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Donaldson Gomes
Publicado em 31 de outubro de 2024 às 06:30
Já faz um tempo que a pujança econômica do agronegócio baiano é cantada em verso e em prosa, até pelo papel que a atividade tem desempenhado ultimamente, de evitar maiores solavancos nos resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do estado. Em 2023, o setor totalizou mais de R$ 88 bilhões, o que lhe rendeu 21% de participação no resultado final da economia baiana. >
Atualmente, 44% do PIB agropecuário da Bahia está concentrado em sete municípios: São Desidério, Formosa do Rio Preto, Barreiras, Correntina, Luís Eduardo Magalhães, Riachão das Neves e Jaborandi. O grupo também se destaca pelo aumento na participação do PIB total da Bahia e no crescimento populacional. Não é por acaso que cinco deles estão entre os 15 que mais ampliaram a participação na economia baiana nos resultados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os anos de 2002 e 2021. >
No caso de Luís Eduardo, o destaque também é outro. O município é o que teve o maior aumento populacional, em termos percentuais, entre 2010 e 2022 – os últimos dois censos populacionais realizados –, passando de uma população de 60 mil habitantes para pouco mais de 107 mil, o que representa uma expansão de 79,5%. O aumento populacional é entendido como um indicador de desenvolvimento, afinal as pessoas querem estar em lugares que lhes ofereçam oportunidades. >
Além dos números que indicam o impacto econômico da atividade agrícola, a Associação dos Produtores de Algodão da Bahia (Abapa) apresentou no último mês de julho um estudo, feito pela Universidade Federal de Viçosa, que mostra o impacto social da cotonicultura do Oeste. O levantamento projetou o impacto econômico da atividade em pouco mais de R$ 427 milhões, no ano de 2023, e calculou um retorno social de R$ 3,52 por cada R$ 1 investido pelos produtores. Em 2023, foram investidos R$ 86 milhões, que renderam R$ 230 milhões de retorno social. >
O produtor Luiz Carlos Bergamaschi, presidente da Abapa, explica que a entidade sempre mensurou os impactos econômicos dos projetos em que investia, mas entendeu ser importante também conhecer melhor os impactos sociais da atividade. “Quando você vai à região de Luís Eduardo Magalhães fica muito claro o papel transformador que o agro desempenha lá, inclusive fora das propriedades rurais, com muitos empregos e renda gerados no setor de serviços e até na indústria”, diz. >
O produtor rural lembra que além de gerar um grande número de empregos, a produção agrícola do Oeste ainda é responsável por oferecer oportunidades para profissionais mais qualificados e com melhores salários. >
“A Bahia é um dos estados onde mais se aplica tecnologia agrícolas. Na região oeste, acredito que cerca de 90% das nossas áreas já utilizam o sistema do plantio direto, um diferencial muito grande, e os veranicos não nos assustam mais”, ressalta o presidente da Aiba, Odacil Ranzi. “Além de dispor de solo, sol e água, fatores diferenciados e favoráveis à agricultura, aplicamos as melhores técnicas de plantio, incremento de boas práticas agrícolas”, completa.>
Escoamento>
É verdade que a produção agrícola já desempenha um papel relevante em diversas regiões do estado, entretanto este potencial ainda está longe de ser devidamente aproveitado. E uma das principais razões para isto está nas deficiências na estrutura para o escoamento da produção. Para Luís Carlos Bergamaschi há bastante espaço para ampliar a movimentação de algodão pelo Porto de Salvador, que atualmente movimenta menos de 5% da produção baiana. >
“Hoje boa parte ainda sai pelo Porto de Santos porque a movimentação demanda toda uma logística até o destino, mas nós olhamos muito para o Porto de Salvador, que é uma alternativa”, aponta. Bergamaschi acredita que é possível crescer pensando na cadeia logística de forma integrada. “É importante que o contêiner que vai levar o nosso algodão retorne para cá cheio também”, defende. >
Guilherme Dutra, diretor comercial do Terminal de Contêineres do Porto de Salvador (Tecon Salvador), empresa do grupo Wilson Sons, aponta o Oeste da Bahia como uma região de interesse prioritário para o terminal. Segundo ele, a Região Metropolitana de Salvador (RMS), somada com o entorno de Feira de Santana, responde por 70% das movimentações, até pela proximidade geográfica. “Nós buscamos atrair as cargas que estão fora deste raio”, explica. >
“Hoje nós temos um terminal moderno e com capacidade de atender bem todo o interior da Bahia, Sergipe, o Norte de Minas Gerais e boa parte do Matopiba (região agrícola que engloba o Oeste da Bahia e os estados do Maranhão, Tocantins e Piauí)”, explica. O que precisa melhorar é algo que está além da alçada da empresa. “A infraestrutura entre o porto e estas regiões poderia ser bem melhor”, acredita. >
Apesar disso, Guilherme garante que o Tecon consegue ser competitivo. “Estamos sempre buscando fazer com que os mercados nos olhem como opção”.>
Grande potencial>
Presidente da Federação da Agricultura do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Miranda ressalta o potencial para geração de empregos e renda da agricultura, tanto a que produz em grande escala, quanto a menor. Ele cita como exemplo o município de Casa Nova, no Norte do estado, onde as opções de trabalho na agricultura reduziram os índices de desemprego. “Hoje você chega em uma cidade como Casa Nova e as pessoas dizem que lá é desemprego zero, só não está trabalhando quem não quer trabalhar, ou tiver algum problema que o incapacite”, exemplifica. “Em quantos outros municípios do Brasil a gente consegue ter um depoimento como este?”, questiona. >
Para Humberto Miranda, a potencialização do desenvolvimento que é gerado pelo agro depende também de investimentos em educação profissionalizante. “Criar estas condições é fundamental para termos um país melhor”, aponta. >
“As oportunidades de crescimento pessoal e profissional precisam estar casadas com a possibilidade de ter qualidade de vida no interior. Quando uma pessoa que está estabelecida numa cidade grande pensa em se mudar para uma pequena, ela quer saber se o filho terá acesso a uma boa escola, se terá um hospital, em caso de doença, lembra. >
Ele lembra ainda da produção de citrus, no Litoral Norte, na região de Barra, onde a construção de uma ponte sobre o Rio São Francisco facilita a logística e atraiu investimentos em fruticultura, grãos e até cana, para a produção de biocombustível. “A Bahia também tem um potencial fantástico com a agricultura familiar, que infelizmente não é aproveitado como deveria. Precisamos dar a estes pequenos agricultores as mesmas condições que o grande tem. Não é impossível”, completa.>
O Projeto Bahia Forte é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Unipar, Neoenergia e Fazenda Progresso, apoio de Wilson Sons e Braskem.>