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Nilson Marinho
Publicado em 31 de outubro de 2024 às 07:30
A advogada Carol Cerqueira, hoje com 33 anos, era considerada a mais descolada no grupo de amigas em 2009, quando morava na cidade de Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador. No Natal de 2008, seu pai, a muito custo — como gosta de frisar — presenteou-a com um computador. Ter um aparelho naquela época não era para todas as famílias, e conectá-lo a uma banda larga fixa era ainda mais difícil.
De maneira geral, a velocidade de conexão no país era baixa, sobretudo nas cidades mais afastadas dos grandes centros urbanos, sem comparação com as oferecidas hoje em dia, não ultrapassando 2 Mbps em alguns casos. Para se ter uma ideia, era possível responder a um e-mail e navegar pelas páginas do Orkut, mas assistir a um vídeo simples no YouTube podia ter interrupções, e fazer downloads de arquivos levava horas.
“Foi um sonho. Eu era a única pessoa no meu colégio a ter computador em casa, e todas as minhas amigas iam para minha residência. Era uma grande atração”, lembra a advogada.
Carol era uma privilegiada. Em 2009, havia apenas 15.894 pontos de acesso à internet em residências e empresas da segunda maior cidade da Bahia, de acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em todo o território baiano, eram 341.104 pontos.
De lá para cá, muita coisa mudou. Os computadores se tornaram populares em todo o Brasil, mas também foram sendo substituídos por tablets e smartphones. A conexão via cabos de telefonia saiu de cena com a chegada da fibra óptica, o número de provedores de internet aumentou e as conexões, que eram lentas e limitadas, se tornaram muito mais velozes, alcançando áreas rurais.
Em agosto deste ano, ainda segundo dados da Anatel, o estado da Bahia era o sétimo do país com o maior número de pontos de acesso à internet banda larga fixa (1.824.996), ficando atrás de Santa Catarina (2,7 milhões), Paraná (3,3 milhões), Rio Grande do Sul (3,5 milhões), Rio de Janeiro (4 milhões) e São Paulo (15 milhões), mas à frente do Ceará (1,6 milhão), Goiás (1,5 milhão) e Pernambuco (1,1 milhão).
Porém, quando se fala da velocidade média da conexão contratada pelos usuários, o estado despenca no ranking. A média na Bahia é de 300,61 Mbps, enquanto a média nacional é de 417,33 Mbps, o que coloca a Bahia na 24ª posição entre os 26 estados e o Distrito Federal.
O engenheiro de Telecomunicações Caio Pontes afirma que 300,61 Mbps é uma boa conexão. Com essa velocidade, é possível conectar vários aparelhos ao mesmo roteador sem comprometer o desempenho e assistir a vídeos em streaming em resolução 4K sem qualquer tipo de interferência.
“O que chama a atenção é a disparidade entre a velocidade média contratada na Bahia e a do primeiro colocado no ranking, o Rio de Janeiro, que tem uma média de 1,33 mil Mbps — uma conexão extremamente rápida. Vale ressaltar que isso não significa que os provedores baianos ofereçam uma velocidade mais baixa, mas que os clientes preferem planos mais em conta que atendam às suas necessidades diárias”, completa Pontes.
As cidades baianas com as menores velocidades médias contratadas são Pedro Alexandre (12,12 Mbps), Nova Ibiá (12,7 Mbps) e Lagoa Real (13,09 Mbps); as maiores são Buritirama (2,3 mil Mbps), Tanquinho (993,77 Mbps) e Teofilândia (887,81 Mbps).
Hoje, na Bahia, as quatro maiores operadoras de telecomunicações do Brasil — Claro, Vivo, TIM e Oi — são responsáveis por fornecer juntas 37% de toda a internet banda larga fixa do estado. Neste cenário, os provedores regionais desempenham um papel fundamental na democratização do acesso, especialmente em áreas rurais e afastadas, ao levar a fibra óptica, possibilitando conexões de excelente qualidade.
“Também conhecidos como ISPs (Internet Service Providers), esses provedores são responsáveis por mais de 50% do mercado de fibra óptica do país. Em regiões onde as grandes operadoras não veem interesse econômico, os provedores regionais atendem à demanda por conexão”, explica Janyel Leite, vice-líder do conselho de administração da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint).
Ainda de acordo com Leite, em muitas dessas áreas, os provedores locais conseguem superar desafios logísticos e de infraestrutura com apoio de políticas públicas específicas e financiamentos setoriais, expandindo suas redes para atender à população rural.
Leite também menciona que a expansão para áreas rurais na Bahia enfrenta diversos desafios, principalmente relacionados à infraestrutura e ao compartilhamento de postes. O custo elevado e a burocracia envolvidos no uso de postes, regulados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), impactam diretamente o orçamento dos pequenos provedores, tornando a expansão da rede mais cara e complicada.
Alonso Oliveira Neto, CEO da Ágil Fibra, provedor de internet com atuação na cidade de Ipirá, fundou a empresa em 2005. Naquela época, para fornecer internet aos seus clientes, ele usava o cabo UTP ou o par trançado. Não era fácil operar a tecnologia e os clientes eram afetados.
