento do Estado, para melhoria de condições de vida dos cidadãos e cidadãs baianos”, destaca Oliva.

Condições

Danilo Peres, economista da Gerência de Estudos Técnicos da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), destaca os avanços na infraestrutura portuária nos últimos anos. Ele ressalta as melhorias em Aratu, que está a 65 quilômetros do Polo Industrial de Camaçari, e em Salvador, principalmente na área de contêineres.

“A Bahia tem uma boa infraestrutura para atender as grandes empresas do Polo e tivemos grandes investimentos no Tecon”, avalia. “Hoje Salvador é capaz de receber embarcações que muitos outros portos brasileiros não tem estrutura para receber”, explica Peres.

O economista diz que o potencial da BTS pode ser melhor aproveitado com melhorias nas condições de acessos terrestres aos portos e terminais que estão instalados nela e com a criação de políticas para a ampliação de linhas de navegação. “A Baía de Todos-os-Santos é tão interessante para a navegação que você tem navios que estacionam ali. Se tivermos uma política para fazer com que mais embarcações passem por aqui, isso vai se reverter em novas linhas de navegação”, acredita. Entre as possíveis medidas, ele cita a possibilidade de reduções na tributação de combustível. “O navio pode vir para reabastecer e buscar cargas”, exemplifica.

“Nós podemos ter a criação de um hub aqui na Baía, com a definição de políticas para a atração de embarcações, porque o mais difícil já recebemos da natureza, uma área com águas profundas, condições de atracação e de manobras baratas, em relação aos outros portos”, diz Danilo Peres.

O Projeto Bahia Forte é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Intermarítima e Wilson Sons e apoio institucional da Fieb.