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Preparação diferenciada: o que está por trás das turmas exclusivas para Medicina nas instituições de ensino

Colégios e cursos tiveram que se adaptar para atender à demanda de até 80% dos alunos que querem ser médicos

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 8 de novembro de 2024 às 15:17

O curso Único não foi criado originalmente apenas para Medicina, mas se tornou especializado nessa preparação
O curso Único não foi criado originalmente apenas para Medicina, mas se tornou especializado nessa preparação Crédito: Paula Froes/CORREIO

Numa sala de aula do terceiro ano do Ensino Médio, as preferências de escolha no vestibular variavam. Havia quem quisesse fazer Direito, quem optasse pelas Engenharias, por Odonto, pelas Licenciaturas e, claro, tinha quem sonhasse com Medicina. A concorrência alta desta última sempre esteve ali, mas não a ponto de ser maior do que todas as outras carreiras juntas.

Mas esse cenário ficou no passado - talvez tenha parado dez ou 15 anos atrás. Hoje, o quadro é outro: estudar para Medicina não apenas mobiliza até 80% dos estudantes em algumas instituições de ensino como tem fomentado um ecossistema pedagógico e econômico próprio cujas cifras podem chegar aos milhões.

Sem contar o crescimento de mentorias e disciplinas isoladas, um dos primeiros sinais de que a tendência tinha mudado foi quando cursinhos “pré-vestibulares” deixaram de se apresentar dessa forma e viraram “pré-Medicina”. Só nas últimas semanas, o aquecido mercado educacional teve duas novas adições: o anúncio de turmas ‘MED’ durante todo o Ensino Médio, pelo Colégio Anchieta, e a venda do Pontomed, primeiro curso preparatório exclusivo para Medicina no estado.

“Vejo menos estudantes fazendo Engenharias, vejo menos estudantes fazendo Direito, vejo menos estudantes fazendo Licenciaturas. Se você for para a Ufba (Universidade Federal da Bahia), os cursos continuam lotados, mas a concorrência diminuiu e isso é sensível”, diz o professor de Redação Lucas Rocha, que tem 25 anos de experiência e, há 20, oferece um curso focado na disciplina.

Sem contar a preparação que oferece especificamente para a Escola Bahiana de Medicina, que tem 100% de público inscrito neste vestibular, os cursos regulares dele têm até três quartos dos matriculados na condição de ‘vestibulando de Medicina’.

O Ministério Público estadual recomendou ao Colégio Anchieta que adote medidas de combate ao racismo institucional
Colégio Anchieta Crédito: Divulgação

Neste fim de semana, quando mais de 376 mil baianos farão o Exame Nacional do Ensino Médio, o foco de muitos deles será justamente a Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), da Ufba, uma vez que a instituição é a principal universidade do estado a adotar as notas da prova para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

As vagas na FMB, inclusive, têm sido motivo de debate. Na quarta-feira (6), o Conselho Acadêmico da Ufba rejeitou a proposta para a suspensão do acesso do Bacharelado Interdisciplinar (BI) em Saúde - que tinha sido aprovado pela mesma instância há um mês. A decisão veio menos de uma semana depois de FMB divulgar uma nota contra a redução de vagas no Sisu.

Há pelo menos três anos, a Ufba não tem nenhuma vaga residual para Medicina - ou seja, aquelas que acabam ficando disponíveis depois que um estudante se matricula em um curso, mas sai da instituição de alguma informa, a exemplo de desistências ou transferências. No último edital, lançado em julho, havia 18 vagas para Engenharia Civil, 25 para Nutrição em Salvador e 16 para Direito.

Prioridade

Enquanto acompanham os desdobramentos na Ufba, estudantes que querem fazer Medicina em Salvador elegem a instituição e Bahiana - cuja prova acontece no próximo dia 24 - como suas prioridades. Esse é o caso da adolescente Paula Pinheiro, 18 anos, que é aluna do terceiro ano do Colégio Anchieta e faz revisão dos temas em uma das turmas com o objetivo de Medicina.

