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Thais Borges
Publicado em 20 de março de 2025 às 15:05
Desde que as imagens de acidentes com patinetes na orla de Salvador viralizaram nos últimos dias, cresceu também o debate sobre como garantir a segurança não apenas dos usuários do modal, mas de pedestres em geral. Em Salvador, há cerca de 800 patinetes e mais de 180 mil viagens já foram feitas. De acordo com a Secretaria Municipal da Mobilidade (Semob), apenas dois acidentes mais graves foram registrados desde o início do serviço, em janeiro. >
Em todo o mundo, a discussão sobre patinetes tem levado autoridades e especialistas em mobilidade a buscar alternativas. Em São Paulo, o equipamento chegou a ser proibido, mas retornou em dezembro, com algumas restrições - só pode ser conduzido por maiores de 18 anos e especificamente no bairro de Pinheiros.>
Em Salvador, segundo o secretário Pablo Souza, titular da Semob, apenas dois acidentes mais graves foram registrados entre as viagens feitas com os patinetes elétricos. Ainda que a avaliação seja de que os casos são pontuais, há uma equipe de fiscalização itinerante. “Pedimos que houvesse até um reforço no uniforme, para que seja mais visível e as pessoas possam identificar. A equipe vai ter uma postura mais incisiva. É uma determinação nossa diante desses casos pontuais que tivemos”, pontua. >
Ele destacou que, aos domingos, há escolinhas de treinamento gratuitas para a população. No próximo domingo (23), haverá treinamento das 10h às 14h, na Avenida Magalhães Neto. Já nos pontos do Jardim dos Namorados, do Farol da Barra e de Itapuã, a escolinha é das 14h às 18h. Além disso, equipes do órgão também têm ido a escolas das regiões onde os patinetes estão localizado, já que menores de 18 anos também não têm autorização para pilotar. >
“Hoje mesmo (quinta-feira), à tarde, estaremos em uma escola no Itaigara, porque identificamos que alguns estudantes estavam fazendo uso indevido. Vamos fazer esse trabalho com as escolas para essa conscientização”, explica. >
Além disso, o uso deve ser estritamente individual - o que significa que crianças e adolescentes não podem usar, mesmo que um adulto esteja dirigindo. Ele pediu a colaboração dos pais. Também não é permitido usar os patinetes após consumir bebida alcoólica e capacetes são recomendados, ainda que não obrigatórios. >
“No primeiro momento, a gente vinha trabalhando com a notificação amiga, porque era um momento educacional. Agora, quando a pessoa for identificada fazendo uso indevido, a equipe faz o encerramento da viagem e a pessoa é suspensa do serviço por uma semana. Caso venha a reincidir, ela ficará banida de forma permanente. Ainda que esteja em um período de testes, existe regra. As pessoas confundem muitas vezes o fato de não ter regulamentação publicada pela prefeitura com não ter regra”, argumenta.>
Ainda que a velocidade máxima seja 20 km/h, há áreas de redução automática obrigatória. No trecho entre o Barra Center e o Forte São Diogo, a velocidade automática é de 5km/h, enquanto a subida para o Morro do Cristo só pode ser feita em até 15km/h. “É um modal que eu entendo que veio para ficar. Muita gente vem de outras cidades visitar e usa, mas grande maioria dos usuários é de soteropolitanos em seus deslocamentos cotidianos”. >
Ainda que apenas dois casos graves tenham sido registrados, há situações como a da técnica de enfermagem Thaís Lima, 29 anos, que foi atropelada por um patinete na região de Piatã, no último dia 11. Ela conversou com o CORREIO e contou que foi atingida por um equipamento pilotado por uma adolescente. >
“Estava fazendo minha caminhada, como sempre faço, com duas amigas, na terça-feira da semana passada (dia 11 de março). Já tinha reparado que o pessoal estava com esse patinete, como fica com as bicicletas. A gente se afastou e foi caminhando. Era umas 10h da manhã.
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Eu já tinha visto essa menina, quando ela estava aprendendo (a usar o patinete) e até fiquei interessada. Passou uns 20 minutinhos e me despedi das minhas amigas. Eu me virei de costas, na direção do mar, porque estava ali na orla de Piatã, indo no sentido do Imbuí. >
Eu só escutei o baque nas minhas costas. Quando fui ver, estávamos no chão: eu, ela e o patinete. Fiquei toda ralada, os dois joelhos ralados, o cotovelo. E ombro, que ficou lesionado. Fiquei usando a tipoia até dois dias atrás (ela falou com a reportagem na quarta-feira, dia 19). >
Era uma adolescente com o patinete, menor de idade. Ela me contou que perdeu o controle do patinete. Mas a menina estava sozinha, não tinha nenhuma supervisão de adulto. Tanto que quem me deu assistência foram dois rapazes adultos que também estavam com patinete e vieram me socorrer. >
Quando vi que não conseguia levantar, pelo braço machucado, os rapazes me ajudaram a pegar o Uber. Como sou da área de saúde, minha diretora me orientou a ir procurar assistência. Fui para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de São Cristóvão, que era mais perto. Depois, fui para a de Periperi, que tem ortopedia. Passaram os exames e fiz o raio-x. Mas, graças a Deus, foi só uma contusão. O médico disse que, por muito pouco, não quebrei o braço. >
Como eu estava de costas, foi um impacto grande. A gente não dá nada por esses patinetes, mas fui pesquisar e a velocidade é até 20 km/h. Fiquei bem assustada. >
Até hoje eu sinto dor. Para você ver o nível que a dor chegou, eu tive até ânsia de vômito. Chorei e não sou de chorar quando sinto dor. Não conseguia levantar o braço até a altura dos seios, por isso tive que usar a tipoia. >
Estou fazendo fisioterapia para ganhar força no ombro e tomei anti-inflamatório. Comecei a melhorar, mas ainda dá uns estralos. Tirei a tipoia porque meus amigos fisioterapeutas disseram para tirar e movimentar o ombro, mas precisei ficar seis dias afastada do trabalho. >
Voltei ontem [terça-feira], mas está sendo bem limitado. Trabalho em Unidade de Terapia Intensiva de hospital, então, preciso pegar peso de paciente, essas coisas. >
O ortopedista liberou que eu volte para a academia, mas sem fazer treino de membros superiores. Tenho um filho de sete anos, então sempre tenho que estar perto, mas ele precisa de todo o cuidado para não pegar no meu ombro, porque sinto dor. >
Para dormir, incomoda demais. Sempre durmo do lado direito e, hoje, precisa ser do esquerdo. Ainda boto uma almofada para não virar e acabar em cima do braço. >
Vejo a galera em rede social fazendo chacota e falando que é uma quedinha besta, mas não é. Machuca. E, no meu caso, tive uma contusão. >
Tem que ter uma fiscalização e uma sinalização no patinete. Porque, se ela (a usuária do equipamento) sinalizou ou avisou, ninguém escutou. E quem usa tem que estar com capacete, pelo menos. Se não fosse pelos meus seios, que me protegeram do impacto, eu ia bater a cabeça na parte dos bancos. >
Quando vi o vídeo que viralizou, pensei: vai precisar agora que as pessoas filmem para o pessoal se ajeitar. Porque, comigo, ia passar despercebido. Era de manhã, a rua estava deserta e eu estava distante do posto policial que tem ali".>