Saiba porque você precisa maratonar a série Ninguém Quer na Netflix

Produção traz novos ares para a comédia romântica sem deixar de tocar em temas importantes

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  • Priscila Natividade

Publicado em 19 de outubro de 2024 às 11:00

‘Ninguém Quer’ já alcançou mais de 9,6 milhões de views na Netflix
‘Ninguém Quer’ já alcançou mais de 9,6 milhões de views na Netflix Crédito: Divulgação/ Netflix

Um rabino ‘gato’ e ‘descolado’. Uma podcaster sem nenhuma cerimônia para falar de sexo. Um casal improvável? Sim. Uma desconstrução do ideal de amor-perfeito? Também. Será que essa relação sobrevive as diferenças? Bom, a resposta talvez esteja lá na próxima temporada. Mal estreou na Netflix, a série ‘Ninguém Quer’(EUA, 2024) já garantiu sua continuidade após alcançar 9,6 milhões de views e a segunda posição no Top 10 Global da plataforma, atrás apenas de Outer Banks (EUA, 2020).

Dá até para pensar que a história de amor nada fácil - nem por isso, impossível - fez tanto sucesso assim pelo apelo do romance. Ou quem sabe, a nostalgia de se apaixonar novamente por Kristen Bell (Veronica Mars, The Good Place) e Adam Brody (The O.C., Gilmore Girls). Mas, na verdade, a trama chega um pouco além, ao trazer uma comédia romântica, ao mesmo tempo, que toca em questões importantes sobre relacionamento, família e religião. Vai ter aquela ‘água com açúcar’ que a gente gosta nos 10 episódios? Vai. Mas também um pouquinho do ‘sal’ das relações contemporâneas e reais, como destaca a pesquisadora do Laboratório de Pesquisa - Cultura Pop, Comunicação e Tecnologias (CULTPOP), Taty Larrubia.

“A série é muito interessante porque aborda o amor de uma forma mais realista. É uma comédia romântica leve, porém, traz questões muito profundas que conversam muito com a modernidade, com essas novas formas de relacionamento. E que mais me chamou atenção é essa maturidade do casal que já tem suas cargas do passado, trinta, quarenta e tantos anos de vida. Essa é uma das chaves bem importantes da série, assim como o fato de ter essa quebra de uma podcaster que fala de sexo e um relacionamento com um rabino que tem uma família completamente tradicional”.

"A série é muito interessante porque aborda o amor de uma forma mais realista. É uma comédia romântica leve, porém, traz questões que conversam muito com a modernidade, com essas novas formas de relacionamento "

Taty Larrubia
pesquisadora do Laboratório de Pesquisa CULTPOP

A produção chegou no streaming ali no finalzinho do mês de setembro sem prometer final feliz e, aqui no Brasil, se mantém também no Top 10 por três semanas seguidas desde que estreou. “Não é que não exista mais filmes ou séries água com açúcar. Porém, o que a gente percebe é que o público consumidor quer se identificar cada vez com que está assistindo. Não dá mais para manter um único padrão ou direcionamento de formação de protagonista. É buscar mesmo a diversidade”.

Doutora em Ciências da Comunicação e especialista em Cultura Pop, Giovana Carlos, acrescenta que ‘Ninguém Quer’ traz um respiro para o gênero. “As ‘rom-coms’ viveram o auge nos anos 2000, mas é preciso lembrar que os filmes e séries de romance vão estar sempre em alta. A premissa de ‘Ninguém Quer’ diz muito sobre como a gente vive a polaridade hoje – isso não no sentido de partido, mas de escolhas, ideias. Temos ali figuras conservadoras e outras mais liberais, só que eles se abrem um para o outro em realidades de universos extremos. Esse é o novo ar que a série trouxe”.

Série é baseada na história real da sua criadora e já foi renovada para 2ª temporada
Série é baseada na história real da sua criadora e já foi renovada para 2ª temporada Crédito: Divulgação/ Netflix

O amor romântico que se conhece não vai acabar, garante: “Existe uma tradição que vai começar lá com a Jane Austen e se mantém até hoje com diferentes tipos de romance, seja os sexuais como ‘Cinquenta Tons de Cinza’ ou os contemporâneos como os escritos por Collen Roover, que está em alta agora depois da versão de ‘É assim que Acaba’ para o cinema. Tem os adeptos dos doramas asiáticos e até uma plataforma de streaming, a Passionflix, que é só de romance”, comenta.

Encontros e desencontros e o inevitável humor gerado por isso são mais atrativos que chamam a atenção de um público fiel, mas que prende em uma trama renovada por explorar a identidade e as tradições. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia (Poscom/UFBA) e integrante do grupo de pesquisa A-Tevê, Thaiane Machado, ressalta que tudo isso é muito bem-vindo no contexto onde as expressões de amor são muito mais variadas e inclusivas do que as histórias que estávamos acostumados a ver.

“A assertividade da narrativa está na simplicidade e na clareza com que ela apresenta conflitos universais de uma forma leve e divertida. Os personagens são bem desenvolvidos e seus dilemas são reais, facilitando a identificação do público. Além disso, o humor inteligente ajuda a suavizar esses conflitos, sem deixar de lado o peso emocional que eles carregam”.

Diferenças

Joanne é agnóstica e Noah, um rabino que você nem imaginaria que era rabino e poderia até passar por algum tipo de constrangimento quando descobrisse isso. O que 'Ninguém quer' tem a dizer sobre relações afetivas com casais com religiões diferentes? Para a psicóloga especialista em Diversidade e terapeuta de Casal e Família, Shenia Karlsson, a questão religião emerge tensões que refletem uma sociedade onde a aceitação das diferenças nem sempre é simples.

“A comunicação honesta ajuda a evitar construções de expectativas irreais. Para tanto será necessário o respeito mútuo. Isso significa não menosprezar ou ridicularizar a religião e estar disposto a entender por que essas crenças são importantes. Isso pode incluir ainda questões sobre como cada um enxerga a fé, o que é negociável ou não, e como imagina que essas diferenças afetam o relacionamento a longo prazo”, aconselha.

"Isso significa não menosprezar ou ridicularizar a religião e estar disposto a entender por que essas crenças são importantes"

Shenia Karlsson
psicóloga especialista em Diversidade e terapeuta de Casal e Família

'Ninguém quer' é inspirada na história real da criadora da série, Erin Foster, com o executivo musical, Simon Tikhman. Psicóloga especialista Terapia Cognitivo- Comportamental, Bárbara Guimarães, diz que a perspectiva de relacionamento se constrói acomodando diferenças mútuas. 

“Ou seja, amar é algo que se faz, ou que se escolhe, que se decide fazer. Na própria série, o rabino aconselha um casal e fala sobre noivado que rompeu, explicando que eles não conversavam profundamente e nem sobre seus desconfortos, quando pergunta: ‘o que querem dizer um para o outro, o que querem que o outro saiba’? Acomodar as diferenças vai demandar comunicação, validação emocional de si e do outro, flexibilidade, definição de limites saudáveis, evolução contínua e desenvolvimento mútuo”.

Em um mundo com inúmeras visões de relacionamento, já vivemos diferentes formas de amor, como complementa a professora de psicologia da Wyden, Tarcya Lima. “Cada casal tem sua própria configuração e os acordos que são feitos. Isso significa dizer que cada par tem seu modo de funcionamento, o que é permitido, o que não é. O que faz sentido e o que não faz. Se isso for algo comum, todos estarão bem. É preciso disponibilidade”, diz.

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