Ela decidiu não fazer a prova da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em dezembro, por exemplo, porque avalia que o vestibular para a instituição requer um preparo diferente. "Acredito que quando você foca em muitas coisas, acaba não focando bem em nenhuma. Meu foco principal é a Bahiana, mas, como a escola tem foco em Enem, consigo estudar. Com a Uneb, seria diferente. Quando você tem muitos, acaba não fazendo nenhum com excelência", pondera.

Há três anos buscando a aprovação, a estudante Camille Catharina, 20, explica que há diferenças entre a preparação para a graduação médica e as aulas na escola. Ela escolheu o curso Único, um dos que é totalmente focado em Medicina hoje. "No Ensino Médio, você acaba estudando mais o que gosta. Aqui, você tem que estudar tudo, como parte da rotina", explica. Até concluir o colégio, em 2021, ela diz que ainda via preferências mais diluídas entre os alunos. "Hoje em dia, acho que (o interesse) é bem mais para Medicina mesmo, até por status", avalia.

Camille estuda para Medicina
Camille estuda para Medicina Crédito: Paula Froes/CORREIO

A professora Rozenilda Mota, diretora pedagógica do Único, reforça que esse estudo deve ser direcionado. "Às vezes, a pessoa faz isolada, faz isso, faz aquilo, e até perde o foco, porque o currículo da escola é muito abrangente. O cursinho é mais direcionado".

A diretora pedagógica do curso Único, Rozenilda
A diretora pedagógica do curso Único, Rozenilda Mota Crédito: Paula Froes/CORREIO

Turmas

De fato, a preparação para ser aprovado em Medicina é diferente. Só para dar uma ideia, em 2012, último ano antes de a Ufba aderir totalmente ao Sisu e a última ocasião em que a concorrência foi divulgada, 58 pessoas competiam por cada vaga. Hoje, a Ufba não divulga mais a concorrência, mas a nota de corte para o curso é a mais alta da instituição, com 788,19. Na Uneb, a concorrência do último vestibular chegou a 259,57 para a turma do primeiro semestre.

As turmas “MED” já existem há algum tempo nos cursos preparatórios, mas são uma novidade no âmbito das escolas. No Brasil, há experiências conhecidas em cidades como São Paulo (SP), Recife (PE) e Curitiba (PR). Em Salvador, o primeiro anúncio do tipo veio do Colégio Anchieta, que já oferecia turmas de revisão para medicina na escola, em setembro deste ano.

A implantação foi motivada porque a direção percebeu que a demanda dos alunos por Medicina só aumentava, daí a necessidade de um trabalho direcionado. Eles fizeram, inclusive, questionários com os estudantes, de acordo com o diretor da instituição, Edmundo Castilho, que também é professor de Biologia. "Os vestibulares voltados para Medicina têm especificidades. Obviamente, as disciplinas de Biologia, Química e Física têm um peso grande", explica.

A mensalidade será a mesma - cerca de R$ 6 mil para o terceiro ano -, mas, no ato da matrícula, o aluno deve dizer se quer estar na turma regular ou na turma MED. A expectativa é de que pelo menos 60% ou 70% dos estudantes decidam pela segunda opção.

"Nessa turma, vai ter uma intensificação das disciplinas de Biologia, Química e Física, com simulados e revisões voltados para os vestibulares de Medicina. A gente pensa que, com os alunos ficando todos na mesma sala, como todos têm o mesmo interesse, eles vão ter mais facilidade para formar grupos de estudo e resolver questões", acrescenta.

Além dos conteúdos, a preparação de um estudante que quer fazer Medicina deve garantir suporte emocional e psicológico, segundo a pesquisadora Tatiana Weber Mallmann, doutoranda em Letras e autora de uma pesquisa de mestrado em Psicologia sobre o estresse e a ansiedade em estudantes que concorrem a uma vaga em Medicina.

Ela indica que o plano de estudos inclua práticas de relaxamento e atividades de bem-estar. "Os educadores podem usar métodos personalizados e intensivos para revisar áreas complexas, priorizando também técnicas de gestão de tempo e de prova para ajudar o estudante a enfrentar os desafios emocionais de maneira mais equilibrada", orienta.

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