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Carolina Cerqueira
Fernanda Santana
Publicado em 13 de abril de 2024 às 05:00
De uma hora para outra, Gabriel Penna Burgos Costa, 18 anos, se viu em uma posição que nunca imaginou. "É muita pressão, é algo novo para mim. Sempre evitamos a exposição", conta o único filho de Gal Costa, sobre a necessidade de ter que expor os detalhes das brigas judiciais que envolvem o patrimônio da artista.>
Em meio aos imbróglios jurídicos, Gabriel tomou uma decisão pensando no legado da mãe: criar uma fundação cultural em homenagem a Gal, que morreu em novembro de 2022, aos 77 anos. >
"Quando saí da bolha em que estava desde a morte da minha mãe, decidi tomar conta das coisas dela para deixar ela orgulhosa e fazer com que a imagem dela siga sendo espalhada pelo mundo", conta o jovem, que se define como "reservado, tranquilo e quieto". >
A criação de um instituto que formasse músicos e promovesse festivais era um plano antigo de Gal. Em 1997, ela elaborou um testamento em que destinava seu patrimônio à Fundação Gal Costa de Incentivo à Música e Cultura, mas o documento foi revogado por ela mesma em 2019.>
Foi só em janeiro deste ano, no entanto, que Gabriel soube dos antigos planos da mãe, por intermédio de Luci Vieira Nunes, amiga de Gal e hoje advogada dele ao lado de Mariana Athayde. >
Ele decidiu fazer valer o que previa o documento, se comprometendo a criar a fundação com parte do patrimônio que receberá após o inventário e futuras parcerias público-privadas. >
“Puxa! Eu quero isso! Eu vou fazer isso pela minha mãe!”, disse ele, ao saber do desejo de Gal. O jovem, então, assinou um acordo extrajudicial com duas primas de sua mãe, Verônica Silva e Priscila de Magalhães. >
Em março deste ano, elas entraram na Justiça com um pedido de revalidação do testamento para que a fundação fosse criada. >
O acordo entre os familiares foi firmado no dia 1º de abril e acessado com exclusividade pelo CORREIO. "O que me motiva é minha mãe, a felicidade que isso daria a ela e o orgulho que ela poderia ter de mim ao realizar esse seu desejo", conta Gabriel.>
Desde o início do ano, ele está envolvido em uma briga judicial com Wilma Petrillo, ex-empresária e viúva da cantora, que alega na Justiça que teve uma união estável com Gal. "Não estou brigando por dinheiro, mas pelo respeito que a minha mãe merece', diz o herdeiro".>
Na entrevista exclusiva a seguir, por e-mail, o filho de Gal compartilha os planos para a fundação, lamenta a exposição da sua privacidade e revela o processo de redescobertas com a família. "Família para mim, nos últimos anos, era mais a minha mãe. Além dela, o meu tio Guto Burgos e meu padrinho Márcio Mothe e os amigos que agora puderam se aproximar de mim" . Confira:>
O que te motiva a arcar com o compromisso de criar a fundação? >
Minha mãe, a felicidade que isso daria a ela e o orgulho que ela poderia ter de mim ao realizar esse seu desejo.>
Qual foi a sua reação ao saber do desejo de Gal sobre a fundação?>
Isso não me causou surpresa, essa atitude de minha mãe em querer ajudar os menos favorecidos. Era o jeito dela, sempre agia com compaixão. Criar uma fundação é uma coisa grande, que requer muito trabalho e esforço.>
Como surge a sua iniciativa de assumir o compromisso?>
Quando saí da bolha em que estava desde a morte da minha mãe, decidi tomar conta das coisas dela para deixar ela orgulhosa e fazer com que a imagem dela siga sendo espalhada pelo Brasil e pelo mundo. Para fazer a arte dela alcançar mais gente.>
Gal mencionava algo sobre suas vontades depois que morresse? >
Nunca comentou muito sobre isso comigo. Ela não entrava em detalhes sobre as coisas que tinha, seu patrimônio. Mas sempre me passou a tranquilidade de que eu era o seu único herdeiro.>