“Passávamos esse cabo nos postes e, para alimentar os switches, também precisávamos levar energia. Utilizávamos a energia das casas dos clientes. Às vezes, trocávamos energia pela internet e fazíamos isso de forma cascateada. Era uma confusão danada: faltava energia, faltava internet, era complicado”, lembra.
A fibra óptica começou a se tornar mais popular na Bahia a partir de 2018, conforme dados da Anatel, mas só ganhou o título de meio de acesso mais utilizado no estado em julho de 2020, quando ultrapassou o cabo metálico, que está em declínio desde então.
Oeste
A região oeste da Bahia, integrada à estratégica área do Matopiba, historicamente enfrenta grandes desafios de conectividade devido à infraestrutura limitada de redes. Essa limitação impacta diretamente setores essenciais da economia, como o agronegócio, que depende cada vez mais de soluções tecnológicas avançadas para otimizar a produção e aumentar a eficiência.
Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), apenas 20% das áreas rurais do Matopiba têm acesso à internet de alta velocidade, o que pode afetar a eficiência e competitividade dos produtores. Em Jaborandi, por exemplo, até agosto de 2021, a velocidade da conexão não ultrapassava 2 Mbps, o que permite executar tarefas simples, como usar redes sociais e fazer chamadas de vídeo, mas com limitações para atividades que exigem mais largura de banda.
“Em algumas áreas, a conexão é instável e só é 100% confiável na sede do município. As tecnologias usadas pelos provedores da cidade eram o cabo metálico e o satélite. A fibra óptica só começou a ganhar força mesmo de 2022 para cá”, conta a professora Ana Alves, moradora da cidade.
“A falta de conectividade em áreas rurais dificulta a implementação de ferramentas fundamentais, como automação, rastreamento de máquinas, sensoriamento e monitoramento remoto de solo, clima e pragas, comprometendo, assim, o aumento da produtividade e o crescimento sustentável do setor”, diz Taize Wessner, presidente do grupo VirtuEyes, empresa que oferece soluções tecnológicas para a região, especialmente voltadas para a Internet das Coisas (IoT) e comunicação M2
Telefonia móvel
Em agosto deste ano, havia na Bahia 15,3 milhões de celulares com serviços de telefonia. São aparelhos com disponibilidade para ligações para outros móveis ou para telefones fixos. É como se todos os moradores do estado, que hoje conta com 14,8 milhões de habitantes, tivessem acesso a serviços pós e pré-pagos.
Desse total de aparelhos celulares, 14,4 milhões deles possuíam conexão com a banda larga móvel, que são as tecnologias 3G, 4G e a mais recente 5G — a cobertura dessa última chegou à Bahia em agosto de 2022.
“A conexão 5G chega a ser até 100 vezes mais rápida que a anterior 4G, o que permite aos aparelhos realizar funções quase que instantaneamente, como downloads de arquivos que antes poderiam levar minutos. Sabe quando estamos em uma grande festa, um show, por exemplo, e nossa internet fica ruim, lenta em meio a tantas pessoas? Pois bem, com o 5G isso não acontece”, explica o engenheiro de Telecomunicações, Caio Pontes.
“O 5G também permite que um médico possa comandar uma cirurgia, usando um robô, a quilômetros de distância. A tecnologia também abre portas para serviços na indústria e no agronegócio”, completa Pontes.
A conexão 5G ainda não é a mais utilizada na Bahia. Dos 417 municípios baianos, apenas 37 têm sinal 5G, o que faz com que a conexão 4G predomine entre os usuários de smartphones. Essa tecnologia chegou ao topo do ranking em janeiro de 2008, quando a conexão 3G começou a declinar. Hoje, o 3G também foi superado pela 5G. São 732,2 mil aparelhos com conexão 3G, 1,1 milhão com 5G e 12,3 milhões com 4G.
Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista são as cidades com o maior número de aparelhos telefônicos com acesso aos três serviços, enquanto Lajedinho e Cravolândia são os municípios com os menores números de celulares conectados a essas tecnologias.
Em Lajedinho, por exemplo, onde há 3.527 habitantes, 1.154 aparelhos têm acesso ao 3G e ao 4G, mas esse número chegou a ser de 1.896 em agosto de 2022. A empresa Oi, que detinha boa parte da cobertura, foi vendida e deixou de operar banda larga móvel no país. O término do acesso da Oi Móvel aconteceu em janeiro daquele ano.
“A Oi tinha a maior cobertura da cidade e todos os moradores possuíam um plano com ela, mas com o encerramento, muitos migraram para a TIM, operadora que até então não prestava serviço no município. O sinal era irregular e as queixas eram muitas, até que a Claro chegou e melhorou a conexão da internet no celular”, explica o empresário Ramon Matos, morador de Lajedinho.
O mesmo aconteceu em Cravolândia, cidade com 4.415 mil habitantes. Em março de 2022, 3.150 aparelhos celulares estavam conectados aos serviços de banda larga móvel da OI, mas com a venda da empresa, 2.942 clientes migraram para a TIM e, meses depois, boa parte migrou para a Claro.
A Bahia é o sétimo estado do Brasil com mais celulares acessando a tecnologia 5G, perdendo para Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, mais adiante de Goiás e do Distrito Federal.
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