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Carolina Cerqueira
Publicado em 23 de fevereiro de 2025 às 11:17
A caminho do local da entrevista, estava o reflexo do que os mais de um milhão de ouvintes que ele tem no Spotify significam. “Olha o Rasta!”, gritou um homem que passava. Esse é o apelido de Eduardo Mascarenhas, o cantor de 37 anos de Feira de Santana que está conquistando o Brasil com uma mistura inusitada de reggae e seresta. >
O sucesso foi quase do dia para a noite. O projeto Seresta do Rasta foi lançado em novembro de 2024 e, além de ter a agenda lotada com shows, inclusive, fora da Bahia, ele já até gravou com o cantor e compositor Tierry. >
No EP “Seresta do Pai das Crianças”, lançado em 2025, o Rasta e Tierry cantam juntos em cinco músicas já disponíveis no Spotify ao lado de Erick Woods e J. Eskine, aquele do hit “Resenha do Arrocha”. “Meu fenômeno”, deixou registrado Tierry nos comentários do vídeo do encontro publicado nas redes sociais. >
Nas imagens, o Rasta se destaca pelo visual diferenciado. O estilo street das roupas se junta aos óculos de lente amarelada com o toque especial da touca nas cores verde, vermelho e amarelo (clássicas do reggae) com tranças penduradas. Esse foi o acessório que ele escolheu para marcar a identidade antes de virar rasta de fato, mudando o cabelo. >
“No início, a galera não gostou muito. O regueiro raiz falava que rasta tinha que ser rasta de verdade. Mas, agora, sinto que consolidei um público bacana”, diz o cantor. Ele ainda está se acostumando com a fascinação dos fãs. “No camarim, sempre me surpreendo com o pessoal mais idoso e as crianças que chegam pulando, dançando, maravilhados e até chorando, às vezes”, completa. >
A melhor sensação, no entanto, é ver, de lá do palco, o público cantando as músicas dele durante o show. Tudo começou com uma ironia do destino, como ele mesmo diz. Eduardo era produtor musical antes, de uma banda que chamava Furacão Love e depois passou a se chamar Furacão Hit. Em 2018, por falta de dinheiro para contratar um cantor para um projeto, ele mesmo arriscou a voz. >
Deu certo. Até a esposa, Mila, cantou também. Eles regravaram juntos a música Ainda Te Amo Demais e ela segue fazendo participações nos shows. O hit “Química Natural” celebra o casal com a letra: “Não te tiro da cabeça, eu te quero namorar, a mais linda do planeta, com quem quero me casar, oh Camila”.>
As letras grudam fácil na cabeça, além de apostarem em um inglês abaianado, digamos assim. As regravações dos sucessos “Banana Boat” e “Jerusalém”, de Harry Belafonte e Alpha Blondy, ganham um charme especial pelo humor envolvido. “Eu só tenho até a sétima série, não sei falar nem português direito, imagina inglês”, diz Eduardo, rindo. >
Quando os pais se separaram, ele, que é o mais velho dos quatro irmãos, foi ajudar no sustento de casa. Não conseguiu conciliar trabalho e estudo e abandonou a escola. Aos 12 anos, começou a trabalhar e já assumiu funções como pintura e plotagem de carro. >
Ele abraça a brincadeira. Além dos bordões “olha a pedra!” (que anuncia um sucesso) e “cabeça de gelo!” (incentiva uma cabeça fresca, sem preocupações), o bordão “camon baby” é uma versão própria de “come on, baby”. >
O ritmo é daqueles que faz o corpo mexer involuntariamente. Ao tentar imaginar a junção de reggae e seresta, o resultado na teoria pode parecer estranho, mas, ao ouvir, faz todo sentido. “Esse ano foi igual essa música, não entendi nada, mas foi gostosinho”, brincou o vereador e repórter Jorge Araújo nas redes sociais, resumindo bem a identidade da Seresta do Rasta. >
Ele mesmo faz a produção dos shows e domina instrumentos, apesar de nunca ter feito uma aula de música sequer. “Toco teclado, baixo, guitarra, bateria. Eu comecei na igreja; quando precisava de alguém eu ia, mesmo não sabendo tocar, arriscava e fui aprendendo assim”, recorda.>
A inspiração para os ritmos vem de Bob Marley, Edson Gomes, Pablo, Silvanno Salnes, Tayrone e Serginho do Adão Negro. O Rasta cresceu ouvindo reggae junto com o pai e, ao notar o arrocha e a seresta ganhando cada vez mais espaço, não hesitou em tentar unir as duas personalidades. >
Foi com o ainda Furacão Love que Eduardo conseguiu furar a bolha. É dele a composição de “My baby”, lançada em 2018 e que fez sucesso na voz de tantos outros artistas. “Zé Felipe chegou no Piauí e só tocava essa música. Ele me procurou para regravar”, lembra. >
Tempos depois, ele estava limpando o chão dos fundos da casa em Feira de Santana quando um carro de som passou tocando a música dele. “Foi um choque. Ali eu senti que estava dando certo e comecei a receber ligações para fazer shows”, conta. >