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Thais Borges
Publicado em 7 de abril de 2025 às 05:00
O que antes representava a força da economia do cacau na Bahia agora serve de símbolo do abandono ao longo de mais de uma década. Inaugurado na década de 1930 e tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), o prédio onde funcionava o Instituto do Cacau hoje está escondido atrás de vidraçarias quebradas, mobiliário parcialmente destruído, papéis e livros espalhados pelo chão. >
A atual situação do prédio foi flagrada pelo bancário aposentado e pesquisador Marcos Rebouças, que fotografou o local em março. “Tinha um compromisso ali no Comércio e cheguei um pouco mais cedo. Estacionei ali pela rua e, quando passei pelo Instituto, vi os vidros quebrados. Na lateral, tinha um monte de coisa fora do lugar, coisa espalhada pelo chão. Me lembrei que, ali, naqueles livros, devia ter muita informação importante da história do cacau e fui vendo a questão do abandono, da porta caída”, conta. >
Instituto do Cacau sofre com o abandono
O edifício foi atingido por um incêndio em 2012. Menos de um ano antes, em novembro de 2011, outro incêndio afetou uma sala de arquivos. Desde então, mais de uma década se passou sem que o Instituto tenha voltado ao pleno funcionamento (no térreo, há um posto de atendimento do SAC). Em 2018, a Secretaria da Administração do Estado (Saeb) chegou a anunciar o início das obras para recuperação estrutural do prédio. >
Tendo trabalhado em um banco da região por 13 anos, Rebouças sempre passava em frente ao prédio. “Uma vez, no final dos anos 1990, entrei no museu. Tinha uma porta giratória muito bonita e, lá dentro, havia o museu com várias peças, contando a história do cacau. Tinha sementes, muita coisa legal”, conta o bancário. >
Até que, em março passado, notou a paisagem degradada. Ele fez fotos com um celular, do lado de fora do prédio. “Conheci o instituto antes, quando tudo funcionava perfeitamente. Ver naquele estado me deu muita tristeza. Lamento ver aquele auditório assim, que é uma coisa de qualidade, bem feita”, acrescenta. >
Sem uso>
De acordo com o historiador Rafael Dantas, o Instituto do Cacau surgiu como uma resposta para os produtos que exemplificavam a realidade econômica da Bahia no século 20 - especialmente, a economia cacaueira. “O cacau foi a grande potência e a grande referência de uma Bahia diferente, tanto nesses anos iniciais do início do século, como nas décadas seguintes. O Instituto do Cacau surgiu justamente com essa resposta, com a referência do produto em que a Bahia chegou a liderar”, explica. >
Antes de 2012, segundo ele, o prédio tinha uma finalidade administrativa burocrática, além de guardar um acervo precioso de dados referentes à realidade do cacau, geográficos, administrativos e agrícolas da Bahia. “Ali no museu, não tínhamos só arte, nem apenas elementos alusivos ao cacau e a suas interfaces, mas uma documentação rica e preciosa”, pontua. Não se sabe se esse acervo foi transferido, se continua no local ou se foi destruído. >
Desde o incêndio de 2012, o espaço ficou subutilizado. “E com uma grande incerteza. E é justamente essa incerteza que prejudica o nosso patrimônio. Ver o instituto dessa forma, ver esse acervo e ver esse espaço assim só me deixa triste. Lamento os caminhos que a Bahia tem dado ao seu patrimônio histórico como um todo. Isso não é só a realidade do Instituto do Cacau, como também de outros espaços de memória. Triste Bahia que não olha para o seu passado e que não olha para o seu patrimônio histórico”, acrescenta Dantas.>
O Ipac e a Secretaria de Comunicação da Bahia (Secom) foram procurados, mas não responderam aos questionamentos da reportagem. A Saeb informou que não é responsável pelo Instituto do Cacau. >