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‘Sustentabilidade e inovação são os desafios do refino no Brasil’

Celso Ferreira, vice-presidente de operação da Acelen

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 10 de novembro de 2024 às 16:15

Celso Ferreira, vice-presidente de operação da Acelen Crédito: Divulgação

A Refinaria de Mataripe vem passando por uma série de transformações, desde 2021, quando foi vendida pela Petrobras ao fundo Mubadala. Após mais de R$ 2 bilhões investidos desde então, a jovem senhora de 74 anos se prepara para continuar fazendo história. Segunda maior refinaria do país e segunda maior exportadora da Bahia, Mataripe é responsável por 14% da capacidade de refino do Brasil e 80% do estado, destaca Celso Ferreira, vice-presidente de operação da Acelen. “A refinaria gera receita fiscal para o estado, que pode ser revertida em políticas públicas para a população, além de gerar emprego e renda, e atrair novos investimentos em outros setores, fortalecendo a economia local e o desenvolvimento regional”, destaca.

Quem é

Celso Ferreira tem mais de 30 anos de experiência na área de Operações e Supply Chain em empresas do setor petroquímico, químico e sucroenergético. Trabalhou em grandes empresas nacionais e internacionais, tendo sob sua supervisão as áreas de produção, manutenção, processos e tecnologia, gestão industrial, engenharia e investimentos, qualidade e produtividade e saúde, segurança e meio ambiente. Possui sólida experiência na coordenação de múltiplas fábricas, fusões e aquisições com ampliação de capacidades, conceitos financeiros, de planejamento estratégico e de análise de investimentos. É formado em Engenharia Química e possui MBA em Administração de Empresas.

Qual é a importância da Refinaria de Mataripe para a Bahia?

A Refinaria de Mataripe é a segunda maior do Brasil e segunda maior exportadora da Bahia, responsável por 14% da capacidade total de refino do país, 42% do Nordeste e 80% do estado, respondendo por 17% do ICMS e 10% do PIB baiano. A refinaria gera receita fiscal para o estado, que pode ser revertida em políticas públicas para a população, além de gerar emprego e renda, e atrair novos investimentos em outros setores, fortalecendo a economia local e o desenvolvimento regional.

Vocês assumiram uma operação que está completando 74 anos. Quais foram os principais investimentos realizados e o que está no horizonte?

Já investimos mais de R$ 2 bilhões na modernização e recuperação de ativos com foco na segurança, na automação, com a transformação digital; na eficiência, capacidade e diversidade produtiva; e na redução da pegada ambiental das operações, conquistando melhorias nos índices ambientais, de eficiência hídrica e energética. Com os investimentos, houve aumento da capacidade total de produção de 289 mil barris por dia para 302 mil barris por dia, +4%, atualmente; lançamento de cinco produtos – propano especial, butano especial, diesel marítimo, solvente, OCB1 – ampliando o portfólio da empresa para mais de 30 produtos e mais de 83 recordes de produção. De 2021 até agora, aumentamos em 33% a produção de diesel, 181% em querosene de aviação e 198% em parafinas, levando a Acelen à liderança na produção e comercialização na América Latina. Hoje, a refinaria é o segundo maior fornecedor de bunker (combustível marítimo) do Brasil, destinando combustível para Bahia e outras regiões brasileiras através de parceiros da Baía de Todos os Santos, no Porto de Itaqui (MA) e na Baía de Sepetiba RJ). Continuaremos investindo na modernização das nossas estruturas, em pesquisas, trocas de experiências, qualificação profissional, ações e projetos para um futuro mais sustentável.

Refinaria de Mataripe está completando 74 anos Crédito: Divulgação

Em diversos momentos, temos notícias de que a Bahia tem combustível mais caro que a média nacional. O que explica isso, a operação de vocês é mais custosa que a de refinarias da própria Petrobras, por exemplo?

Nossa política de preços é transparente, informamos os reajustes para as distribuidoras no site da Acelen; e está amparada por critérios técnicos e em consonância com as práticas internacionais de mercado, levando em consideração variáveis como custo do petróleo, que é adquirido a preços internacionais, dólar e frete.

Recentemente, o governo sancionou a lei do chamado combustível do futuro. Como vocês estão se inserindo neste contexto de transição energética?