Como você soube da existência do testamento que fala sobre a criação da fundação?>
Pela minha advogada, Luci Vieira Nunes.>
Gal, segundo o testamento, queria que a fundação fosse na Bahia. O acordo, no entanto, deixa você livre quanto à escolha do local. Onde será a fundação?>
Isso ainda não está decidido, vai depender das possibilidades que surgirem.>
Pretende gerir a fundação sozinho?>
Isso tudo ainda está muito incipiente, e vamos decidir com calma. A fundação existe como projeto de minha mãe e, dentro das possibilidades financeiras, após o inventário acabar, vou buscar investimentos públicos ou da iniciativa privada. Acho que muitos apoiarão.>
O acordo firmado ajuda no andamento do inventário?>
O importante para mim é o desejo de minha mãe, o legado de minha mãe, a divulgação de sua arte. Não é uma decisão ligada ao processo.>
Como foi a sua conversa com as primas de Gal? >
Foi um reencontro muito emocionante e também de tranquilidade por esse momento de reencontro com a família. Nós pudemos juntos extravasar nossas emoções, as saudades da minha mãe. Não falava com elas fazia algum tempo. >
Há quanto tempo você não via ou não tinha contato com Verônica e Priscila?>
Acho que uns 4 anos.>
As duas mencionaram que tentaram procurá-lo após a morte de Gal, mas não conseguiram seu contato. Você, em algum momento, soube das tentativas?>
Nunca soube. Wilma barrava toda a família de minha mãe, assim como amigos. Infelizmente, só entendi isso depois da morte da minha mãe.>
[Em resposta à acusação de Gabriel de que “barrava toda a família”, a defesa de Wilma Petrillo afirmou que ela “jamais barrou quem quer que fosse, jamais teve esse interesse ou poder” e que “Gal decidia por ela própria com quem conviver”. A nota diz ainda que Wilma está preocupada com Gabriel e deseja que ele volte para casa.]>
Qual contato você tinha com Verônica e Priscila?>
Convivi mais quando era pequeno, uma coisa de muito carinho. Eu me divertia muito com elas, a gente ria, contava piada. Essas são as minhas memórias.>
Esse acordo te aproxima de Salvador?>
Eu espero que sim. Desde que fui para São Paulo, aos seis anos, tive pouco contato com a cidade.>
Esse acordo te reaproxima da família?>
Com certeza.>
Quem você enxerga como a família hoje?>
Família para mim, nos últimos anos, era mais a minha mãe mesmo. Além dela, a família pra mim era o meu tio [Guto Burgos, irmão de Gal], o meu padrinho Márcio Mothe e os amigos que agora puderam se aproximar de mim e me dar apoio nessa situação ruim que estou passando. >
E, sem a minha mãe, acho natural recriar vínculos com eles e minhas primas. Acho que a minha mãe ficaria feliz com isso.>
Você sempre teve noção da grandiosidade de sua mãe?>
Por um tempo, não. Quando era menor, eu a via mais como mãe, não como a artista Gal Costa.>
Sua vida pessoal, por desejo de sua mãe, sempre foi reservada. Ela própria não dava detalhes sobre o que passava com ela. Como é, agora, se ver nessa posição de dar entrevistas e explicações sobre a sua vida?>
Muito complicado e muito pesado. É muita pressão. É algo novo para mim. Eu sempre fui muito reservado, na minha. Tranquilo, quieto, parecido com minha mãe. Sempre evitamos a exposição de nossa privacidade. E quando minha mãe estava viva, o foco era sempre ela.>
Você está preocupado com a sua imagem, agora que deixou o anonimato?>
Acho normal que eu tenha essa preocupação agora, mas sei que vou voltar ao anonimato passada essa situação atual. Não gosto que me julguem sem saber quem sou de verdade. E quem me conhece sabe que não estou brigando por dinheiro, mas pelo respeito que a minha mãe merece.>