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Igreja de São Francisco é tema de evento da USP e professores cobram valorização: 'Nossa Notre-Dame'

Para especialistas, valorização do patrimônio brasileiro deixa a desejar

  • Foto do(a) author(a) Carolina Cerqueira
  • Carolina Cerqueira

Publicado em 23 de fevereiro de 2025 às 05:00

Igreja está interditada desde que acidente aconteceu
Igreja está interditada desde que acidente aconteceu Crédito: Marina Silva/CORREIO

‘A Notre-Dame baiana’. Foi assim que a Igreja de São Francisco foi classificada esta semana durante um evento da Universidade de São Paulo (UPS), liderado pelo Grupo de Pesquisa Tempo, Memória e Pertencimento.

A proposta foi discutir o desabamento do forro do templo ocorrido no dia 5 de fevereiro. Quem comparou a construção baiana que data do século 18 com a parisiense que pegou fogo em 2019 foi o professor da Ufba Evergton Sales Souza, pesquisador de história baiana religiosa.

Ele classificou como aquém do necessário a discussão sobre o ocorrido e defendeu a valorização dos patrimônios brasileiros. “Tem se falado muito pouco sobre o que representa esse episódio. Para além da tragédia humana, temos uma tragédia que nós da Bahia e do Brasil não dimensionamos ainda”, diz em entrevista ao CORREIO.

“É a joia da coroa da Bahia, é a nossa Notre-Dame. A catedral, em Paris, pegou fogo e houve mobilização, milionários doaram dinheiro. Aqui, a Igreja de São Francisco veio abaixo, falamos durante dois dias e agora tudo é Carnaval”, critica o professor.

Para Evergton, os brasileiros cuidam mal dos patrimônios que têm e é preciso voltar a ensinar e disseminar a importância da preservação da história. “Temos pouca ideia do que temos aqui. Você não encontra em Lisboa uma São Francisco, uma Conceição da Praia”, observa.

O doutor em arquitetura e urbanismo Mozart Bonazzi, professor da PUC de São Paulo, concordou com o pensamento durante a fala no evento. “No dia seguinte ao incêndio em Notre-Dame, milionários do mundo inteiro, inclusive do Brasil, doaram somas exorbitantes. Se lá tivesse sobrado um forro, tenho certeza de que os franceses colocariam no lugar com maestria. Nós também podemos fazer isso e espero que nossos bilionários e milionários também apoiem”, acrescenta.

Desabamento de teto da Igreja de São Francisco de Assis
Desabamento de teto da Igreja de São Francisco de Assis Crédito: Divulgação Codesal

Mozart defende que a valorização dos patrimônios por parte dos brasileiros não seja somente voltada ao que é encontrado na Europa. “Não existe lógica em aplaudir os templos lá fora e contribuir com a destruição dos que estão aqui dentro.”

O evento, aberto e organizado pela professora da USP Marina Massimi, colocou o envolvimento da sociedade civil como chave para a discussão. “Estamos convencidos de que a apropriação do patrimônio histórico pela população e pelas comunidades que a compõem é condição essencial de sua preservação”, disse ela durante a abertura.

A colocação casa com o que diz Mozart em relação à preservação. Ele explica que esta deve ser a palavra de ordem, enquanto a restauração deve ser a última opção, já que não existe, nas palavras dele, restauração sem agressão ao original.

O uso da tecnologia pode contribuir com este propósito, é o que afirma o professor da PUC do Paraná e membro do grupo de pesquisa responsável pelo evento Marcio Luiz Fernandes. “Além disso, uma ferramenta importante é a educação das novas gerações, a disseminação do conhecimento sobre as nossas riquezas culturais e a importância de valores e identidades culturais”, coloca em entrevista ao CORREIO.

Riqueza

Durante fala no evento, o professor Mozart lamentou a existência do discurso que “associa o desabamento na Igreja de São Francisco com uma espécie de arrumação decolonial”. Ele classificou o pensamento como infeliz. “Esse patrimônio enriquece a brancos, pretos, pardos e indígenas. Ele é de todos esses grupos que trabalharam para que ele existisse”, argumenta.

“As mãos que construíram igrejas como a de São Francisco são, em boa medida, mãos escravas. Temos ali memórias de quem colocou dinheiro, mas também de quem construiu, de fato”, completa o professor Evergton, da Ufba.

Mozart reforça que a construção ganha valor por ser de uma época pré-industrial, ou seja, feita à mão e exclusiva. Ele classifica a igreja como a mais importante em estilo barroco e um dos mais importantes empreendimentos de talha do mundo português.

“O acesso à herança precisa virar moda, é preciso sair do imediatismo. É importante entender o que esses patrimônios significam, até mesmo, para que sejam refletidos enquanto atrações turísticas vendidas. A manutenção e preservação disso tudo, sempre vistas como dispendiosas, devem ser vistas como investimento para a indústria de turismo”, defende.

Carta à Margareth Menezes e abaixo-assinado integram resoluções

Como resolução do evento realizado pela USP, ficou decidido que os palestrantes ficariam responsáveis pela elaboração de uma carta pública direcionada à ministra da cultura Margareth Menezes. O objetivo será requerer valorização dos patrimônios brasileiros e envolvimento de grandes empresários e artistas do país.

Além de Marina Massimi, Evergton Sales Souza, Mozart Bonazzi e Marcio Luiz Fernandes, também falaram no evento o professor da Unesp Percival Tirapeli, o pesquisador da USP José Eduardo Ferreira Santos e a professora da Universidade Católica de Salvador Ana Cecília Bastos.

"Solicitamos uma conversa da ministra com especialistas para que o significado do patrimônio seja alertado e que seja feita uma grande campanha envolvendo grandes personalidades, o governo e a sociedade civil como um todo", explica Evergton Sales Souza.

A maior preocupação dos especialistas que manifestaram-se durante o evento é a forma como a restauração da Igreja de São Francisco será conduzida e se os devidos cuidados serão tomados.

Guias turísticos que atuam no Pelourinho, onde fica a igreja, lançaram esta semana um abaixo-assinado em defesa da preservação dos patrimônios históricos da Bahia. Até esta sexta-feira (21), o documento online continha 605 assinaturas virtuais.

A página é direcionada aos governos municipal, estadual e federal e está no link https://bit.ly/4klgd0e.