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Caminho de volta ao lar: baianos buscam tranquilidade e oportunidades em suas cidades

Veja histórias de quem apostou na vida do interior

  • N
  • Nilson Marinho

Publicado em 31 de outubro de 2024 às 10:11

Lucas  apostou no retorno para o interior Crédito: Acervo pessoal

Da Pré-História à Idade Contemporânea, a migração está sempre presente na realidade dos seres humanos. As mudanças já aconteceram em busca de caça, terras férteis para o plantio, novas descobertas ou para fugir de conflitos e guerras.

Com um recorte de tempo e espaço mais recente, observa-se também uma migração em direção ao interior. Cada vez mais pessoas deixam os grandes centros urbanos em busca de oportunidades, maior contato com a natureza e mais tempo livre.

Esse processo foi, inclusive, percebido pelo próprio IBGE, que, em seu censo de 2022, apresentou dados que apontam o crescimento populacional absoluto em municípios do interior. O aumento foi observado principalmente nas cidades com menos de 100 mil habitantes, onde, atualmente, moram 87,3 milhões de pessoas, o que representa 43% da população total do país, que é de 203 milhões.

Flávia Cerqueira seguiu um caminho em 2007 comum a muitos dos seus conterrâneos que buscavam qualificação superior. Deixou Ipirá, no Centro-Norte do estado, e foi para Salvador, onde, à época, concentravam-se a maioria das universidades públicas e privadas do estado.

Flavia deixou a terra natal para estudar, mas não se adaptou à vida em Salvador Crédito: Acervo pessoal 

A rotina na metrópole para manter-se na instituição de ensino superior ao mesmo tempo em que trabalhava consistia em acordar nas primeiras horas da manhã, enfrentar o trânsito estressante e se dedicar a uma pilha de apostilas. Tudo isso a fez repensar se desejava continuar naquela rotina pelos próximos anos.

“Foi uma rotina muito estressante, ainda mais com os problemas de transporte. Às vezes, eu chegava no ponto de ônibus e ele já tinha passado, o que me causava uma dor de cabeça imensa. Essas dificuldades me fizeram questionar se essa era a vida que eu queria”, lembra.

A jovem se formou em Serviço Social, mas decidiu não atuar na área. Em vez disso, dedicou-se aos concursos públicos. Após ser aprovada, hoje ela trabalha em sua cidade, que tem pouco mais de 56 mil habitantes. “Se eu voltaria para Salvador um dia? Quem sabe, né? Nunca digo ‘dessa água não beberei’, mas depende muito das condições. Hoje, não sei se voltaria para viver aquela rotina de antes”, completa.

Jaimes Paiva está à frente de uma corretora de imóveis em Porto Seguro, no sul do estado. De 2020 para cá, ao consultar suas planilhas de venda e aluguel de imóveis, percebeu um crescimento médio de mais de 15% em todos os semestres.

“Os maiores números foram durante a pandemia, quando muitas pessoas, principalmente do Sudeste do país, se mudaram para cá em busca de isolamento. Até hoje, temos um perfil de público que mais nos procura: jovens ou casais com, no máximo, um filho, vindos de cidades grandes e que parecem buscar um ritmo de vida mais tranquilo”, conta Paiva.

Com aqueles com quem teve a oportunidade de aprofundar a conversa, ele ouviu que o motivo da mudança era a possibilidade de viver em um lugar com acesso a serviços básicos, lazer e natureza. “Trabalho nunca foi uma questão, porque muitos trabalham remotamente ou já chegam com planos de investir na cidade”, completa o corretor.

Porto Seguro, inclusive, é uma das cidades baianas com maior crescimento populacional nos últimos 12 anos, de acordo com o censo do IBGE. A cidade, que hoje tem mais de 168 mil habitantes, ganhou 41,7 mil novos moradores nesse período.

“A expansão da agricultura, da pecuária e da indústria resultou em uma ocupação de áreas mais afastadas. No caso da Bahia, podemos destacar o crescimento do agronegócio nas cidades do Oeste, assim como a chegada da mineração e das empresas de energia renovável na região semiárida. Nessa última, em especial, estamos falando de cidades bem pequenas, onde, a princípio, a mão de obra teve que vir de fora”, explica Paulo Pitta, especialista em demografia econômica.

Uma dessas cidades é Casa Nova, no norte baiano. De acordo com o último censo, a cidade, que tem 72.086 habitantes, ganhou mais 7.146 nos últimos anos, apresentando uma das maiores taxas de crescimento geográfico do estado. Caio Martins, engenheiro mecânico, formou-se na Universidade Federal de Sergipe (UFS) em 2008 e, desde então, morava em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), onde trabalhava na indústria automobilística.

Ao saber que sua cidade tinha potencial para a instalação de parques eólicos, ele fez especializações na área de energia renovável. Em 2023, voltou para sua cidade após receber uma proposta de trabalho na área.

“Ganho menos do que ganhava antes, mas tenho mais tempo livre para estar com a família, que é toda daqui”, diz o engenheiro.

Ainda segundo Pitta, também há um movimento de pessoas que buscam o interior para empreender em serviços não oferecidos nas pequenas cidades, forçando os habitantes a buscarem alternativas em municípios vizinhos maiores.

Lucas Lira deixou Monte Santo, no norte do estado, em 2014, para cursar jornalismo em Salvador. Durante a graduação, no entanto, decidiu abandonar os estudos, voltar para sua cidade natal e empreender. Hoje, ele tem um ateliê de confeitaria e uma hamburgueria. Estar mais próximo da família, o baixo custo de vida em relação à capital e a segurança foram fatores que contribuíram para sua decisão. “É mais barato pagar aluguel e contratar funcionários. Aqui, tenho uma qualidade de vida maior, porque não pego trânsito e vou andando de casa até o ateliê, por exemplo”, comenta Lucas.

A socióloga Karen Gonzalez, mestre em dinâmicas sociais urbanas e pesquisadora na área de desenvolvimento urbano e regional, afirma que as pessoas que estão se mudando para o interior apresentam um perfil diferente daquelas que faziam isso anteriormente.

Ainda segundo a pesquisadora, elas não veem mais a mudança como um sonho distante, mas como algo real. Para tomar a decisão, comparam o que deixariam nos grandes centros, como empregos, restaurantes e boas escolas, com o que podem ganhar com a mudança: áreas verdes, ganho de tempo e a tranquilidade encontrada no interior.

“Muitas vezes, essa mudança que, a princípio, parecia temporária se torna definitiva. O ritmo de vida mais pacato e simples, que antes era visto como algo ultrapassado, agora é cobiçado. No entanto, muitos ainda não querem abrir mão de bons serviços de saúde, escolas razoáveis e opções de lazer. Por isso, optam por lugares que ficam até 100 quilômetros das capitais ou por cidades mais desenvolvidas ou próximas a elas”, opina Karen.

O Projeto Bahia Forte é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Unipar, Neoenergia e Fazenda Progresso, apoio de Wilson Sons e Braskem.