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Thais Borges
Publicado em 14 de julho de 2024 às 05:00
Não é incomum que só a insônia seja lembrada como um distúrbio do sono. Mas a apneia também é. Ela causa paradas respiratórias enquanto a pessoa dorme e, com isso, pode levar a complicações cardiometabólicas graves, como hipertensão, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca e a própria diabetes tipo 2. Em casos extremos, pode levar à morte.>
Ter apneia é muito mais do que simplesmente roncar durante o sono. “O ronco é o primeiro sinal de que o indivíduo pode ter AOS - a apneia obstrutiva do sono. Inicialmente, é um problema social, mas é um alerta de que precisa ser investigado. É preciso saber qual é o diagnóstico que a pessoa tem”, explica a médica do sono e otorrinolaringologista Cristina Salles, coordenadora do Serviço de Medicina do Sono do Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e professora da Escola Bahiana de Medicina. >
Ainda que a apneia seja multifatorial, a obesidade é uma das condições mais comuns em pacientes que convivem com ela. Segundo o médico cardiologista Luciano Drager, presidente da Associação Brasileira do Sono, as estimativas são de que até 50% dos pacientes com obesidade podem ter algum grau de AOS. Quando a pessoa tem diabetes, a condição é ainda mais frequente. Para quem tem obesidade grau 3, que corresponde ao Índice de Massa Corpórea maior do que 30, a condição aparece em mais de 90% dos casos.>
Atualmente, não existe tratamento medicamentoso para a apneia. Em geral, a mudança de hábitos costuma ser a primeira indicação pela médica do sono e otorrinolaringologista Cristina Salles, do Hospital das Clínicas da Ufba, aos pacientes. Nesse aspecto, reeducação alimentar e atividade física podem ser uma abordagem para pacientes com obesidade. Além disso, é possível usar um aparelho intraoral, desenvolvido por dentistas do sono. Esse equipamento puxa a mandíbula e a língua para a frente, evitando a obstrução. >
"Por último, tem o aparelho CPAP, que é o padrão ouro para a apneia. Ele gera uma pressão positiva e evita que tenha o colapso na via aérea. É como se ela criasse um vácuo na via aérea e fechasse tudo", explica Cristina. No entanto, a pessoa vai passar a vida inteira sendo acompanhada por um médico do sono e por um fisioterapeuta. "A gente tem que acompanhar de perto para ver quais são as dificuldades que o paciente está tendo. Vejo os meus pacientes, no mínimo, a cada três meses. Digo que é um casamento sem direito a divórcio, porque a pessoa vai passar a vida toda usando".>
Novo remédio>
Agora, a tirzepatida - ou Mounjaro, em seu nome comercial - ficou famosa pelo tratamento que torna possível a perda de peso de forma rápida e sem efeitos colaterais. Mas, agora, o remédio chamado por alguns de ‘Ozempic dos ricos’ pode ser um aliado no tratamento da apneia do sono.>
Essa possibilidade se tornou uma alternativa palpável no fim de junho, quando uma nova pesquisa que mostrou que a tirzepatida conseguiu reduzir em até 62,8% eventos de apneia dos participantes - ou seja, ter até 30 episódios a menos por hora, em comparação aos que usaram o placebo. Os resultados são referentes à fase 3 do conjunto de estudos chamados Surmount-OSA, que acompanhou 469 pessoas adultas com obesidade e apneia por 52 semanas em países como Brasil, Japão, México e Estados Unidos. >
Foram avaliadas pessoas com quadros de apneia considerados de moderado a grave. Além disso, entre os participantes, havia tanto quem usa um dispositivo que ajuda a manter as vias aéreas abertas durante o sono (a chamada terapia CPAP) quanto quem não usa. Todos usaram a dose máxima do remédio.>
“Trata-se de uma importante publicação, envolvendo dois estudos, na qual foi testado o efeito de uma medicação com grande promessa para o tratamento da obesidade, um dos fatores de risco mais importantes para a apneia do sono, sobre a redução da gravidade deste importante distúrbio do sono”, afirma o médico cardiologista Luciano Drager.>