A Acelen, dentro da sua estratégia de transição energética, enxerga três grandes eixos de trabalho: aumentar a eficiência do ativo atual e para isso, focamos na otimização da refinaria, via recuperação e reativação de equipamentos parados, eliminação de vazamentos e redução de emissões, o que nos permitiu reduzir em 13% o consumo de energia da refinaria por volume de petróleo processado no período; expandir os limites, isto é, implementar e integrar tecnologias verdes e renováveis ao ativo atual, direcionando a formação de um perfil cada vez mais sustentável. Nesse sentido, fomos por dois caminhos, a implementação do nosso programa de Transformação Digital e Indústria 4.0 que nos permitiram acompanhar o desempenho energético em tempo real e evoluir a nossa eficiência e o investimento de 530 milhões de reais no parque solar, em parceria com a Perfin e a Illian, levando a ter 100% do consumo de energia elétrica da refinaria de fonte renovável e avançando no processo de descarbonização da unidade; redesenhar a indústria no Brasil, investindo em tecnologias disruptivas, o que levou a criação da Acelen Renováveis, start up em desenvolvimento para produção de biocombustíveis, como o combustível sustentável de aviação - SAF e o diesel verde – HVO, a partir da macaúba, planta nativa do cerrado brasileiro. Da semente ao combustível, transformando pastagens degradadas em plantações de macaúba, vamos produzir 1 bilhão de litros de combustíveis por ano na primeira planta na Bahia. Os combustíveis são totalmente drop in e com potencial de reduzir 80% das emissões de CO2, em comparação aos combustíveis fósseis, sem considerar o sequestro de carbono. Neste momento, a Acelen está na fase final do projeto de engenharia da biorrefinaria, com previsão de produção de biocombustíveis em 2027. Esses projetos reforçam o propósito da empresa em ser um player relevante da transição energética no Brasil e no mundo e tornar suas operações cada vez mais sustentáveis.

O petróleo produzido no Brasil tem uma pegada de carbono menor que a média mundial. Este cenário se repete na atividade de refino?

Sim, é uma realidade do mundo atual e temos que persegui-la, focados em ter um desempenho cada vez mais eficiente e sustentável. Dentro desse contexto, investimos na modernização da Refinaria de Mataripe com a transformação digital, tornando-a mais eficiente, aumentando a sua capacidade e diversidade produtiva, favorecendo a redução da pegada ambiental das operações, conquistando melhorias nos índices ambientais, de eficiência hídrica e energética. A companhia é pioneira na pegada zero carbono na logística marítima, com a neutralização de duas grandes cargas de petróleo da África. De dezembro de 2021 a agosto de 2024, reduziu em 26% o consumo total de água da refinaria, uma economia de 4,7 bilhões de litros, equivalente ao volume usado em uma cidade de 109 mil habitantes. Também houve economia de 13% no consumo energético da Refinaria de Mataripe. Essa redução, em um ano, equivale ao consumo residencial de eletricidade de todo o estado de Roraima. As emissões de gases enviados ao flare e ao meio ambiente foram reduzidas em 46% e, de enxofre, em 87%, além de ter gerado menos 30% de resíduos em 2023, quando foram produzidos 18.127,15t, contra 25.704,95t em 2022. Uma redução de mais de 7 mil toneladas.

Quais são os desafios do mercado de refino no Brasil?

Vejo como desafio a sustentabilidade, investimentos em modernização das refinarias com tecnologias mais limpas para reduzir as emissões de CO2 e eficientes para aumentar a capacidade de refino, produzir novos produtos e criar um ambiente mais competitivo, dependendo menos da importação da gasolina e do diesel. A qualificação profissional também é outro desafio, precisamos de mão de obra qualificada. Com esse objetivo, a Acelen investiu mais de R$ 25 milhões em ações sociais e educacionais. Estamos formando 40 mulheres no Jovem Aprendiz exclusivo para mulheres e no Acelen Acender, um Centro de Excelência em Educação, onde capacitamos nossos colaboradores, uma iniciativa inovadora para a formação de mão-de-obra para o setor de refino privado. Já são mais de 200 novos operadores crescendo com a companhia.

A Bahia é um estado interessante para a atração de novos investimentos em refino?

Sim, além da localização estratégica, na costa leste do Brasil, banhada pelo Oceano Atlântico, o que facilita o acesso marítimo, tem grande potencial para a atração de investimentos. O governo baiano tem se mostrado aberto a parcerias público-privadas, atraído investimentos em energias renováveis, como eólica e solar, promovendo a diversificação e sustentabilidade dos negócios. O crescimento da economia baiana é outro grande atrativo para novos investimentos. O Produto Interno Bruto (PIB) baiano cresceu 2,2% no segundo trimestre de 2024 em comparação ao mesmo período do ano anterior, acumulando expansão de 2,4%. No setor industrial baiano, a expansão foi de 2,8% no acumulado deste ano.