Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Vinicius Harfush
Publicado em 28 de outubro de 2023 às 05:00
Pensar no desenvolvimento industrial ou comercial de qualquer empresa sem levar em consideração o potencial de suas operações logísticas é impossível. Setor fundamental na cadeia de produção, a logística assume o papel de gestor de fluxos dentro do negócio, onde colabora para aspectos como a redução de custos, diminuição de falhas e satisfação não só dos colaboradores que atuam na área, mas também no cliente final, que busca receber o produto da maneira mais eficiente e com o melhor custo benefício.
Gerente executivo do Senai Cimatec, Leonardo Sanches destaca que o setor da logística atua dentro de uma cadeia extensa e que há a necessidade de uma boa integração com outros departamentos. As áreas de comercial e produção, por exemplo, precisam andar em sintonia com a logística, afinal, as operações logísticas dependem da elaboração dos produtos e da venda dos mesmos para ter sucesso nessa cadeia.
Em entrevista ao CORREIO, Leonardo Sanches, que tem especialização e mestrado no setor de logística e gestão de produção, explicou o funcionamento do setor e suas principais etapas, analisou os desafios que as grandes operações logísticas enfrentam na Bahia e no Brasil, além de se aprofundar em temas como a implantação de inteligências artificiais no setor da logística e seus benefícios.
Na Bahia, é possível ver um crescimento da participação de grandes empresas com interesse em investir no estado a construção e implementação de Centros de Distribuição (CDs), que são etapas fundamentais nas operações logísticas. Marcas como Mercado Livre, Amazon, Americanas veem a região metropolitana de Salvador como um importante polo para a construção dessas rotas de distribuição de produtos para a região Nordeste. Na entrevista, Sanches também ressalta como o crescimento do e-commerce no pós pandemia influenciou na adaptação do setor da logística dentro de grandes negócios.
Abaixo você confere os principais pontos levantados na entrevista com o gerente executivo do Senais Cimatec, Leonardo Sanches.
No contexto do Brasil, a gente ainda tem um desafio longo a ser percorrido na questão infraestrutura. Sabemos que esse é um um um problema que o nosso país tem há vários anos. Chega a ser clichê isso que a gente falo aqui, mas num país de dimensões continentais a gente depender basicamente de um modal rodoviário para fazer as movimentações no país é complicado. Temos uma malha ferroviária bastante discreta, utilizamos quase nada de cabotagem, por exemplo, que é o transporte aquaviário. Temos algumas ilhas de produtividade de tecnologia mas não é uma tônica [no país]. Então, em países em desenvolvimento como o Brasil, eu acho que a questão da infraestrutura ainda é bastante crítica e um dos principais entraves para gente ter uma logística mais funcional.
Eu costumo fazer uma separação macro. Temos a logística de suprimentos, que é aquela pré-processo produtivo, temos a logística de produção e temos a logística de distribuição. Na logística de suprimento a gente está falando de todo o fornecimento dos insumos básicos. Na logística de produção a gente está falando de toda a movimentação e toda a transformação interna, a chamada ‘logística inbound’. E depois a logística de distribuição, que é fazer com que aquele produto que foi produzido chegue até o mercado consumidor. Então nesses três grandes blocos existem subsistemas, né? Como se você tivesse uma macro cadeia de suprimentos e nessas três partes é possível subdividi-la.
A interação é fundamental. A integração dos setores de uma empresa é fundamental, independente se colocamos o foco na logística ou não. A logística em si tem uma uma dependência, ou necessidade de integração próxima da área comercial e da área de produção. Porque ela só entrega o que é produzido e depois o que é vendido. A logística só entra em campo - e aqui estou falando da logística de distribuição - quando a produção faz o produto e o comercial vende esse produto.
Tudo isso precisa estar muito bem azeitado justamente para não ter retrabalhos e perdas. Não adianta ter uma operação logística robusta se você não tem um produto para entregar. Ou então você fica com um monte de produto que o comercial não vendeu e aí terá sua logística parada no processo. Outra área importante é o setor de pessoal. É importante ter uma área de gestão de pessoas que mapeie bons profissionais e que consiga mantê-los na organização, isso é um outro fator fundamental para a empresa ter uma uma área de logística bem rentável.
É a famosa adequação ao uso. Você tem empresas que são mais verticalizadas, que preferem ter a responsabilidade no seu processo como um todo e verticalizam tudo. Como a produção e às vezes ela verticaliza até os fornecedores dos insumos básicos. Então, por conta de questões estratégicas, algumas empresas verticalizam todo o processo, incluindo ter a operação logística dela mesmo. Às vezes é um produto que tem uma operação muito específica.
Mas hoje a gente tem operadores logísticos bastante profissionais que trabalham especificamente com o que se chama de longas distâncias, ou logística de última milha. Então dentro da própria operação logística você tem empresas especializadas. No final das contas não tem uma receita de bolo para isso, tá? Aí é uma questão de estratégia. Sentar para fazer conta, ver especificamente o que é mais viável para a empresa.
A internet foi um fator fundamental [na mudança do setor da logística]. O período de pandemia está aí para nos provar o quão fundamental é a internet e quão fundamental é o e-commerce na na parte de logística. Talvez tenha sido o segmento que mais cresceu nesse período. Muitas empresas nunca tinham feito uma transação eletrônica e tiveram que passar a fazer, se estruturar. As que já faziam otimizaram os seus processos.
Na inteligência artificial temos aquele famoso ditado: o céu é o limite. Então você consegue implementar em quase tudo da logística. Podemos, por exemplo, aplicar na questão de roteirização das entregas, para definir alguns padrões e, a partir desses padrões, a inteligência artificial consegue aprender, adaptar esses padrões e ela mesmo ir otimizando essas rotas. Para isso entra uma outra tecnologia da "Logística 4.0" que é atrelar, por exemplo, com big data.
Ter um grande volume de dados, um histórico de uma transportadora, por exemplo, que já realizou diversos roteiros e a partir disso definir padrões com a inteligência artificial. É um tipo de otimização. Outro tipo de otimização é em relação a predefinição de cenários futuros. Por exemplo: criar um framework (tipo de software) para uma montadora onde a IA mostre as curvas de projeção de demanda dos veículos que essa montadora produz. É possível fazer projeções de até 80 dias dessas demandas. São possibilidades e utilizações quase sem fim e totalmente aderentes à área da logística.
Sobre essa estratégia ligada aos CDs (Centros de Distribuição) e dos 'warehouses' (depósitos), é uma estratégia também inteligente, principalmente porque você trabalha com a questão da satisfação do consumidor. É possível encurtar o tempo de recebimento do produto e, nesse momento, é preciso trabalhar com uma questão de inteligência logística associada a isso. Porque é muito importante para esses CDs não ficarem com produtos parados. É necessário ter um trabalho, por exemplo, de levantamento de dados, estatísticas, para saber o que aquela região, o que aquele mercado consumidor mais compra. E aí você terá um CD adequado às necessidades daquela macroregião. Para países de dimensões continentais como o Brasil, ou estados grandes, é importante essa estratégia de você ter CDs.
O Projeto Bahia Forte é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Intermarítima e Wilson Sons e apoio institucional da Fieb.