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Hobby ou profissão? Alunos formados em curso de lapidação empreendem e faturam até R$ 6 mil

Único curso de lapidação do Nordeste fica na Bahia, que também tem uma das mais tradicionais formações de joalheria do país

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 5 de janeiro de 2025 às 08:03

Oficinas de lapidação e joalheria são oferecidas pelo Instituto Gemológico da Bahia (
Oficinas de lapidação e joalheria são oferecidas pelo Instituto Gemológico da Bahia ( Crédito: Marina Silva/CORREIO

A profissão era passada de pai para filho. Fosse a arte de lapidar uma pedra bruta ou de trabalhar com metal e transformá-lo em joia, o ofício de joalheria e lapidação era estritamente masculino. Hoje, contudo, o trabalho minucioso se modernizou e se tornou uma alternativa de renda para diferentes gerações, inclusive aposentados.

Segundo maior produtor de gemas do país, o estado da Bahia tem o único curso de lapidação do Nordeste, além de um dos mais tradicionais cursos de joalheria do Brasil. Ambos são oferecidos pelo Centro Gemológico da Bahia (CGB), no Centro Histórico. Só no ano passado, foram 15 oficinas ministradas no casarão tombado que é a sede do órgão, na Rua Gregório de Matos, nº 27, com uma média de 200 alunos no ano. A agenda para 2024 já tem inscrições abertas para alguns dos cursos: a Oficina de Preparo de Ligas e Laminação de Metais será entre os dias 27 e 31 deste mês e a Oficina de Lapidação Brilhante está marcada para de 10 a 15 de fevereiro.

"As pessoas começaram a criar gosto por produzir, pelo ‘faça você mesmo’, e a Bahia sempre teve essa tradição no comércio de gemas. Além disso, cada vez mais pessoas começaram a dar valor àquela joia artesanal, com identidade", avalia a coordenadora do CGB, Monica Correia. De acordo com ela, o perfil dos alunos inclui pessoas de todas as idades e profissões. Fundado em 1995 a partir do desejo de um grupo de joalheiros que queria aperfeiçoar suas próprias atividades e buscou a administração estadual na época, o órgão também é responsável pelo único laboratório das regiões Norte e Nordeste que faz a certificação de pedras preciosas, após análise.

A necessidade de desenvolver as técnicas para a lapidação de gemas - que é um nome mais técnico para falar de pedra preciosa - e a produção de joias no estado reflete também um mercado opulento: como segundo maior produtor de gemas no país, a Bahia é lider na produção de diamantes, esmeraldas e de quartzos rutilados. "Você tem o garimpo, o comércio da pedra bruta, o comércio da pedra lapidada e, depois, o comércio da joia. É uma cadeia com diversas etapas tanto da pedra bruta quanto da joia depois de pronta. Muito material é vendido para o exterior. Muitos estrangeiros compram a pedra bruta para lapidar lá fora", explica Monica.

A Bahia é o segundo maior produtor de gemas do Brasil
A Bahia é o segundo maior produtor de gemas do Brasil Crédito: Marina Silva/CORREIO

Apesar do aspecto artesanal, lapidar uma pedra e criar uma joia mudaram com a tecnologia. Antes, a bancada de um profissional era 100% manual. Agora, a pessoa tem a opção de trabalhar com impressão 3D e aprender sobre design de joias. "Hoje em dia, é tudo mais dinâmico. Os cursos vão acompanhando a dinâmica do mercado com maquinário, na sala de aula e com a estrutura", acrescenta a coordenadora.

Lapidação

Inicialmente, o CGB funcionava na Ladeira do Carmo, no entanto, em 2019, foi transferido para o Pelourinho porque a antiga sede já não comportava a demanda. Isso era importante porque os cursos são quase que 90% práticos. Ao final de cada um, a pessoa também já coloca a mão na massa. Até 2022, o curso completo durava um ano e meio, mas nem sempre os alunos tinham disponibilidade para seguir direto. Assim, veio a ideia de dividir em várias oficinas, cada uma com carga horária de 20 horas e duração de uma semana - cinco dias com um dos turnos completos.

Por esse modelo, as aulas ficam abertas o ano inteiro e a pessoa vai decidindo quais módulos deve fazer. Um iniciante pode começar por qualquer oficina - a única restrição é que os alunos devem ter mais de 18 anos.

Nas aulas de lapidação, a pessoa vai começar a entender todos os processos para concluir uma pedra lapidada - desde a escolha do material até como dar a forma, inclusive com o uso de um braço mecânico chamado de catraca e que ajuda na precisão dos cortes. Um participante também precisa entender como funciona o mercado, a regularidade das pedras, a nomenclatura e a qualidade delas.

"Na história, começamos com a lapidação manual, com o suporte de uma pequena caneta de madeira e o que a gente chama de gabarito, que é um retângulo furado. Com apenas esses acessórios, se fazia uma pedra lapidada antigamente", conta o professor e lapidário Victor Eloy. "Atualmente, com a lapidação de catraca, a gente muda um pouco o foco. A catraca também dá a possibilidade de fazer gemas únicas, no sentido de que posso fazer uma lapidação, uma borboleta no fundo da pedra, um cachorro, uma letra... Com toda a precisão".

O lapidário Victor Eloy dá aulas no CGB
O lapidário Victor Eloy dá aulas no CGB Crédito: Marina Silva/CORREIO

Seguindo os moldes de hoje, o tempo para lapidar uma pedra redonda de 10 mm - que é o primeiro módulo dos cursos do CGB - pode ir de 12 a 20 horas, dependendo da proximidade e aptidão do aluno. Só para dar uma noção, um profissional treinado leva cerca de uma hora para o mesmo trabalho.

A diferença de uma gema bruta para a lapidada é grande. Com as pedras mais baratas, o valor pode aumentar cerca de 500% após a lapidação. Já com as gemas de maior qualidade, o preço pode ficar até 40 vezes maior do que o inicial.

"A lapidação trabalha os conceitos de reflexão e refração da luz. O objetivo de um lapidário que procura fazer um trabalho de excelência é fazer com que a pedra lapidada não tenha o processo de refração e tenha mais reflexão", explica Eloy, citando os conceitos da Física. Enquanto na refração a luz passa de um meio para o outro, na reflexão, ela retorna ao meio de origem (daí a ideia de que as pedras ‘brilham’). Numa pedra mal lapidada no ano, por exemplo, é possível enxergar o aro do anel no dedo e não a pedra.

Joalheria

O trabalho da joalheria é muito ligado à gemologia e à lapidação. No começo dos cursos - inclusive, quando o ourives e hoje professor de joalheria Flaviws Silva fez sua formação -, a pedra vinha primeiro. O design da joia era feito a partir dela.

"Com o avanço da joalheria e a demanda das fábricas, a produção de joias precisou ser escalonada em quantidade. Surgiram as condições, os processos de fundição e você passou a conseguir escalonar uma única joia em 100, 200, 300 peças", explica, citando o trabalho das impressoras 3D.

A jolheria está diretamente ligada à lapidação
A jolheria está diretamente ligada à lapidação Crédito: Marina Silva/CORREIO

Agora, os lapidários que precisam fazer pedras para os modelos parametrizados. Se a necessidade é de uma pedra redonda de 3mm, tem que ser cravado. Antes, não era incomum que ela tivesse 3,2 mm ou 3,1 mm de diâmetro.

"No curso básico, a intenção é ter o primeiro contato com as ferramentas, com a oficina e os metais. Você já consegue ir desenvolvendo as técnicas desde a pesagem do metal, derretimento, ponto de fusão e as ligas para dar coloração ao ouro", cita o professor. Os alunos também aprendem a serrar, confeccionar um anel e, em seguida, uma corrente. Nos demais módulos, vêm as outras técnicas, como brinco e argola africana.

O professor Flaviws Silva trabalha com a prata em suas aulas de joalheria
O professor Flaviws Silva trabalha com a prata em suas aulas de joalheria Crédito: Marina Silva/CORREIO

As aulas são com a prata, que é um material mais acessível e fácil de trabalhar. Ainda assim, as técnicas aprendidas servem para tudo. Com a prata, a pessoa precisa aprender a fazer a liga de prata, já que a joalheria não costuma trabalhar com a prata pura - essa, por sua vez, é frágil e maleável demais para as joias.

Na Bahia, hoje, as possibilidades de trabalho são mais fartas para quem quer empreender. É possível contratar um lapidário - alguém que finalizou todos os cursos - por cerca de R$ 2,5 mil, em algumas joalherias. Um encravador, alguém que coloca as gemas nas joias e é um profissional demandado hoje, pode ser contratado por R$ 3 mil.

No entanto, a maioria das pessoas prefere trabalhar para si. Quem escolhe bons materiais para trabalhar pode faturar entre R$ 5 mil e R$ 6 mil. O investimento no maquinário e nos equipamentos é considerado mais acessível do que em outras profissões e fica em torno de R$ 13 mil.

Hoje artesã de prata, Débora Miscow, 62 anos, descobriu o talento para a nova profissão depois de se aposentar. Ela trabalhava na área de educação até o início da pandemia e a família se preocupava se ela não faria nada depois. "Eu disse que ia resgatar meu lado artístico. Fui em busca de cursos de joalheria, mas os ateliês estavam fechados. Fiz alguns cursos online", lembra, antes de conhecer o CGB.

Lá, em junho de 2021, fez o curso de joalheria básica e já emendou com o de cravação. "Aí, não parei mais", diz ela, que também começou a fazer formações em outros estados. Começou a produzir e foi até chamada para uma semana de joalheria em Milão, na Itália, mas acabou não conseguindo ir pessoalmente.

A artesã de prata Debora Miscow criou a peça que está usando
A artesã de prata Debora Miscow criou a peça que está usando Crédito: Acervo pessoal

As vendas oscilam, já que ela trabalha de forma artesanal e com encomendas. Mas, até maio, quando mantinha a produção regular, tinha um faturamento médio de R$ 4 a 5 mil. "Entrei em uma joalheria afamada no Rio com meu anel flor e a gerente olhou meu dedo. Falou ‘que anel bonito’. Me deu um baita orgulho dizer que era meu. Outra amiga foi parada na rua, na Suíça, por alguém que queria saber de onde era o anel. Na hora que meti a mão na massa, eu vi que queria trabalhar com isso. Virou a minha profissão. Hoje, já me apresento como artesã de prata", conta Débora.

CONFIRA OS PRÓXIMOS CURSOS DO CENTRO GEMOLÓGICO DA BAHIA (CGB)

  • Oficina de Preparo de Ligas e Laminação de Metais

Data entre 27 e 31 de janeiro

  • Oficina de Lapidação Brilhante

Data entre 10 e 15 de fevereiro

  • Preços

Os valores dos cursos são divulgados pelo órgão sob consulta, já que dependem de cada módulo. O CGB não anuncia os valores antes do contato inicial, mas os preços são considerados, em média, um quinto do valor do mercado.